Morte de sindicalista levanta suspeitas de homicídio

Morte de sindicalista levanta suspeitas de homicídio

O secretário provincial do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF) em Benguela, Armindo Kambelele, perdeu a vida na última Sexta-feira, 06, em sua casa, faltando três dias para o início de mais uma greve nacional dos professores. Vozes levantam-se dando conta de que o que parece suicídio terá sido um homicído. A Polícia investiga o caso

Texto de: Constantino Eduardo e Zuleide Carvalho, em Benguela

O malogrado, de 57 anos, foi encontrado pelos familiares num dos compartimentos de sua residência, na rua João Belo, com a corda à volta do pescoço. Até ao momento, os familiares desconhecem as razões que o terão levado a cometer o suposto suicídio.
De acordo com uma de suas filhas, que não quis ser identificada, a família está espantada e sem saber, ao certo, o que terá motivado o seu pai a optar por esta via de resolução de problemas.

Descreve o pai como uma pessoa muito serena e que, em condições normais, jamais tomaria tal decisão. “Se é por causa dos trabalhos do sindicato que fazia ou não, não sabemos. Ele andou incomodado (doente), mas ainda ontem (dia 5) estivemos juntos. Nós, as filhas, estamos sempre aqui, até porque a minha irmã vive aqui ao lado. Estamos bastante sentidos (tristes) com a sua morte”, disse.

Pede-se que o SIC continue a investigar o caso, já que os sindicalistas, sentidos pelo sucedido, levantaram uma série de interrogações em torno do caso. Entre as interrogações está, segundo um membro do sindicato, que também preferiu não ser identificado, a especulação que, talvez, tenha sofrido uma pressão resultante do anúncio da greve dos professores, marcada para Segunda-feira, 9.

Sob anonimato, o sindicalista revela que, apesar de a classe estar abalada pelo infausto acontecimento, a greve, por ser de âmbito nacional, deverá sair mesmo no dia marcado, e os filiados estão mobilizados para a acção, que visa pressionar a entidade patronal a responder às preocupações que constam do caderno reivindicativo.

“Nós, embora não queiramos especular, não conseguimos entender o que teria levado o nosso secretário a cometer tal acção. É muito estranho que tenha acontecido justamente a poucos dias da greve”, refere, acrescentando que, a se confirmar a alegada pressão, “tratou-se de um golpe muito baixo”, disse, à reportagem de O País, na casa do malogrado.

Polícia investiga

Após a remoção do cadáver para a morgue do Hospital Geral de Benguela, o Serviço de Investigação Criminal confirmou estarem a ser recolhidos dados e promete pronunciamento sobre os resultados nos próximos dias. Pronunciando-se sobre o caso, o porta-voz provincial da Polícia Nacional, Pinto Caimbambo, fez saber que foi aberta uma investigação, para que sejam averiguados os factos da ocorrência.

Por agora, sabe-se apenas que foi suicídio.“Foi encontrado prostrado no solo, no pavimento, já em estado cadavérico, no interior de um dos compartimentos da sua residência.

As circunstâncias terão sido suicídio por enforcamento”, declarou o porta-voz policial. Quanto à existência de ligação entre a greve e a altura em que o suicídio sucedeu, ou se o cidadão estava sob ameaça por causa disso, a polícia não sabe, pelo que aguarda os resultados do inquérito.

SINPROF lamenta mas descarta a greve
Ouvido pelo jornal OPAíS, ontem, o responsável máximo do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Guilherme Silva, lamentou profundamente a morte de Armindo Kambelele, que vinha conduzindo o processo reivindicativo dos professores naquela circunscrição.

O SINPROF não sabe também quais foram as razões que terão levado aquele sindicalista a tomar aquela decisão, “não temos outras questões a avançar e deixamos que as autoridades competentes investiguem”. Em nome da direcção do SINPROF endereça os sentimentos de pesar à família.

“Estamos em contacto com os colegas de Benguela, bem como com a família, e sabemos que o Dr. Armindo Kambelele é natural do Uíge e o seu corpo será transladado para esta província. No Uíge, o nosso colega secretário vai-nos representar nas exéquias fúnebres”, avançou. Guilherme Silva garante que será honrada a memória de Armindo, com a efectivação da greve, a partir de Segunda-feira, de Cabinda a Cunene, para reclamarem as condições salarias e de trabalho.

“A sua morte vem reforçar ainda mais a nossa determinação de continuarmos a luta”, enfatizou. Professores ameaçados Por outro lado, Guilherme Silva chama aa tenção às direcções da educação no sentido de se cumprir a Lei da Greve, pois regista-se que nalguns pontos os professores estão a ser intimidados.

“Queremos alertar estas entidades que aqueles que ameaçarem os professores serão responsabilizados criminalmente. A todosos os professores desejo muita coragem, que tudo vai dar certo”, fez saber. O reparo do manda-chuva do SINPROF aparece também pelo facto de estar a circular nas redes sociais, principalmente na plataforma WhatsApp, um áudio de autoria da directora do gabinete jurídico do Ministério da Educação, ameaçando os professores que aderirem à greve, com processos disciplinares, alegando que a greve é ilegal.

O SINPROF refuta, dizendo que aquela responsável não tem competência para considerar (i)legal uma greve, pelo que é trabalho do tribunal de acordo com a Lei da Greve. No entanto, as ameaças da directora jurídica do MED demostram que “desconhece a Lei, ao mesmo tempo que este acto representa uma coacção o que nos termos da referida Lei é punível, pelo que, oportunamente iremos accionar a Lei e os órgãos competentes”, reforça.

“Apelamos aos professores para não se deixarem intimidar, pois a greve é legal. De igual modo, apelamos os directores provinciais da educação que cumpram rigorosamente a Lei sob pena de responsabilização criminal. Professores, sob orientação dos nossos advogados, qualquer tipo de coacção a respeito deste áudio, informem o Sindicato, no sentido de serem accionados todos os mecanismos legais”, defende Guilherme Silva.