Maduro acusa EUA de promover golpe e prende militares

Maduro acusa EUA de promover golpe e prende militares

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou nesta Quinta-feira os Estados Unidos de orquestrarem uma conspiração para derrubá-lo do poder e determinou a prisão de vários militares, no mesmo dia em que prestou juramento como presidente reeleito para um segundo mandato.

Após prestar juramento diante da Assembleia Constituinte como vencedor das eleições no Domingo passado, boicotados pela oposição e não reconhecidas por parte da comunidade internacional, Maduro presidiu uma cerimónia na qual as Forças Armadas lhe prestaram “lealdade absoluta”. Diante da cúpula militar, Maduro declarou que “estão detidos todos os responsáveis de se terem vendido e de se terem entregado a traidores da Colômbiaque lhes pagaram em dólares, da Colómbia, para que traíssem a honra, a moral e a lealdade das nossas Forças Armadas”. Trata-se de “uma conspiração financiada e dirigida da Colómbia e estimulada e promovida pelo governo dos Estados Unidos para dividir as Forças Armadas, e com uma grande acção publicitária, militar, tentar no momento em que se suspendessem as eleições de 20 de Maio”.

Maduro não informou a patente dos acusados, nem quando foram presos, limitando-se a dizer que a operação aconteceu “nas últimas semanas”. “Estamos atrás do principal financiador que se encontra foragido em território venezuelano e cedo ou tarde vamos prendê-lo”. “Exijo máxima lealdade das Forças Armadas Nacionais Bolivariana, máxima lealdade à Constituição (…), máxima lealdade ao comandante- em-chefe das Forças Armadas”, disse o presidente. Mais cedo, ao discursar para a Assembleia Constituinte, Maduro admitiu que as sanções impostas por Washington após a reeleição trarão mais dificuldades ao país, pois o impedem de conseguir recursos e de “fazer as importações necessárias”.

“Não vou enganar ninguém, vão-nos criar graves dificuldades, dolorosas dificuldades, que vamos enfrentar paulatinamente, vamos derrotá-las. As sanções de Trump serão anuladas e derrotadas”, assegurou. A Venezuela vive a pior crise da sua história recente: hiperinflação, escassez de comida e medicamentos, queda brutal da economia e a produção de petróleo no nível mais baixo dos últimos 30 anos: 1,5 milhão de barris diários, contra 3,2 milhões de 2008. “Falta uma rectificação profunda, é preciso fazer as coisas de novo e melhor. Não estamos a fazer as coisas certas e temos que mudar este país”, reconheceu Maduro no seu discurso à cúpula militar e de governo.

O presidente, no poder desde 2013, ordenou que o ministro do Petróleo e presidente da petrolífera Pdvsa, o general Manuel Quevedo, pediu apoio à Opep, Rússia, China e países árabes para aumentar a produção diária em um milhão de barris. Maduro também prometeu trabalhar pela reconciliação e libertar opositores presos que não tenham cometido crimes graves, para “superar as feridas” dos protestos contra o seu governo, que deixaram cerca de 200 mortos desde 2014. “Há um conjunto de pessoas detidas por terem cometido crimes de violência política e eu quero que essas pessoas saiam em liberdade e que lhes seja dada uma oportunidade”, disse, sem informar quantos presos podem ser beneficiados.

“Vamos sair na frente”

Com uma abstenção recorde de 54%, Maduro venceu a eleição com 68% dos votos contra 21% do ex-chavista Henri Falcón, que se candidatou contra a vontade da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) e depois não reconheceu os resultados. Estados Unidos, União Europeia e o Grupo de Lima (Canadá e 13 países da América Latina e do Caribe) não reconheceram a eleição por considerarem que ela não foi livre, representativa nem transparente. Donald Trump aprovou na Segunda- feira um decreto que proíbe os americanos de comprarem activos e papéis da dívida venezuelana e da PDVSA, na tentativa de complicar a entrada de recursos no país. Em represália, Caracas expulsou dois dos maiores representantes dos Estados Unidos na Venezuela, e Washington ordenou o mesmo na Quarta-feira para dois altos diplomatas venezuelanos.

Os Estados Unidos, que compraram um terço da produção dopetróleo venezuelano, já haviam proibido os seus cidadãos de negociar a dívida da Venezuela, em default parcial, assim como da PDVSA, e ameaça com um embargo petrolífero. “Qualquer sanção, incluindo as mais leves, representarão um inconveniente económico para a PDVSA, que reduzirá ainda mais o seu fluxo de caixa em meio à aceleração da diminuição da produção”, analisou Eurasia Group. O presidente insistiu no seu discurso: “Vamos seguir em frente”. Estados Unidos, Canadá e UE sancionaram dezenas de funcionários venezuelanos. A lista de Washington inclui Maduro e o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.O Grupo de Lima, por sua vez, convocou os seus embaixadores para consultas na Venezuela e concordou em actuar para bloquear fundos internacionais destinados a Caracas.

Em busca de legitimidade Todos os eleitos em votação popular devem prestar juramento à Constituinte, mas a sua presidente, Delcy Rodríguez, leu o decreto segundo o qual, além desse acto, será realizada a posse em 10 de Janeiro. O acto desta Quinta-feira “é outro capítulo da farsa com a qual se pretendeu expropriar os venezuelanos do seu direito de eleger um novo presidente”, afirmou a MUD em comunicado. Segundo a Constituição de 1999, que está a ser reformada pela Constituinte, o presidente eleito deve tomar posse neste dia no Parlamento. O Legislativo, de maioria opositora, foi declarado em desacato pelo Supremo Tribunal de Justiça – alinhado ao governo -, que considera nulas todas as suas decisões. “Adianta a posse porque não quer deixar um vazio de agora até Janeiro. Precisa de dar legitimidade ao processo, embora seja a legitimidade chavista”, declarou à AFP o analista Luis Vicente León. Maduro planeia, após o acto perante a Assembleia Constituinte, participar numa cerimónia no Ministério da Defesa, em Caracas, para receber do alto comando militar uma “reafirmação de lealdade”. As Forças Armadas, consideradas o principal apoio de Maduro, adquiriram um enorme poder político e económico durante esse governo, incluindo nos sectores estratégicos de alimentos e petróleo.