Crônicas ao acaso: Rua 15 de Agosto

Crônicas ao acaso: Rua 15 de Agosto

Embora nascido na Kitota, Crescido na Maxinde, na Rua 15 de Agosto, em Malanje passei grande parte dos bons e dos maus momentos da minha vida. Era uma rua diferente, bonita, alegre, de boa gente, com bons hábitos e bons costumes.

POR: João Rosa Santos

Nos anos 74/75, em vésperas da independência nacional, escolhemos esta Rua para fazer morada. A casa tinha pinta, o lugar era pitoresco e valia a pena um novo começo por aquelas bandas. Naquele então, eramos uma família feliz. O meu Pai fazia de tudo um pouco, era um homem de múltiplos ofícios. E eu gostava de acompanhá-lo, sentia-me protegido pela sua confiança, com ele aprendi a ser homem.

Na Rua 15 de Agosto, todos se conheciam, partilhavam ideais, tudo era família. Avô aqui, tio ali, primo acolá, era assim que a gente vivia o dia-a-dia num clima de singular e exuberante felicidade. Foi lá onde aprendi a namorar, a primeira mulher beijei, senti o desejo do prazer, fiz e consolidei amizades puras e sinceras, vivi e vibrei com intensidade a força da adolescência, com a curiosidade e a expectativa de um jovem com pressa de crescer.

Na Rua 15 éramos iguais a nós mesmos, humildes, solidários, bem-educados moral e civicamente, exaltando amor ao próximo sem fingir, nem agir por interesses camuflados. Nas ruas, nas cantinas, nas mutambas, sabíamos quem éramos, falávamos abertamente de tudo um pouco, olhávamos ao redor sem desconfiança, sonhávamos acordados, convictos de que algum dia o rumo de cada um bem poderia ser outro.

Esta rua fascinava-me. A sua mística continua viva, os seus segredos guardados a sete chaves, as lembranças sempre presentes, as recordações bem acesas que até entusiasmam. A Rua 15 não somente foi alegria. Com tristeza e amargura guardo na mente o momento em que por circunstâncias da vida a minha rua do coração ficou para trás. Foi doloroso, custou bastante, mas não havia como continuar por aquelas paragens.

O meu pai, a minha mãe, deixaram de gostar de viver na nossa casa e partimos para outra. Até hoje sinto saudades da minha rua, dos meus amigos, da minha família, da minha casa. Não sou capaz de imaginar o meu mundo sem a minha Rua 15, da qual continuo a guardar gratas e ingratas recordações.