Religiosos e políticos exaltam os benefícios da Paz

Religiosos e políticos exaltam os benefícios da Paz

Dezasseis anos são passados desde que o país alcançou a paz e, a propósito do acto central que a cidade de Malanje albergou, eclesiásticos e políticos teceram os seus pontos de vista acerca da proeza alcançada e sobre os desafios a que se propõem

Texto de: Miguel José, em Malanje

O arcebispo da Arquidiocese de Malanje, Dom Bendito Roberto, referiu, esta Quarta-feira, que nos 16 anos de paz, a maior exaltação consiste no esforço de fazer de Angola um país com uma personalidade própria e com esforço próprio para conquistar vitórias em vários âmbitos.

Interpelado à margem dos festejos centrais do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, o clérigo considera que, embora se esteja a comemorar 16 anos de paz, o ambiente podia ser melhor se os recursos fossem aplicados de forma racional.

Seria tudo muito diferente do que se está a celebrar agora, mas o que vale é, acima de tudo, preservá- la na reconciliação, na unidade nacional e no empenho pelo desenvolvimento do país. “A paz consiste em amarmo-nos como angolanos e que nada nos possa separar”, exaltou.

O bispo da Igreja Metodista Unida José Kipungo considerou que a paz conquistada com suor sangue e lágrimas e a paz que o Senhor quer que se estabeleça no meio seio dos angolanos consiste no perdão, na reconciliação, na unidade e naquilo que se precisa fazer para o melhoramento da vida das pessoas e, em termos gerais, do país.

De qualquer forma, segundo o clérigo, tudo o que se puder fazer será pouco para a grande dimensão, especificamente, para o que a paz angolana representa na vida do povo, daqueles que partiram e desta nova geração de jovens que está a crescer. “Viver na paz e seguir a paz significa fazer germinar esta semente que tem de brotar alegria e fraternidade no seio de todos nós. Que esta paz seja duradoura por ser a vontade de Deus ”, frisou.

Para o pastor da Igreja Adventista do 7º Dia Bondoso Afonso, o 4 de Abril é uma data histórica que não se pode deixar passar de ânimo leve, já que a cada ano renova a oportunidade para se fazer uma introspecção profunda, inteligente e sábia sobre o passado e o presente, bem como definir a rota que se pretende caminhar. “O 4 de Abril é para todos os angolanos um marco histórico privilegiado para se avaliar, com profundidade, de onde saímos, onde estamos e para aonde vamos”, realçou.

“Viver na paz e fazer a paz”

A preservação da paz, no entender do bispo José Kipungo, subsiste em traduzir em a palavra de Deus que coloca uma tarefa para cumprir: “Viver na paz e fazer a paz”, justamente para fazer valer o espírito de tolerância.

Sustenta que pelo facto de os homens serem criados diferentes, o trabalho que Deus deu é semear a unidade na diferença, restabelecer a paz e reconciliar uns com os outros. “Isso exige um ditame expressamente importante, de fazer com que a nossa liberdade termina onde começa a de outrem.

Se nós nos respeitarmos mutuamente, independentemente das nossas condições sociais, as nossas categorias, poderemos fazer esta paz flutuar no nosso meio”, sublinhou o pastor.

Por sua vez o líder da Igreja Adventista do 7º dia em Malanje considerou que a preservação da paz em todas as latitudes precisa de ser dinamizada e consciencializar cada vez mais os cidadãos a se compenetrarem, enquanto filhos da mesma terra, no espírito da irmandade e unidade nacional.

“Tendo em consciência de onde saímos, há necessidade de consciencializar as novas gerações ”, acautelou.

Paz social

Transcorridos 16 anos desde que a paz definitiva chegou ao país, os seus benefícios concretos directos ou indirectos nem sempre convergem ao olhar de cada um, sobretudo no âmbito daquilo são os interesses individuais ou colectivos (objectivos ou subjectivos).

Assim sendo, se o calar das armas para todos é consensual, para muitos a condição social é um elemento desafiador da paz, como é o caso de um ex-deputado da UNITA, o general Correia Victor, que defendeu que a comemoração dos 16 anos de paz não deve apenas se repercutir no calar das armas, mas servir para a reflexão, no sentido de promover a paz social, onde todos vivam bem e tenham oportunidades iguais.

“Temos, de facto, uma paz que julgo definitiva. Isto ninguém refuta. Mas faltanos a paz social. Quanto a isso, ainda temos muito caminho a percorrer”, apontou. Segundo o secretário-geral do Partido de Renovação Social (PRS), Rui Malopa: “A paz social deve significar a prosperidade e estabilidade do país”.

Para o político, embora a paz tenha trazido benefícios à toda a sociedade, acha que há muitas coisas pela frente, quer no âmbito social, político e económico, para que todos os angolanos de Cabinda ao Cunene se integrem e se reverjam nas acções do Estado. Porém, criticou o facto de se ostentar uma bandeira diferente do partido que governa afastar a possibilidade de chegar a algum posto de destaque nas instituições do Estado.

Escândalo em torno do governador

Esta Quarta-feira, enquanto decorria o acto central de celebração do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, no interior do pavilhão desportivo Palanca Negra Gigante, no Sul da cidade de Malanje, um grupo de jovens, no lado de fora, levantava vozes de protesto contra o governador Norberto dos Santos “Kwata-Kanawa”, supostamente por não se reverem no seu perfil de governação.

Em virtude desse alvoroço, os agentes da Polícia, agiram de imediato para afastá-los do local adjacente ao pavilhão, porém, ainda assim, os jovens inconformados se concentraram numa distância de cerca de 500 metros do local do evento, ao longo da estrada e barraram-na com a carcaça de uma viatura, o que forçou mais uma vez os polícias a intervir.

No entanto os jovens mais irritado ficaram, arremessando pedras e gritos como “Kwata Kanawa, fora! Não te queremos mais! Senhor vice-presidente, leva o seu gatuno”! Enquanto decorria o acto no interior do pavilhão, em presença do vice-presidente, os jovens manifestaram-se contra a secretária do Conselho da Juventude (CPJ) quando proferia a mensagem da juventude e a dado passo mencionou que os jovens de Malanje estavam organizados em harmonia com o CPJ. Sendo que os jovens não se contiveram e de imediato contestaram.

Na verdade, por alguns segundos, o espaço foi invadido por um alvoroço ensurdecedor!