Mais de 300 trabalhadores da SOPIR sem salários há 33 meses

Mais de 300 trabalhadores da SOPIR sem salários há 33 meses

Para além da SOPIR, os funcionários das empresas Mecanagro e a SODEPAC também estão há dois anos sem salários. O ministro da Agricultura e Florestas, Marcos Nhunga, declarou a OPAÍS que está a ser feita uma avaliação realista da situação, no sentido de resolvê-la

Por: Stela Cambamba

Mais de 300 trabalhadores da empresa pública Sociedade de Desenvolvimento de Perímetros Irrigados (SOPIR), espalhados por diversas provinciais, paralisaram as suas actividades por estarem há 33 meses sem salários. Esta empresa tem sob a sua alçada sete dos diversos perímetros irrigados do país, cuja reabilitação de infra-estruturas decorreram de 2001 a 2014 e custaram cerca de 140 milhões de dólares aos cofres do Estado.

Em Luanda, a equipa de reportagem de OPAÍS deslocou-se, na manhã de Segunda-feira, à sede da empresa, onde constatou a presença de menos de dez dos 58 trabalhadores ai destacados. Contaram que estão sem salários desde Dezembro de 2015 e, por falta de verbas, foram dispensados 17 funcionários.

De acordo com um deles, que optou por não se identificar com medo de sofrer represálias, contrariamente aos seus colegas que estão no interior do país, os destacados na sede têm “apenas” 21 meses de ordenados em atraso. “Se contarmos também com os subsídios de férias e de Natal a dívida torna-se maior”, disse.

Contou que, por esta razão, foram orientados pela direcção da empresa a se deslocarem pelo menos três vezes por semana aos seus postos de trabalho. Mas, alegadamente por falta de dinheiro para custear a passagem, muitos não cumprem a orientação.

Já a sua colega, que acompanhava a conversa, explicou que a previsão é que esse horário extraordinário funcione até que a situação salarial esteja estabilizada. “Aqueles que têm possibilidade financeira aparecem, os que não têm ficam em casa. Os meus filhos só dependem de mim.

Quando recebo a ajuda de um dos meus parentes tenho de decidir se compro comida ou pago a passagem de casa para o trabalho”, delarou.

Afirmou que por força dessa situação, viu-se obrigada a transferir os seus filhos do colégio em que estudavam para a escola pública. “Alguns familiares já não me atendem o telefone. Estou numa situação muito difícil”, lamentou. Contou que não existe previsão sobre quando estas dificuldades serão ultrapassadas.

Na semana passada, alguns técnicos do Ministro da Agricultura estiveram no edifício da SOPIR, limitaram-se a proceder à entrega de uma das salas a uma empresa, mas não prestaram informações sobre quando preveem pagar os ordenados. Entre os que mais aparecem na sede, segundo um funcionário, estão dois membros do Conselho de Administração da referida empresa.

Os 336 funcionários espalhados pelos sete perímetros foram os primeiros a abandonarem os seus postos de trabalho por estarem há 33 meses sem ordenado. Em consequência, apesar de alguns estarem a funcionar com dificuldades, outros estão a ser vandalizadas, como é o caso do perímetro do Waco- Kungo. A SOPIR gere os perímetros irrigados Caxito Rega, Sogangelas, Missombo, Waco-Kungo, Mucoso, Sodemat e Luena Rega, para além de alguns núcleos.

Segundo apurou OPAÍS, O problema actual que a SOPIR enfrenta deve-se à falta de pagamento da verba prevista pelo Instituto do Sector Público Empresarial (ISEP), responsável por garantir o seu orçamento. Solicitado a se pronunciar-se sobre o assunto, um dos gestores da empresa, que também optou pelo anonimato, disse apenas que o assunto já está a ser tratado no Ministério da Agricultura.

 

 “Executivo está a envidar esforços para saldar a dívida”

Questionado sobre o assunto, o ministro da Agricultura e Florestas, Marcos Alexandre Nhunga, afirmou que tem conhecimento de que os funcionários da SOPIR estão há dois anos sem salários.

Segundo o ministro, estão na mesma situação os trabalhadores das empresas Mecanagro e a Sodepac, e está a ser feita uma avaliação realista da situação, no sentido de resolvê-la. “Temos conhecimento da situação. Já nos reunimos com os presidentes dos conselhos administrativos das referidas empresas, por via dos quais fomos informados sobre o quadro actual”, frisou.

Acrescentou que por agora “estamos a trabalhar no sentido de encontrar uma solução para o pagamento destes salários”. O governante disse ao OPAÍS que este constrangimento aconteceu porque as empresas não são sustentáveis, razão por que defende a necessidade de se encontrar uma saída de modo a que situação não volte a repetir-se.

Tendo em conta a actual situação de crise que o país vive, declarou que não interessa ao Estado ter empresas insustentáveis, pois se pode resolver o problema e dentro de algum tempo volta-se a registar a mesmo constrangimento.

Marcos Nhunga considera que a solução passa por encontrar estratégias eficientes para garantir que os trabalhadores continuem na segurança social. De acordo com o ministro da Agricultura, as empresas foram criadas para um determinado fim e ao longo do tempo foram acumulando outros objectos, muitos dos quais sem estarem definidos, originando o aumentado consideravelmente de trabalhadores.