Falta de estradas asfaltadas trava evolução do Mussende

Falta de estradas asfaltadas trava evolução do Mussende

Vários moradores entrevistados pela reportagem de OPAÍS solicitaram que fossem intervencionadas as estradas há muitos anos sem reparação. Trata-se dos últimos 28 quilómetros sem asfalto, entre Quibala e Mussende, mais concretamente a partir da localidade de São Lucas.

POR: Maria Teixeira
enviada ao Mussende

A falta de estradas no Município do Mussende, província do Cuanza- Sul, tem limitado os projectos de alguns munícipes dessa localidade. O município de Mussende continua com um número reduzido de Pequenas e Médias Empresas (PME) com certificação de qualidade, instrumento que lhes permitiria prestar serviços de qualidade aos clientes. O professor Edmilson António, reafirmou que o grande problemas do município é a falta de estradas em condições.

“O Mussende é um município quase “virgem” com inúmeras vantagens, mas também desvantagens. Se, por um lado, temos vantagens, porque existem condições para produzir de tudo um pouco, por outro lado encontramos algumas desvantagens, porque temos áreas em que, devido à dificuldade de acesso, a população não beneficia dos serviços do governo”, lamentou o jovem professor. O professor lembrou que o município produz hortícolas e tubérculos, mas existem muitas dificuldades para o escoamento dos produtos devido às vias de acesso.

“Mussende é, sem dúvida, um município abençoado sob o ponto de vista de disponibilidade de rios, lagos, lagoas e condições climatéricas favoráveis para a prática da agricultura”, disse. Segundo os moradores, muitas vezes as chuvas causaram danos às estradas vicinais e alagaram lavouras no pico da colheita, deixando os agricultores desolados e preocupados com a falta de dinheiro para acções emergenciais e diante das dificuldades que ainda deverão advir, uma vez que os prejuízos são grandes na agricultura. Também agastado com a situação está o professor e caixilhador, Carlos Jaime, que admitiu as dificuldades no uso das vias de acesso ao Mussende para o interior da circunscrição, que têm impossibilitado algumas comunas beneficiarem dos programas sociais do governo.

Levantar salários em municípios vizinhos

A maioria dos funcionários públicos revelou a OPAÍS que para acederem aos seus salários têm de viajar de Mussende para os municípios vizinhos como Quibala e Kangandala, este último pertencente à província de Malanje. Inicialmente a opção da maior parte dos necessitados era a vila de Kangadala, mas devido ao agravamento das condições das vias, muitos preferem chegar à Quibala. O professor Carlos Jaime explicou que tem sido difícil viver no Mussende por causa das inúmeras dificuldades. “Somos todos funcionários do Estado e recebemos salários no BPC, mas não temos nenhuma dependência deste banco no município, isso tudo por causa das vias de acesso.

Para piorar o multicaixa do único banco quase nunca tem dinheiro e quando tem as pessoas enfrentam longas filas, e às vezes só seis ou dez pessoas conseguem dinheiro”, lamentou. Acrescentou que mesmo a ida a Malanje ou à Quibala tem outras incidências. “Às vezes temos que dormir nos municípios vizinhos, porque as viagens duram mais de cinco a seis horas”, contou. Vários moradores entrevistados pela nossa reportagem pediram a intervenção imediata na estrada que há muitos anos está sem reparação. ‘’Nós não estamos a pedir muita coisa, o que queremos é só que asfaltem a parte dos 28 quilómetros que está parada há muito tempo na via que dá para Malanje, porque isso vai ajudar muita gente a fazer negócio neste município e colocarem uma dependência do BPC.

Nem o brilho dos diamantes ajuda

Uma outra moradora, que sempre viveu naquele município, disse não entender o tipo de trabalho que as autoridades competentes têm feito. “Não se acredita o que se passa aqui, porque o Mussende devia estar melhor do que muitos municípios do Cuanza-Sul, uma vez que temos uma área que sai diamante e está a ser pouco explorada, sendo que muitos nem sabem da sua existência”, disse a nossa fonte que falou sob anonimato. Já o jovem Francisco António, morador da área desde tenra idade, conta que o Mussende como tal ‘’não tem nada de bom, por causa das chuvas, as vias estão péssimas e acaba por afugentar as pessoas”.

O jovem é de opinião que o governador provincial devia visitar mais esse município que parece esquecido e que muitas pessoas desconhecem a sua existência. “Têm de facilitar as transacções financeiras e a vida dos funcionários públicos”, disse, sublinhando a necessidade urgente de se instalarem mais agências bancárias, mormente do BPC. Noutra vertente, defendeu a criação no município de uma classe empresarial forte, que possa investir nos mais variados sectores, para gerar empregos e disponibilizar bens e serviços às populações, mas para isso primeiro devem olhar para as vias de acesso que afugenta as pessoas interessadas em investir na localidade. Para o jovem, o restauro de zonas turísticas deve ser acompanhado da construção de infra-estruturas hoteleiras para acolher os turistas nacionais e estrangeiros que se deslocarem ao município, porque “a única coisa que o município tem de bom é o palácio onde vive o administrador”, desabafou a fonte.

Vivemos em condições péssimas

O soba Razão Domingos Tomás, que vive no bairro de Kacolo, no quilómetro 40, corrobora a opinião dos outros entrevistados e reiterou que vivem em condições péssimas, tudo isso por causa das estradas. “Vale a pena o caminho que dá para chegar à lavra e não sei o que o governo pensa em relação ao nosso município. O bom da nossa municipalidade são as escolas e garanto que 90% das nossas crianças e jovens frequentam as mesmas. Mas não temos medicamentos e as doenças, e mortes têm aumentado. Queremos que o governo olhe até onde vive o último camponês e não apenas nas cidades, nos municípios”, suplicou.

Acrescentou que com a nova governação “queremos a reabilitação das nossas estradas, mais professores, empregos para os jovens, para diminuir o número de bandidos que aumentou por falta de emprego, queremos enxadas para os camponeses e sementes para cultivarmos as nossas terras”. Os munícipes do Mussende dedicam- se ao cultivo do milho, feijão, repolho, batata-doce e rena, mandioca e café. Também dedicam-se à criação de gado caprino, suíno, galinhas, entre outros. Com uma superfície de 9.556 quilómetros quadrados, o município de Mussende é um dos 12 municípios que compõem a província do Cuanza-Sul. Ascendeu à categoria de município em 13 de Dezembro de 1965. É ligado por uma via até ao município da Quibala e outra até à província de Malange e tem uma população estimada em 76.284 habitantes, distribuídos pelas comunas sede, São Lucas e Quienha.