Diplomacia científica

Diplomacia científica

Uma das mais seguras vias que Angola tem para se desenvolver social e economicamente, é promover também o conhecimento científico, que lhe permita ter capacidade própria para a resolução dos vários problemas que afectam o País. Por razões económicas que têm afectado o País, o ensino superior ainda não conseguiu firmar-se como base segura para garantir esse desiderato, pelo que tem de continuar a recorrer a docentes não nacionais, para formar com qualidade os seus próprios quadros.

POR: João Serôdio de Almeida e  Luís Ceríaco

Durante os séculos em que o território nacional foi ocupado por Portugal, foram realizadas várias missões de exploração científica promovidas pela então potência colonial, bem como por outros países, mais que não fosse para cumprir com a missão, então aceite como lógica, de melhor explorar a colónia. Dessas missões e expedições resultaram as bases do actual conhecimento geográfico e natural do espaço nacional. Cabe-nos agora voltar a insistir na iniciativa de estabelecer com Portugal, e com todos os países que possuam dados e conhecimentos relevantes de e para Angola, aquilo a que poderemos chamar de DIPLOMACIA CIENTÍFICA, em paralelo com a diplomacia económica, cultural, desportiva, educacional e outras, que volta e meia surgem nos noticiários nacionais e internacionais. De forma a responder aos anseios da comunidade científica e académica nacional, seria importante que o Ministério das Relações Exteriores consultasse os seus homólogos dos países que estejam sensíveis para essa iniciativa, no sentido de estabelecer entre as nossas Universidades e os organismos de pesquisa científica interessados, acordos de colaboração e cooperação, por forma a serem trocados conhecimentos científicos em normas a estabelecer, que se acumularam nos seus Museus, Arquivos Históricos e Centros de Investigação Científica. Uma boa parte dos conhecimentos sociais, históricos, biológicos, geológicos, marinhos, agrários, etc., sobre Angola, encontram-se dispersos por várias instituições estrangeira. No caso de Portugal, estes estão depositados em várias instituições, tais como o Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, que recentemente incorporou as colecções do Instituto de Investigação Científica Tropical (riquíssimas em dados e colecções sobre Angola), nos arquivos da Torre do Tombo e na Sociedade de Geografia (ambas em Lisboa), e um pouco por todo Portugal, em vários Museus universitários (Porto e Coimbra) e de demais instituições. Embora, por natureza e estatuto, todas essas instituições acima referidas sejam instituições abertas a todo e qualquer interessado em estudar, visitar ou consultar os seus acervos, existe uma necessidade óbvia de que essa informação seja disseminada e disponibilizada para a comunidade científica e muito em particular para os seus principais visados – as ex-colónias portuguesas- de modo mais eficaz. É um facto que a comunidade científica e académica Angolana têm utilizado e consultado estes importantes arquivos nas suas várias atividades de investigação e formação académica, existindo já algumas colaborações em curso. No entanto essas consultas têm sido feitas na maioria das vezes de forma pontual, esporádica e a título pessoal. Não desvalorizando os resultados notáveis que muitas dessas colaborações e visitas têm granjeado, esta atual falta de estratégia concertada entre os dois países, representa uma clara sub-valorização do enorme potencial que esses acervos representam para Angola como para a ciência mundial. Este desaproveitamento do património científico não se limita no entanto, aos acervos depositados no estrangeiro. A Faculdade de Ciências da UAN e também muitas das outras Faculdades, têm nos seus arquivos e depósitos, muitos espécimes e instrumentos científicos, utilizados ao longo dos últimos cinquenta anos nos seus processos de pesquisa e educativos e que hoje estão erradamente considerados obsoletos, ocupando espaços necessários para outras actividades, ou esquecidos em armazéns, sem qualquer condição de manutenção. Ora todos eles são pedaços da história das ciências, que devem ser preservados para serem mostrados aos iniciados. Os novos instrumentos científicos não são mais do que a evolução dos que estão agora desativados e os antigos espécimes de história natural e herbários são a base do actual conhecimento sobre a biodiversidade. Em ambos os casos, são peças histórico-científicas, cujo conhecimento não pode ser esquecido. É também aqui que a Diplomacia Científica pode desempenhar um papel fundamental para contextualizar, valorizar e promover estas colecções, colocando-as à disposição da comunidade científica e académica. Por muito que se pretenda insinuar que a língua de comunicação não tem maior importância na transmissão de conhecimentos, grande parte do nosso atraso angolano na obtenção desses conhecimentos, está na dificuldade que os nossos docentes e estudantes têm na utilização de outras línguas mais comuns como o inglês. A utilização do português sem mais dificuldades de adaptação, quase que nos obriga a procurar o saber onde se fala essa língua, seja frequentando esses países seja contratando os seus docentes. Apesar das muitas iniciativas quase sempre a nível institucional, será importante haver a adopção de políticas ao mais alto nível e a coberto de fontes seguras de financiamento, para garantir a continuidade de programas até ao seu término, o que não tem sido a prática.