Custo de transporte motiva realojados de Caxito a arrendarem casas

Custo de transporte motiva realojados de Caxito a arrendarem casas

Quando foram reassentados no bairro 25 de Dezembro, nas Mabubas, os sinistrados das enxurradas do Natal de 2013 foram advertidos a não passarem a terceiros as residências, nem por venda e muito menos por arrendamento, porém volvidos três anos, alguns beneficiados abraçaram o lado menos correcto da sugestão

POR: Alberto Bambi

O coordenador do referido centro habitacional, Jesus Manuel, está preocupado com o facto de alguns dos seus vizinhos estarem a arrendar as suas casas, alegando elevados gastos diários como táxi, em virtude da distância do troço Mabubas-Caxito, no Bengo. “As autoridades que nos transferiram para cá fizeram um pacto connosco, que era de não vendermos nem alugarmos as residências, e todo mundo deu a sua palavra, mas, um ano depois de estarmos já adaptados ao novo habitat, muitos vieram ter comigo a dizer que decidiram pôr um inquilino nas suas residências, porque queriam estar mais próximos do local de trabalho”, explicou o coordenador do bairro, receando alguma represália dos órgãos do Estado. Segundo apurou OPAÍS dos moradores desta localidade, os taxistas que operam nesse trajecto cobram 150 Kwanzas por viagem, que perfazem 300 por dia, e o custo semanal de mil e 500.

“Eles haviam de gastar seis mil Kwanzas por mês, uma parte considerável dos seus ganhos mensais, pois a maior parte dos residentes desenvolve actividades comercialis no mercado de Caxito. Segundo o coordenador, em atenção a essa classe, a coordenação das Mabubas já havia solicitado aos órgãos competentes, a criação de um espaço para vendas próximo ao bairro 25 de Dezembro, uma proposta que ficou por ser averiguada. Os adolescentes e jovens que frequentam as escolas secundárias do II Ciclo, vulgo Ensino Médio, constitui outra razão que motivou certas famílias a se mudarem para a sede, Caxito, onde algumas delas reocuparam parte de suas antigas residências. Aliás, quase todos os inquilinos que passaram a integrar o convívio dos antigos desalojados de Caxito, possuem apenas crianças em idade escolar, ou seja, que frequentam o ensino primário, isto é, da 1ª à 6ª Classe.

“Água e luz nos atraiu para aqui”

Vinda do município de Nambuangongo, Teca preferiu assentar no bairro 25 de Dezembro, onde, há dois anos, arrendou uma casa. Além da tranquilidade, a inquilina evoca a existência do precioso líquido e de corrente eléctrica. “Essa área é calma, mas foi mais a luz e a água que nos trouxeram aqui, porque assim já podemos evitar acarretar todos os dias e viver dependente dos geradores ou da iluminação de velas”, declarou Teca, que considerou o preço do arrendamento como mais suave que os praticados na sede do município do Dande. Como os seus senhorios estão distantes, responsabilizaram-lhe também pelo o pagamento regular da água.

Todos os moradores que ainda não fizeram o contrato com a empresa de água e servem- se do chafariz, desembolsam mensalmente 500 Kwanzas na coordenação, que canaliza essas contribuições aos seus responsáveis máximos. “Mesmo assim, não são poucos os chefes de família daqui que se recusam cumprir com as suas contribuições mensais”, lamentou o coordenador, tendo adiantado que, nessas situações, a organização que lidera não pressiona o residente, nem o priva do direito de acarretar a água dos chafarizes instalados no bairro. Outros inquilinos, sob anonimato, consideraram o bairro 25 de Dezembro um local aceitável para viver, desde que as contas dos táxis não sejam muito pesados, pois possui energia eléctrica segura para conservar os alimentos .

Jovens cobram formação profissional Considerando que os rapazes que, no tempo das tendas de Caboxa, contavam entre 14 e 15 anos de idade, agora já estão com 19 ou 20. José Zeferino da Costa, um dos que não conseguiu uma vaga no conhecido PUNIV do Sassa, em Caxito, clama pela instalação de centros que apostem na formação profissional, no sentido de tanto ele quanto outros jovens na mesma situação, ganharem outras valências e aptidões. Em relação a esta solicitação, a coordenação liderada por Jesus Manuel disse já ter transmitido a proposta às instâncias superiores, que prometeram atender, nos próximos tempos, a favor dos infanto- juvenis. Enquanto aguarda pelo prometido, José da Costa frequenta os cursos de Informática e Língua inglesa, na vila de Caxito, tendo que desembolsar 300 Kwanzas diários para o transporte. Por este motivo, o jovem pede mais celeridade aos governantes na atribuição de um autocarro para servir a via Caxito-Mabubas, e minimizar os custos dos futuros profissionais. Domingas Manuel Ilídio, encarregada de educação de José da Costa, também considera os custos dos autocarros estão mais ao alcance do bolso das famílias. A moradora do bairro 25 de Dezembro sugeriu que, enquanto a juventude do novo centro habitacional ainda não cresceu bastante, se criem actividades ou programas de orientação vocacional e profissional.

Projecto local à vista

Em resposta às necessidades dos jovens da sua faixa etária, Miranda Domingos já criou um centro de formação profissional. Para tal, precisa que os responsáveis da localidade lhe autorizem explorar um terreno que já localizou. “Numa primeira fase, penso em dar cursos de Inglês e Informática para depois pensarmos nos de electricidade, serralharia e mecânica”, frisou Miranda Domingos, tendo assegurado que já tem a equipa de formadores preparada para entrar em funcionamento. Miranda, que nunca coloca em causa a sua deficiência física para projectar e materializar algo, revelou que possui muitas planos destinados a potenciar os jovens. Enquanto espera por autorizações e apoios, desenvolve uma série de actividades de auscultação e identificação dos problemas da comunidade em que vive, que por sua vez os remete à coordenação, com a qual discute as respectivas soluções ou alternativas.

Escola obriga crianças a longas caminhadas

A maior parte dos encarregados de educação que vive no bairro 25 de Dezembro, há três anos, aplaude o facto de nenhuma das suas crianças estar fora do sistema de ensino, contudo lamenta a distância existente entre o centro habitacional e o estabelecimento do ensino primário em que os petizes estudam. Diariamente, as crianças entre os seis e 10 anos, caminham acima de um quilómetro incluindo atravessar a difícil estrada das Mabubas. Em razão desse perigo, alguns pais são forçados a acompanhar os filhos até à estrada, principalmente os que estudam no período da manhã. A nossa reportagem testemunhou alguns petizes a regressarem da escola, por volta do meio-dia, ao mesmo tempo que, outros mais crescidos, punham-se a caminho para mais uma sessão de aulas à tarde. Tanto os primeiros meninos quanto os segundos, andam em grupo, segundo eles para minimizar o esforço. A água costuma a ser outro factor acalentador ao longo da distância que percorrem, porém, a meio do percurso, os bidões já se encontram vazios. Os moradores recordaram que, quando foram realojados no 25 de Dezembro, foram instaladas duas salas de aula. Por isso, apelam às autoridades locais para que considerem a estratégia de criar-se salas anexas à escola primária da sede das Mabubas número 329.