Dezenas de mortos na Faixa de Gaza provocam indignação

Dezenas de mortos na Faixa de Gaza provocam indignação

As dezenas de manifestantes palestinianos mortos pelo Exército israelita na fronteira da Faixa de Gaza provocaram nesta Segunda-feira (14) indignação e apelos por moderação por parte da comunidade internacional

Muitos países, incluindo Grã-Bretanha, França e Rússia, condenaram a abertura da embaixada americana em Jerusalém, cuja transferência foi negada por 128 dos 193 Estados-membros da ONU.

A inauguração nesta Segunda-feira provocou uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas na Faixa de Gaza. Mais de 50 foram mortas por soldados israelitas na fronteira. O Presidente  palestino, Mahmud Abbas, denunciou um “massacre”.

“A morte chocante de dezenas de pessoas e as centenas de feridos por tiros de munição real em Gaza devem parar imediatamente, e os autores dessas violações flagrantes dos direitos humanos devem ser responsabilizados”, reagiu o alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al-Hussein.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “particularmente preocupado” com a situação em Gaza. A Amnistia Internacional denunciou uma “violação abjecta” dos direitos humanos e “crimes de guerra” em Gaza, enquanto a Human Rights Watch (HRW) denunciou “um banho de sangue”.

Grã-Bretanha : “Estamos preocupados com relatos de violência e perda de vidas em Gaza. Pedimos calma e moderação para evitar acções destrutivas para os esforços de paz”, declarou um porta-voz da primeira-ministra Theresa May.

França : “A França mais uma vez apela às autoridades israelitas para que exercitem o discernimento e a contenção no uso da força”, disse o ministro das Relações Exteriores, Jean- Yves Le Drian, destacando “o direito dos palestinos de se manifestarem pacificamente”. Paris desaprova a transferência da embaixada americana para Jerusalém, que “viola a lei internacional”, declarou o chanceler.

União Europeia: “Pedimos a todas as partes que ajam com a máxima moderação, a fim de evitar mais perdas de vidas humanas”, afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini. Ela lembrou a “posição clara e unida” da UE, segundo a qual a transferência das embaixadas de Tel Aviv para Jerusalém não deveria acontecer até que o status da Cidade Santa seja acertado numa resolução de conflito.

Rússia: Questionado se a transferência da embaixada americana faz a Rússia temer um agravamento da situação na região, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “Sim, nós tememos isso”. “Estamos convencidos de que não devemos reverter unilateralmente as decisões da comunidade internacional. E o destino de Jerusalém deve ser decidido pelo diálogo directo com os palestinos”, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

Irão: O Irão qualificou esta Segunda-feira de “dia da vergonha”, devido ao “massacre” de palestinianos, alvo de tiros do exército israelita, quando protestavam contra a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém. “O regime israelita massacra a sangue frio incontáveis palestinos que se manifestam na maior prisão a céu aberto do mundo”, reagiu o chefe da diplomacia iraniana, Javad Zarif, no Twitter.

Turquia: “Nós rejeitamos essa decisão, que viola a lei internacional e as resoluções da ONU”, declarou o presidente Recep Tayyip Erdogan. “Com essa decisão, os Estados Unidos escolheram fazer parte do problema e perdem o seu papel de mediador no processo de paz” no Oriente Médio. O porta-voz do governo, Bekir Bozdag, denunciou um “massacre” na fronteira com a Faixa de Gaza, cuja “administração americana é tão responsável quanto Israel”.

Brasil: “Lamento profundamente os terríveis episódios de violência na fronteira entre Israel e a Palestina. A nossa solidariedade com os feridos e as famílias dos mortos. O Brasil faz um apelo à moderação, um chamado à paz”, escreveu o presidente Michel Temer no Twitter.

Espanha: “O Governo da Espanha está consternado pelo elevado número de manifestantes mortos e feridos hoje na Faixa de Gaza que se somam às vítimas das manifestações das últimas semanas e faz um apelo urgente à contenção de todos os envolvidos”, indicou o comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Koweit: “Condenamos o que aconteceu. Haverá uma reacção da nossa parte”, disse o embaixador do Koweit na ONU, Mansour al-Otaibi, cujo país é um membro não permanente do Conselho. O Kouwait pediu uma reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Oriente Médio após as mortes em Gaza, que será celebrada na Terça-feira às 10h00.

Marrocos: O rei Mohammed VI denunciou uma “decisão unilateral”, que “se opõe ao direito internacional e às decisões do Conselho de Segurança”.

Egipto: O Ministério das Relações Exteriores expressa a “sua forte denúncia aos disparos israelitas contra civis palestinianos desarmados”, chamando os mortos de “mártires” e advertindo contra uma “escalada”. O grande mufti Shawki Allam denunciou, com a abertura da embaixada americana, “uma afronta directa e clara aos sentimentos de mais de um bilião e meio de muçulmanos na terra”, o que “abre as portas para mais conflitos e guerras na região”.

Bélgica: “Peço que se evite qualquer uso desproporcional da força e retomem o diálogo para uma solução duradoura para o conflito o mais rápido possível”, escreveu o ministro das Relações Exteriores, Didier Reynders.

Noruega: A ministra das Re-Eslações Exteriores, Ine Eriksen Søreide, disse estar “extremamente preocupada com a espiral de violência que estamos a testemunhar agora na fronteira entre Israel e Gaza”. “É inaceitável disparar munição real contra os manifestantes”, acrescentou ela.

África do Sul : O Governo sul-africano convocou o seu embaixador em Israel após as mortes dos manifestantes. “Em vista da conduta indiscriminada e perigosa do último ataque israeita, o Governo sul-africano tomou a decisão de chamar o embaixador Sisa Ngombane imediatamente até segunda ordem”, declarou o ministério sulafricano de Relações Exteriores num comunicado. “As vítimas participavam num protesto pacífico contra a inauguração provocativa da embaixada americana em Jerusalém”, afirmou, condenando a “agres-são violenta lançada pelas forças armadas israelitas”.

Canadá : O Canadá declarouse “muito preocupado” com a violência contra manifestantes de parte do exército israelitas e considerou “imperdoável” a morte de civis. A ministra canadiana de Relações Exteriores, Chrystia Freeland, manifestou-se no Twitter “muito preocupada com a violência na Faixa de Gaza”. “Estamos consternados pelas mortes e pelos feridos “de hoje e destas últimas semanas”, informou em nome do governo de Justin Trudeau. “É imperdoável que civis, jornalistas e crianças tenham sido vítimas”, condenou a chefe da diplomacia canadiana, lembrando que “todas as partes do conflito têm a responsabilidade de proteger os civis”.

 

EUA atribui ao Hamas responsabilidade pelas mortes em Gaza

O movimento Hamas é o responsável pelas 52 mortes e pela centena de feridos nesta Segunda-feira (14) por disparos do exército israelita contra manifestantes em Gaza que protestavam contra a inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, afirmou um porta-voz da Casa Branca.

“A responsabilidade por estas mortes trágicas é directamente do Hamas”, afirmou o porta-voz Raj Shah, acrescentando que este movimento está a “provocar de propósito e cinicamente” e que Israel “tem o direito de se defender”.

A abertura da embaixada americana em Jerusalém aconteceu nesta Segunda-feira em meio a um cenário caótico e de extrema violência contra manifestantes nos territórios palestinos ocupados.

De acordo com fontes convergentes, ao menos 52 pessoas morreram na repressão e o número de feridos é estimado em centenas, possivelmente até 2.000. Shah evitou nesta Segunda-feira analisar qualquer responsabilidade das forças armadas israelitas nessas mortes, e acrescentou que Israel “tem o direito de se defender”.

Ao ser pressionado sobre uma eventual responsabilidade das forças repressivas nas mortes, Shah apenas comentou que “não se pode perder de vista que o Hamas tem responsabilidade por esta situação”.

Na opinião do porta-voz da Casa Branca, a inauguração da embaixada em Jerusalém em meio à violência não deve afectar um possível plano de paz a ser proposto por Washington para israelitas e palestinianos.

“Não acho que isso vá ferir o plano de paz. Esse plano de paz será apresentado no momento oportuno”, comentou. Para Shah, hoje o importante “é manter o que o presidente prometeu (durante a sua campanha) e o que ele acredita. É o reconhecimento de uma realidade”.