Falta de transportes públicos força menores a trocarem escolas por lavras no uíge

Falta de transportes públicos força menores a trocarem escolas por lavras no uíge

Em consequência desta situação, na ânsia de chegarem cedo a casa ou à escola, algumas crianças pedem boleia aos automobilistas que por ai circulam, correndo o risco de serem desviadas para locais incertos, outras acabam atropeladas ao tentarem pendurar-se em carros em movimento. A direcção provincial da Educação garante, para os próximos tempos, a criação de transportes escolares para colmatar o problema

Texto de: Domingos Bento, no Uíge

Percorrer vários quilómetros no meio de matagal, ou à beira das estradas que interligam alguns dos municípios da província do Uíge, correndo riscos de serem atropelados ou atacados por animais é o que centenas de crianças fazem diariamente quando se deslocam à escola. Algumas delas, por causa disso e com a anuência dos seus progenitores, abandonaram o sistema de ensino para se dedicarem exclusivamente à agricultura familiar.

Esta situação regista-se com maior frequência nas comunas, aldeias e povoações mais recônditas dos municípios de Cangola, Negaje, Songo e Ambuila, onde as escolas estão situadas a vários quilómetros de distância das aldeias. Nestas zonas, conforme constatou o OPAIS, os estabelecimentos escolares estão a quilómetros de distância da maioria das habitações, o que obriga os menores a percorrerem longas distâncias a pé, devido à ausência de meios de transporte públicos que facilitem a deslocação de casa para a escola e vice-versa.

O serviço de táxi particular nestas zonas também são existe. Devido à situação, algumas das crianças que resistem, na ânsia de chegarem cedo a casa ou à escola, pedem boleia aos automobilistas que por ai circulam, correndo o risco de serem desviadas para locais incertos.

Há registo de casos de atropelamento quando tentam pendurar-se em carros em movimento. Esta situação está a preocupar os pais, as autoridades tradicionais e os administradores municipais, que dizem não ter condições para inverter este quadro.

Os munícipes clamam pela intervenção urgente do Governo, no sentido de se criar linhas de transporte que possam facilitar a mobilidade nas comunidades mais desfavorecidas.

Administrações sem capacidade de resposta

Ndongala Zola, um dos 239 sobas do município do Songo, disse que a situação não é de agora e tem vindo a responder pelos grandes números de abandono escolar. A autoridade tradicional explicou que já apresentaram várias vezes esta preocupação à Administração local, mas não foram solucionadas, alegadamente por dificuldades financeiras. “De que forma é que a senhora administradora vai resolver esse problema, se ela também não recebe dinheiro?…

É que tudo de bom para a província é alocado apenas na nossa capital. Esquecem que os municípios existem”, frisou. Acrescentou de seguida que “temos gente que está a sofrer por falta de transporte e de outras condições. Se o Governo provincial não olhar com preocupação para essa questão, teremos muitos analfabetos”. Porém, diante do sofrimento dos seus educandos, muitos encarregados estão a preferir que estes abandonem as aulas para se dedicarem a actividades do campo até que a situação melhore.

Criança atropelada

Rogério Makiady, residente no município de Cangola, a 180 quilómetros de capital da província, disse que o medo maior prendese com o facto de o filho, que estuda a cerca de um quilómetro e meio de casa, vir a ser atropelado enquanto percorre o asfalto a pé. “Já tive de suspender o meu filho de ir a escola durante um mês.

Ele só tem dez anos e já escapou várias vezes de ser atropelado”, disse. Como alternativa, segundo o nosso interlocutor, os encarregados de educação criaram atalhos, próximo das aldeias, para facilitar o percurso das crianças, mas tornaram-se quase que enviáveis por existirem inúmeros obstáculos. “Há animais que em determinada época atacam as nossas crianças, nestes atalhos.

A distância que elas percorrem é muito grande. Se houvesse transportes públicos ou mesmo uma frota de táxis nas aldeias, poderia minimizar o nosso sofrimento”, frisou.