Uma arma chamada voz

Uma arma chamada voz

“Nadie es inocente” (ninguém é inocente), esta é uma frase que de que se diz ter sido popularizada no tempo da guerra civil espanhola. Quer dizer muita coisa. Pode querer, também, exigir o comprometimento de todos.

POR: José Kaliengue

E nisto de comprometimentos com causas comuns os espanhóis são um exemplo. A entrega popular à causa da paz derrotou a ETA, o grupo que enveredou pela luta armada para a Independência do País Basco. Os seus assassinatos mereceram por diversas vezes protestos populares que juntaram multidões de espanhóis nas ruas. É um povo que sabe mostrar a sua indignação, que sabe exigir liberdade, justiça e democracia. E soube fazê-lo quando o Estado derivou também para o terrorismo, com a criação dos GAL (Grupos Antiterroristas de Liberación). O povo não autorizou, manifestou- se contra estes novos assassinos. Os partidos políticos viram- se obrigados um consenso que quase retirou a questão do terrorismo como arma de arremesso político. Era assunto de Estado, de cidadania, não para brincadeiras partidárias. E quando o PP resolveu culpar a ETA dos atentados de Atocha, a 11 de Março de 2014, o povo saiu às ruas e castigou o partido nas eleições, apeando-o do poder. A ETA, pode-se dizer, foi derrotada pela democracia, que suportou a acção policial e legislativa. Cinquenta e poucos anos depois e com centenas de mortes às costas, o grupo anunciou a sua dissolução pedindo desculpas às vítimas e ao povo. Há, de facto, causas para as quais nadie tiene escusas para quedar-se inocente.