Síria, o ponto quente da nova guerra fria

Síria, o ponto quente da nova guerra fria

EUA , Reino Unido e França lançaram na madrugada de Sábado um ataque de mísseis à Síria, que durou cerca de 70 minutos, e “teve como alvos fábricas e paióis de armas químicas” do Governo de Bashar al- Assad.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ao início da madrugada deste Sábado (hora de Luanda) ter ordenado ataques com mísseis contra alvos na Síria, em resposta aos alegados ataques com armas químicas realizados pelo regime de Bashar al-Assad no passado fim de semana. Numa operação encabeçada pelos norte-americanos, participaram também o Reino Unido e a França. A Rússia reagiu, com Anatoly Antonov, embaixador da Rússia nos EUA, a dizer; “Estamos a ser mais uma vez ameaçados. Avisámos que estas acções não ficarão sem consequências”. Também Vladimir Putin já falou sobre o ataque, em comunicado, falando em “acto de agressão contra um Estado soberano”.

Putin apela a uma reunião extraordinária na ONU

© Sputnik / Aleksei Nikolsky Neste Sábado (14), o Presidente russo, Vladimir Putin, fez uma declaração na sequência do ataque de mísseis contra a Síria pela coligação EUA, Reino Unido e França e comunicou que Moscovo pediu uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU. “A actual escalada em torno da Síria afecta de modo destrutivo todo o sistema de relações internacionais. A história vai decidir tudo, ela já colocou sobre Washington a responsabilidade pela repressão sangrenta na Jugoslávia, no Iraque, na Líbia”, disse Putin num comunicado divulgado pela assessoria de imprensa do Kremlin. “A Rússia convoca uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para discutir as acções agressivas dos EUA e seus aliados”, informou o da força nas relações internacionais” Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês considera que o ataque conjunto dos EUA, França e Reino Unido contra a Síria viola a Carta das Nações Unidas e complica as negociações de uma solução para o conflito.

“Qualquer acção militar unilateral sem o aval do Conselho de Segurança viola os princípios e normas básicas do direito internacional”, afirmou em comunicado uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying. Este ataque “também acrescenta factores novos e complicados para a solução da questão síria”, acrescentou a porta-voz. “Nós opomo-nos ao uso da força nas relações internacionais e apoiamos o respeito pela soberania, a independência e a integridade territorial de todos os países”, disse. A China “apela a todas as partes para que ajam no quadro do direito internacional e para que resolvam a crise através do diálogo e da negociação”, referiu a porta- voz. O Presidente dos EUA justificou o ataque como uma resposta à “acção monstruosa” realizada pelo regime de Damasco contra a oposição e prometeu que a operação irá durar “o tempo que for necessário”. Peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) tinham previsto iniciar ontem uma investigação sobre o alegado ataque com armas químicas. A missão recebeu um convite do Governo sírio, sob pressão da comunidade internacional. Mais de 40 pessoas teriam morrido e 500 ficado afectadas por armas químicas no ataque de 07 de Abril contra a cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental.

“Atingimos com sucesso cada alvo”

“Não tencionamos intervir no conflito na Síria, mas não podemos permitir tais violações das leis internacionais”, afirmou o Departamento de Defesa norte-americano. Os Estados Unidos afirmaram ontem terem “atingido com sucesso” todos os alvos sírios que estavam previstos na acção militar realizada por Washington, Paris e Londres. “Não tencionamos intervir no conflito na Síria, mas não podemos permitir tais violações das leis internacionais”, disse a porta- voz do Departamento de Defesa norte-americano (Pentágono), Dana White, numa conferência de imprensa. “Atingimos com sucesso cada alvo”, acrescentou a porta-voz. Na mesma conferência de imprensa, um alto responsável do Pentágono, o general Kenneth McKenzie, referiu que os ataques ocidentais representaram um grande golpe para o programa de armas químicas da Síria e que “levará anos para recuperar”. As unidades de defesa anti-aéreas russas, um dos principais aliados de Damasco, não foram activadas e as do regime sírio só foram após o fim dos ataques, acrescentou o general McKenzie. O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se Sábado a partir das 15:00 TMG (16:00 em Luanda) para analisar o ataque conjunto dos Estados Unidos, Reino Unido e França contra alvos na Síria.

Ameaça com nova intervenção militar

“Haverá uma nova intervenção” militar em caso de novos ataques químicos, afirma o ministro francês dos Negócios Estrangeiros. O ministro francês dos Negócios Estrangeiros disse que os ataques realizados na Síria destruíram “boa parte do arsenal químico” do regime de Bashar Al-Assad. As declarações de Jean- Yves Le Drian foram feitas ao canal televisivo BFMTV. “Muito foi destruído pelos ataques desta noite”, vincou. O governante disse ainda que Paris tem “informações fiáveis” da implicação do regime sírio nos ataques químicos de 7 de Abril e garantiu que haverá uma nova “intervenção” militar em caso de novo ataque químico. Le Drian considerou também que a visita do Presidente francês, Emmanuel Macron, à Rússia “não está posta em causa” por estes ataques.

Defesa antiaérea interceptou 71 mísseis aliados, diz a Rússia

Isto testemunha a grande eficácia destes sistemas [antiaéreos] e a excelente formação do pessoal militar sírio formado pelos nossos especialistas”, declarou o general russo Serguei Rudskoi O exército russo afirmou este Sábado que a defesa anti-aérea síria conseguiu interceptar 71 dos 103 mísseis de cruzeiro lançados contra as instalações do Governo de Damasco pelos Estados Unidos e aliados. “Isto testemunha a grande eficácia destes sistemas [anti-aéreos] e a excelente formação do pessoal militar sírio formado pelos nossos especialistas”, declarou o general russo Serguei Rudskoi, em conferência de imprensa.

O general Rudskoi confirmou que os bombardeamentos dos Estados Unidos e aliados não causaram “qualquer vítima” civil ou militar. “De acordo com informações preliminares, não se registou qualquer vítima entre a população civil ou entre as forças armadas sírias”, declarou. De acordo com as forças armadas russas, um total de 103 mísseis de cruzeiro foram disparados pelos Estados Unidos, França e Reino Unido, incluindo mísseis Tomahawk, e 71 foram interceptados pela defesa antiaérea síria, equipada com sistemas de concepção soviética. O exército sírio possui sistemas S-125, S-200, Bouk, Kvadrat e Ossa. “Em ano e meio, a Rússia restabeleceu totalmente os sistemas de defesa antiaérea da Síria e continua a fazer melhorias”, acrescentou o general russo. Tendo em conta os ataques ocidentais, Moscovo está já a estudar a possibilidade de fornecer sistemas antiaéreos modernos S-300 à Síria e a outros países, indicou. Já o porta-voz do Comando Geral do exército sírio, Ali Maihub, indicou que os Estados Unidos, a França e o Reino Unido lançaram um total de 110 mísseis e garantiu que as forças de defesa antiaérea destruíram “a maioria” dessas armas.

“A agressão tripartida foi perpetrada às 03:55 locais (02:55 em Luanda) contra objectivos sírios em Damasco e fora” da capital síria, afirmou. A mesma fonte acrescentou que outros mísseis não foram interceptados e atingiram um centro de investigação, no qual se encontra um laboratório científico e um centro educativo, só tendo sido registados danos materiais. De acordo com o exército russo, os aeródromos das forças sírias não registaram danos significativos na sequência dos ataques ocidentais, mas as “instalações alegadamente ligadas ao dito programa químico de Damasco foram parcialmente destruídas”. Estes edifícios “não são usados há muito tempo e não estava nada no interior, nem pessoal, nem material”, precisou Rudskoi. “Consideramos que estes bombardeamentos não são uma resposta a um imaginário ataque químico, mas uma reacção ao êxito das forças sírias na libertação do seu território do terrorismo internacional”, disse.