CDC leva ao palco do Camões “O monstro está em cena”

CDC leva ao palco do Camões “O monstro está em cena”

“O monstro está em cena” é o título da performance artística sob a égide da Companhia de Dança Contemporânea (CDC) que, entre os dias 14 e 24 de Junho, será em exibida no palco do Camões- Centro Cultural Português, em Luanda.

Coreografada por Ana Clara Guerra Marques e Nuno Guimarães, o espectáculo é uma desconfortante introspecção sobre a condição humana, segundo uma nota a que OPAÍS teve acesso. Na mesma epígrafe pode ler-se, “A observação do ser humano contemporâneo, leva-nos a crer que a nossa existência se tornou cada vez mais violenta tendo, como reflexo disso, uma humanidade cada vez “menos humana”. A velocidade da vida urbana actual, com os novos capitalismos e conceitos de progresso, e a sua extraordinária dependência tecnológica, contrasta com o que resta da vida rural, um retrato longínquo de um mundo natural. Porém, não se assumem responsabilidades perante as variações do clima ou diante dos de sequilíbrios ecológicos que afectam a biodiversidade do planeta.

O impacto de toda esta acção humana origina também, por ignorância ou ambição, conflitos entre diversos grupos étnicos, credos religiosos e poderes políticos. Assistimos, impotentes, a um iminente estado de guerra, onde imperam e se incutem sentimentos de ódio e de morte. Adaptamo- nos, resignadamente, às misérias e desgraças que ocorrem mesmo ao nosso lado, percebendo- se, a olho nú, a banalização da vida. O documento que vimos citando aponta ainda, as questões do género reveladoras da grande complexidade do ser (nas suas diferentes formas de existência e variantes sexuais), continuam a ser alvo de opiniões e de posturas radicais e díspares, em grande parte, desprovidas de compreensão, tolerância ou de uma aceitação natural. Igualmente, inaceitável é a condição de inferioridade imposta à mulher. Nesses contextos, mesmo sendo geradora de vida, ela vê negado qualquer direito ou dignidade, sendo obrigada a uma sobrevivência como mero objecto, porventura, comerciável. Saliente-se que nos dias 27 e 28 de Outubro, o espectáculo será apresentado na Casa das Artes em Talatona, posteriormente seguirá para uma tournée nacional e internacional.

Trajectória

A CDC é dirigida pela coreógrafa e investigadora Ana Clara Guerra Marques. Fundada em 1991, é membro do Conselho Internacional da Dança da UNESCO, possui um historial de centenas de espectáculos apresentados em Angola e no exterior, com cerca dezenas de obras originais, sendo hoje a referência da dança cénica angolana no mundo. Com quase 27 anos de existência, esta Companhia ocupa um lugar privilegiado na História de Angola, ao ter semeado o “novo” no vasto terreno da dança, onde continua a desenvolver um trabalho artístico único e original. Pioneira da dança contemporânea no seu país, Ana Clara Guerra Marques divide a sua criação entre temas de intervenção e crítica social, como expressam as peças Mea culpa (1992), Imagem & movimento (1993), Palmas, por favor! (1994), Neste país…

(1995), Agora não dá! ‘Tou a bumbar. (1998), Os quadros do verso vetusto (1999), O Homem que chorava sumo de tomates (2011), Ceci n’est pas une porte (2016) ou O monstro está em cena (2018), e a utilização do seu trabalho de investigação sobre as danças patrimoniais angolanas, com incidência na cultura cokwe. A proposta de outras estéticas e abordagens a um património herdado é reflectida em A propósito de Lueji (1991), Uma frase qualquer… & outras (frases) (1997), Peças para uma sombra iniciada, Outros rituais mais ou menos (2009) ou Solos para um dó maior (2014), enquanto extensão artística desse campo de pesquisa. É membro do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA).