Emigrantes africanos clamam por facilidades na sua legalização em Angola

Emigrantes africanos clamam por facilidades na sua legalização em Angola

Diarrá, 33 anos, burquinabê. Teófile, 27 anos, senegalês. Hassan, 41 anos, gambiano. Três emigrantes que a OPAÍS confessaram ter vida difícil em território angolano e apelam a que se viabilizem modalidades migratórias mais favoráveis em nome da unidade do continente berço

POR: André Mussamo

Encontramos o burquinabê no Hoji Ya Henda onde reside e desenvolve o comerciante num famoso armazém. Vive em Angola com duas esposas e professa a religião islâmica. Pai de seis filhos, diz-se feliz vivendo por cá, mas “nunca falta alguma saudade da terra, principalmente pela família e a cultura”. Recusa deixar-se fotografar, alegando “amigo, eu não sabe se você é mesmo só jornalista. Nós aqui vive como clandestino”. Sorriu durante a conversa, mas não acreditou na nossa missão profissional. Deixou tudo sob providência de Alá: “se você é da DNIC, pronto, vou fazer como? Eu apenas só trabalha para viver”. O encontro com o senegalês foi no Luanda Sul (Viana), após um contacto telefónico facilitado pelo cunhado de nacionalidade angolana. Teófile vive com uma angolana há três anos.

É peremptório em afirmar que a vida no seu país é relativamente melhor que em Angola, mas o seu “faro” pelo negócio, que herdou do pai, levou-lhe a procurar por outras oportunidades. Diz que quando cá chegou, em 2009, Luanda era “uma verdadeira máquina de fazer dinheiro”. Conta que chegou a mandar remessas mensais na ordem de 30 a 50 mil dólares americanos, mas agora as coisas estão difíceis. Considera Angola sua segunda pátria, muito pelo próspero negócio de venda de manufacturados e pela linda esposa que o país lhe ofereceu. Volta regularmente ao Senegal para ver a família, mas é por Luanda que se quer manter nos próximos anos. Pai de três filhos, precisa de ficar perto deles para lhes garantir a educação. Considera as formalidades migratórias do país “um pouco duras” particularmente para os africanos, que, em seu entender, deviam beneficiar de algumas facilidades dada a perspectiva de unidade que se ventila nos conclaves da maior tribuna política do continente. Já o gambiano reside e trabalha na zona do Ramiros.

Chegou ao país com mais sete concidadãos, atraídos pelo negócio de construção de “bungalows” nos resorts que à luz de cada dia despontavam nos arredores de Luanda e em outros grandes centros turísticos do país. Gradualmente, o negócio foi reduzindo até chegar à estaca zero. Hassan hoje é artesão, e dada a sua condição de imigrante ilegal, trabalha num atelier no Ramiros e depois repassa as peças a vendedores no mercado de artesanato, antes no Futungo e agora no Museu da Escravatura. Considera que a sua condição de “ilegal” não lhe facilita a vida, porquanto tem consciência de que não pode vender as obras em preço real sob pena de ser denunciado. Acredita que se fosse um imigrante legal, estaria em condições de abrir um centro de formação e produzir um rico acervo de escultura com valor digno para integrar até colecções de museus.

Na sua óptica, o país perde muito com a rigidez das suas regras migratórias e a falta de uma política de facilidades para aqueles emigrantes que de uma forma ou de outra já se encontram no país e estão dispostos a se legalizarem. “Seria bom se governo promovesse facilidades para nós. Eu sou um grande artesão e podia ensinar muitos jovens angolanos”, disse. Optimista, o oeste-africano declarou que, quando conseguir regularizar a sua condição migratória, sonha constituir família em Angola. Entre os milhares de africanos que escolheram as terras de Ngola como terra para viver, repetem-se as críticas à dureza da legislação angolana no domínio migratório. Dizem que não sabem como proceder para saírem da condição de “ilegais” em Angola. Entendem que o país perde muito mais com “as duras regras” do que implementar uma política migratória mais “amiga”, pois acreditam que por essa via muitos talentos e capital podiam ser atraídos para o país.

Exemplos de persistência

Tuadara é burundês a viver em Angola há mais de 20 anos. Considera- se um exemplo de persistência e acredita que chegará o dia em que as autoridades vão conceder-lhe a nacionalidade angolana, porquanto não tenciona voltar ao Burundi, em razão das más lembranças que guarda do período do conflito interétnico. “Guardo más lembranças do Burundi. Vi toda a minha família a ser dizimada. Milagrosamente, eu sobrei porque os nossos carrascos precisavam de mão-de-obra para transportar o resultado do seu saque, e como jovem que era fui poupado. Porque minha mãe, irmãs menores, pai e avós, foram fuzilados à minha frente”, revelou emocionado. Tentou, inclusive com a ajuda do ACNUR, regularizar a sua condição de migrante, e foi tudo em vão. Hoje, em dois colégios, é professor de Inglês e de Francês. Diz que conhece mais talentos que podiam dar o seu contributo a Angola.

Culinária africana em Angola

Apesar da aparente ocidentalização dos países africanos, felizmente para a identidade cultural do continente berço, alguns traços resistem e persistem. A culinária é um desses elementos. Pratos de diferentes países africanos podem felizmente ser saboreados em plena capital angolana, graças à persistência dos emigrantes. Aliás, já não é novidade saborear por cá iguarias do Congo Democrático, também as de Cabo Verde e muito recentemente da Etiópia, só para citar algumas especialidades. Na orla da Praia Amélia (Samba) e no embarcadouro do Mussulo, podesse experimentar pratos santomenses, praticamente todos feitos à base de peixe e frutos do mar. Os cozinheiros queixam-se da falta de alguns ingredientes, contudo admitem que conseguem confecioná- los com engenho, adaptando ingredientes semelhantes ou equivalentes.

Os mais fáceis de confeccionar são os que têm como base o peixe, banana e azeite de palma. Na zona do Golf II (Kilamba Kiaxi), agraciados pela simpática Graccielle, experimentamos o “Wot”, um ensopado picante que segundo a nossa anfitriã é muito vulgar na Etiópia. O Wot pode ser feita de carne de vaca, carneiro, galinha, cabra, ou mesmo lentilhas ou grão-de-bico, mas sempre contém picante berbere. Nos bairros do palanca e da Mabor é possível experimentar uma variada oferta culinária dos vizinhos mais a Norte – a RDC. Os pratos são baseados em carne, peixe e vegetais, que podem constituir o momento principal de uma refeição geralmente acompanhanda com “fufu” ou “cuscuz”. Para experimentar uma saborosa Cachupa, um prato típico da gastronomia caboverdiana, basta deslocar- se ao Prenda, ao Sambizanga e ao bairro Operário, os pontos preferidos pelos emigrantes daquelas ilhas africanas em Luanda.

Feira da saúde assinala dia de África em Cacuaco

O Instituto Superior de Angola (ISA) associa-se às comemorações do 25 de Maio – com a realização de uma feira temática que reflecte a praticidade dos cursos ministrados pela instituição. O cursos mais em evidência é o das Ciências da Saúde, cujos estudantes e docentes, desde ontem, realizam consultadas gratuitas a todos os interessados numa clínica inaugurada na mesma altura, que doravante servirá a Comunidade envolvente das instalações do ISA e não só. No local os interessados podem fazer testes (gota espessa) de paludismo, glicemia, colesterol, oftalmologia, tensão arterial, HIV , pesagem e receber aconselhamento sobre dieta saudável. Segundo aquela instituição do ensino superior, esta é uma oportunidade soberana para a prestação de serviços básicos à comunidade e desenvolver a componente prática dos estudantes.

Outros departamentos da instituição, designadamente de Comunicação Social, Direito e Psicologia, marcam presença no evento garantindo informação e diverso apoio sanitário aos visitantes. Segundo António Armando, subdirector para a área Cientifica, para além de saudar o dia do continente, a iniciativa visa implementar o trinómio “ensino, investigação, extensão”. “Esta iniciativa visa dar corpo a extensão universitária levando os estudantes a praticarem as três componentes que fundam qualquer projecto de ensino universitário”, sublinhou aquela entidade académica. O Instituto Superior de Angola- ISA está situado na região da Vidrul, município do Cacuco, cujo acesso é possível através da via expresso Fidel de Castro.