Uso do repelente angolano ‘encalha’ no Ministério da Saúde

Uso do repelente angolano ‘encalha’ no Ministério da Saúde

Numa altura em que a província da Lunda-Norte está a ser assolada por um surto de malária, uma doença provocada pela picada do mosquito, um grupo de investigadores angolanos aguarda há cerca de um ano por resposta a um pedido de acreditação de um repelente, da parte do sector da Saúde, apesar de já ter recebido o parecer favorável dos ministérios da Indústria e do Ambiente.

POR: Milton Manaça

O primeiro repelente de produção nacional, que foi apresentado em Março do corrente ano, continua dependente do aval do Ministério da Saúde para produção em grande escala e poder ser usado no combate a doenças provocadas pela picada do mosquito.

Segundo a investigadora Fernanda Samuel, depois da sua equipa ter respondido a todas as solicitações da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), para a qual foi remetido o produto para testagem, documento de investigação e um pedido de acreditação em Janeiro, até agora não receberam nenhuma informação sobre se foram dados passos para a legalização do produto.

O repelente, feito a partir da extracção de óleos de plantas e sementes descobertas em várias regiões do país, já foi acreditado pelo Ministério da Indústria e pelo do Ambiente, que coordenou as investigações. Perante o surto de malária que assola a província da Lunda- Norte, os promotores dizem-se indignados e declaram que o produto ajudaria a salvar muitas vidas no país. “Sentimo-nos desmotivados porque esperávamos que nestes 11 meses nos fosse dito alguma coisa, caso houvesse alguma anomalia. Diz-se que não há investigação no país e estamos tristes com o silêncio sobre a nossa criação, vendo pessoas a morrer”, referiu Fernanda Samuel.

Papel das universidades

Pela Universidade Jean Piaget, que apoia o projecto com a cedência dos seus laboratórios, falou o decano da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Tana Kanda, que começou por dizer que se sente indignado quando observa mortes por malária quando foram levados a cabo projectos que podem contribuir para a prevenção. O professor Tana Kanda, que orientou a investigação, disse que a situação do Leste do país devia merecer uma reflexão profunda das autoridades com o envolvimento das universidades e pesquisadores da área.

Salientou que o surto de malária e febre-amarela que o país registou no ano passado devia servir de exemplo para que não repetissem os mesmos erros e, nesse caso, a culpa morreu solteira, acrescentando que o novo produto oferece inúmeras vantagens, por possuir um princípio activo em 82% natural, ecológico e biodegradável.

“Não podemos esperar que a solução de qualquer problema do nosso país venha sempre de fora. Por que que estamos a estudar? Por que razão as universidades estão a ensinar? Não é para resolver os problemas do nosso país”? questionou Tana Kanda, acrescentando que o que vem do estrangeiro tem merecido sempre mais aceitação.

Vender patente a outros países

Diante da situação, os investigadores não descartam a possibilidade de vender a patente e revelaram que alguns países africanos já mostraram interesse no produto. Importa frisar que a partir das mesmas matérias-primas os investigadores começaram já a produzir um sabão repelente.