Yuri Quixina: “Os países que querem se desenvolver devem ter uma visão de longo prazo”

Yuri Quixina: “Os países que querem se desenvolver devem ter uma visão de longo prazo”

O economista Yuri Quixina disse que o Plano de Desenvolvimento aprovado pelo Conselho de Ministros devia ser resultado de consulta pública. E felicitou o MPLA por ter manifestado a vontade de resolver o problema da bicefalia, apontado por investidores como um dos factores inibidores para investir em Angola. Estas e outras matérias foram analisadas nesta edição do Economia real

POR: Mariano Quissola / Rádio Mais

A produção do programa Economia Real felicita-o por constar da lista dos jovens mais influentes em 2017, ou simplesmente “geração de ouro”, promovido pelo Grupo Media Rumo, através do jornal Mercado. Foi uma surpresa, o jornal Mercado fez um trabalho interessante, procurou seleccionar, mediante critérios que definiu, um grupo de jovens que foram mais influentes em 2017 e fui seleccionado. Fico feliz por isso, mas é importante dizer que há muitos jovens que também são de ouro em Angola, e estão noutras províncias. É um mérito para todos os jovens e partilho essa alegria com todos.

Vamos à análise da semana. Pensa que a aprovação da candidatura de João Lourenço a presidente do MPLA vem responder ao desafio do risco político mencionado pelas consultoras Control Risks e a Mergermarket?

Seguramente. Recebemos a informação de que, em Setembro, o actual presidente do MPLA vai retirar-se definitivamente da liderança do partido. A comunidade internacional apontava que esses dois poderes podiam ter impacto nos investimentos. Se esse era o elemento fundamental, então está-se a reduzir cada vez mais as barreiras para o crescimento. Os empresários agora terão que se reinventar, tendo em conta a nova liderança do partido, na medida em que grande parte dos empresários tem militância no MPLA. Haverá também uma mudança de pensamento dos militantes, uma vez que vão debater mais. No meu entender, o partido está condenado a mudar e aprofundar a democracia.

Agrada-lhe a perspectiva do candidato indicado?

Os partidos têm estatuto e regem- se com base nisso. Se o estatuto define que a substituição é por indicação do vice-presidente, nesse contexto, não há nada a fazer.

Eleições voltam às universidades públicas, segundo orientação do Presidente da República. Que academia teremos?

Primeiro devo saudar e louvar a iniciativa do Presidente João Lourenço que, cada vez mais, quer aprofundar a democracia no país. As democracias começam nas universidades. A ditadura na universidade é a forma de aperfeiçoar a ditadura no país e era necessário eliminar esse elemento fundamental. Penso que o Presidente entendeu que se as universidade não tiverem liberdade, isso representará uma barreira para o próprio desenvolvimento.

Tem memória das consequências da falta de liberdade nas universidades
públicas?

Quando os professores e reitores eram indicados e nomeados pelo partido, entravam pessoas despreparadas, sem foco, sem capacidade de inovar a própria universidade e não colocavam a investigação no centro da sua gestão. E mais: confundiam o livro com um artigo científico e faziam da universidade a sua própria casa. A nomeação de reitores e decanos retardou a Universidade Agostinho Neto. As universidades viraram Comités de Acção do Partido.

Tem como argumentar isso?

Sabe que até debates de economia eram impedidos porque alguns decanos e reitores fechavam as salas? Os melhores professores da Universidade Agostinho Neto deixaram de dar aulas. Consequências: entrou uma geração de professores universitários despreparados, que caíram de paraquedas. Isso aconteceu durante esse período em que ficamos sem democracia nas universidades.

O Conselho de Ministros aprovou na última sessão o Plano de Desenvolvimento Nacional para os próximos cinco anos. Que país teremos no fim da sua execução?

Os países que querem se desenvolver devem ter uma visão a longo prazo. Essa visão é denominada ‘Plano Nacional de Desenvolvimento’ e Angola não deveria fugir à regra. Mas a grande questão que se coloca é que o nosso Plano é estratégico para o desenvolvimento.

Por quê?

Porque foi feito por um único organismo, o partido que está no poder. Juntou o plano 2025; o plano eleitoral; foi buscar uma mescla do 2030 das Nações Unidas e outra do 2063 da União Africana e montou. Não foi debatido por todos, ninguém sabe o que eu quero para 2040, por exemplo. Devia ser resultado de um debate público. Estamos a falar do PDN para 2018, mas não fizemos balanço do exercício passado. Quando não se faz balanço cai-se no fracasso.

Huambo passou a ser a segunda província a emitir alvarás de licença comercial, depois de Luanda. O que isso pressupõe?

Aí está o segredo do baixo crescimento da economia angolana. Isso é resultado do modelo económico que definimos para basear a actividade económica, onde Angola é Luanda, capital mutamba, Cabinda petróleo, o resto é capim. Alvará comercial é base para que se tenha empresa e o país vive o problema das assimetrias regionais.

Na rubrica ‘Conselhos Úteis’ continuamos a falar sobre os cuidados a ter antes de pedir um crédito bancário’. E a questão de hoje é: e se um credor perder a capacidade de pagar por desemprego, tendo o salário e o avalista como as únicas garantias?

Dissemos na semana passada, antes de um individuo pedir crédito deve colocar todas as variáveis na mesa. Quando há incumprimento do crédito, o primeiro passo é accionar as garantias, sendo o avalista o segundo ‘cúmplice’, caso não haja hipotecas como casas, carros ou outros bens. Mas isso é feito mediante comunicação prévia do banco ao cliente.