Governo de Malanje traça Plano de Emergência contra o ébola

Governo de Malanje traça Plano de Emergência contra o ébola

O vice-governador de Malanje para o Sector Político e Social, Domingos Eduardo, reuniu-se de emergência com membros do Governo, administradores municipais e parceiros sociais, nesta terça- feira, para traçar um plano de prevenção contra o surto do Ébola que assola a vizinha República Democrática do Congo (RDC)

POR: Miguel José, em Malanje

O director provincial da Saúde, Avantino Sebastião, porta-voz do encontro, declarou à imprensa, que a província de Malanje está em estado de alerta máximo, em função da orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que decretou, desde o passado dia 8 de Março, estado de emergência do surto de febre hemorrágica (Ébola) na RDC. Em função disto, todos os países vizinhos estão em estado de alerta máximo e o Ministério da Saúde (MINSA) exarou uma circular para todas as direcções provinciais com um plano orientador relacionado a medidas imediatas, de vigilância epidemiológica, que devem ser tomadas.

Para tal, segundo Avantino Sebastião, todos os técnicos do Sector da Saúde das regiões fronteiriças, no caso dos municípios de Marimba e Massango, devem redobrar a vigilância epidemio lógica, como, de igual modo, em todo o território da província de Malanje, no sentido de evitar o contágio da doença no país. Porém, alerta que os indivíduos que nos últimos 21 dias estiveram na RDC e que apresentem um quadro caracterizado por febre acompanhada de vómitos, dores de cabeça, desarranjo intestinal, dor abdominal e manifestação hemorrágica (sangramento na boca, nos ouvidos, nas narinas e na pele), devem ser tidos como casos suspeitos.

No entanto, o titular da Direcção Provincial da Saúde (DPS) na província anunciou que o seu Sector vai desenvolver uma acção de mobilização social e educação sanitária, em parceria com o Sector da Educação e com os media, no intuito de disseminar informações sobre a doença. A DPS e a equipa multissectorial da Comissão de Prevenção de Endemias voltam a reunir-se nos próximos dias, para concertar ideias em torno do plano da emergência. “Existe um plano de emergência que já está a ser seguido. No próximo encontro, vamos discutir e concluir o Plano Estratégico”, frisou.

Medidas cautelares

A Ébola, por ser uma doença de alto contágio e com uma letalidade que oscila entre 50 e 90 por cento, impõe a necessidade de estabelecer-se medidas de providência. Desde logo, a julgar pelas pequenas quantidades de stock de medicamentos, de materiais gastáveis e de biossegurança, apenas para a cobertura dos dois municípios fronteiriços, o titular provincial da Saúde disse contar com um reforço a partir do MINSA. “Ainda esta semana já temos ‘luz verde’ de que vamos receber um reforço de materiais gastáveis e de biossegurança para criarmos as condições de prevenção”, garantiu. Enquanto isso, ainda no âmbito do plano de emergência, segundo o responsável, a DPS garante trabalhar com as instâncias oficiais do Estado, com as autoridades tradicionais, com as igrejas e, de um modo geral, com a sociedade civil, na distribuição panfletos de mobilização das comunidades, incluindo as empresas de telecomunicações, no sentido disseminarem mensagens sobre os cuidados a observar contra a endemia. No que toca aos mecanismos de controlo ao longo da fronteira, Avantino Sebastião explicou que a Delegação Provincial do Interior tem um plano operacional com o qual tem estado a trabalhar na fronteira, que consiste em limitar, no máximo, a circulação dos cidadãos nos dois sentidos e reforçou o controlo conjunto com as autoridades sanitárias dos referidos municípios. Contudo, garantiu que até ao presente momento a situação está sob controlo e que não foi detectado nenhum caso de Ébola em território angolano, pelo menos, por via dos dois municípios da província de Malanje vizinhos da RDC.

Situação ao longo da fronteira com a RDC

O administrador municipal adjunto de Marimba, Pedro Quicongo, assegurou que com base na orientação da DPS e do Governo da Província de Malanje, a sua Administração já esta a disseminar informações de alerta à população sobre os sintomas da doença. Também, está a trabalhar em conjunto com as polícias de Ordem Pública e de Guarda Fronteira na perspectiva de restringir a entrada de congoleses para o território angolano. Mas, ainda assim, Pedro Quicongo não deixou de manifestar alguma preocupação com a movimentação de angolanos que por razões de saúde e ensino, diariamente, transpõem a fronteira de um lado para o outro e devido à falta de equipamentos especializados para detenção da doença.

“Todos os dias regressam angolanos que vão fazer tratamento e temos, também, estudantes de Tembo-à-Luma e de Kikata que estudam no Congo e que fazem o percurso de vai e vem, diariamente”, disse. Questionado sobre a capacidade de resposta a uma demergência, o responsável afirmou que o seu município não dispõe, por enquanto, de meios técnicos de biossegurança, mas assegurou que a DPS se comprometeu a enviar, ainda esta semana, medicamentos e outros materiais para o efeito. Todavia, de acordo com o administrador adjunto de Marimba, a autoridade administrativa já está a levar a cabo, campanhas de mobilização nas escolas, nas igrejas e nas comunidades, assim como a Polícia está a fazê-lo, nos bairros junto ao limite fronteiriço, de forma a evitar, no máximo, que as pessoas contraiam a doença.

Na mesma senda, o administrador municipal adjunto de Massango, Paulo Quissaqui, disse, em poucas palavras, que a autoridade do município está engajada em campanhas de mobilização, em colaboração com todos os agentes da comunidade, para efeitos de prevenção da endemia, e com a Polícia, no sentido de evitar o fluxo de entrada e saída de pessoas ao longo da fronteira. O vírus Ébola é transmitido pelo contacto directo com o sangue, fluidos corporais e tecidos de animais ou pessoas infectadas e é uma doença grave (muitas vezes fatal) com uma taxa de letalidade até 90%, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Por isso os doentes requerem tratamento intensivo.

OMS diz que nove nações se mobilizam para evitar possível disseminação do Ébola

A directora regional da Organização Mundial da Saúde para a África diz que a agência está a acelerar esforços com nove países vizinhos do Congo para tentar impedir a disseminação do actual surto de Ébola para além das suas fronteiras. Matshidiso Moeti diz que as equipas estão a ser mobilizadas para avaliar a prontidão e que os “próximos passos imediatos” incluem o reforço da capacitação, treinamento e mobilização de recursos. Os dois principais países prioritários são a República Centro-Africana e a República do Congo, perto do epicentro do surto. Na República do Congo, por exemplo, a OMS está a trabalhar com funcionários do Governo “para parar de funcionar” um mercado activo na sua margem do rio Congo. Moeti disse, numa sessão da Assembleia Mundial da Saúde, na Quarta-feira, que os nove países “já iniciaram as suas actividades de preparação”. Os outros são Angola, Burundi, Ruanda, Sudão do Sul, Tanzânia e Zâmbia.