Crianças autistas de Luanda recebem visita de deputados

Crianças autistas de Luanda recebem visita de deputados

Os deputados da 6ª, 7ª, 8ª e 10ª Comissões da Assembleia Nacional vão verificar de perto as dificuldades das mais de 650 crianças que sofrem desta patologia, numa acção enquadrada nas jornadas alusivas ao mês a elas dedicado

POR: Milton Manaça

A visita dos deputados, prevista para a próxima semana, dia 12 do mês em curso, terá lugar no único centro do país que faz acompanhamento gratuito às crianças adstritas à Associação Angolana de Apoio às Pessoas Autistas e Portadoras de Transtornos Globais de Desenvolvimento (APEGADA), situada no Kifica, município de Talatona. O presidente da APEGADA, António Teixeira, declarou a OPAÍS que a visita responde a uma solicitação da organização, que pretende ver resolvida a questão da inclusão social com base nos 11 compromissos para com a criança, realçando que a situação não tem merecido o devido tratamento na casa das leis.

Teixeira referiu que a inclusão escolar de crianças com síndrome do autismo e outras patologias tem sido uma das principais dificuldades encontradas pela organização, tendo em conta que algumas escolas públicas e privadas negam-se receber crianças com esse tipo de patologia. A APEGADA pretende que o autismo seja incluído no serviço único de saúde, pelo facto de uma minoria recorrer ao estrangeiro e a maioria não encontrar assistência médica e medicamentosa nas unidades sanitárias do país.

Subsídio de incapacidade

António Teixeira declarou que vai aproveitar colocar na mesa a necessidade de atribuir um subsídio de incapacidade para os autistas, à semelhança do que já acontece em alguns países da CPLP como Moçambique, Cabo Verde e Portugal e na África Austral, em países como a Namíbia, Zimbabwé, Zâmbia e Congo Brazzavile, que têm leis específicas de protecção de pessoas com deficiência intelectual. Só em Luanda, a APEGADA controla mais 650 crianças, segundo dados da direcção, a qual garante existirem grandes dificuldades para manutenção do único centro em funções – que tem um custo mensal de 300 mil kz para cobrir a alimentação, o combustível para viaturas de recolha de crianças, motoristas e voluntários.

O centro de autistas presta formação na vertente psicológica, escolar e recreativa, para desenvolver capacidades cognitivas das crianças, acompanhadas por psicólogos, psiquiatras e sociólogos que prestam assistência de forma gratuita, além de estudantes universitários finalistas. O referido centro foi contruído com o apoio de algumas empresas privadas e a contribuição dos pais. António Teixeira espera que a associação seja elevada à categoria de organização de utilidade pública e que os seus projectos sejam incluídos no Orçamento Geral do Estado. “Esperamos no mínimo que sejamos apoiados na construção de centros públicos municipais para que as crianças beneficiem de um tratamento condigno, ao invés de passarem o dia em casa acorrentadas ou tratadas de forma desumana”, apelou António Teixeira. Cerca de 250 famílias das crianças autistas encontram-se mobilizadas para receber os deputados na visita agendada para a próxima semana.

Sobre o autismo

O autismo é um síndrome caracterizado por alterações presentes desde idades muito precoces, antes dos três anos de idade que se caracteriza por desvios qualitativos na comunicação, interacção social e no uso da imaginação. As causas ainda são desconhecidas, mas acredita-se que a sua origem esteja relacionada com anormalidades em alguma área do cérebro, embora não exista um estudo conclusivo nesta matéria. Segundo especialistas, o autismo não tem cura, mas o tratamento pode melhorar a condição de vida do autista. Referira-se que em Angola, o custo para o tratamento e acompanhamento de autistas nos centros privados ronda aos 3 milhões de Kuanzas/ano.