Estrangeiros assumem controlo da indústria panificadora

Estrangeiros assumem controlo da indústria panificadora

O presidente da Associação dos Industriais de Panificação e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, revelou a OPAÍS que cerca de 80% das micro, pequenas e médias empresas de panificação e pastelaria, no país, são detidas por investidores estrangeiros. Na província do Uíge, por exemplo, apenas uma padaria é pertença de um nacional

POR: Brenda Sambo

O número de pastelarias e padarias lideradas por investidores estrangeiros cresce cada vez mais no país. Neste momento, dados da associação das panificadoras indicam que 80% das padarias são geridas por estrangeiros. Segundo Gilberto Simão, presidente de direcção da AIPPA, que falou em exclusivo ao OPAÍS, “grande parte destes estrangeiros estão em situação ilegal no país, não cumprem com as obrigações fiscais e não respeitam as condições higiénicas exigidas”, denunciou. Avança que Luanda conta com 530 padarias filiadas na associação, das quais 80% são propriedade de cidadãos estrangeiros.

Referiu ainda que, na província do Uíge, por exemplo, das várias indústrias panificadoras existentes só uma é gerida por um nacional, estando as restantes nas “mãos” dos estrangeiros. Referiu que nas outras províncias do país o cenário é ainda pior. “Das poucas padarias existentes de empresários nacionais muitas são geridas por empresários estrangeiros”, avançou, acrescentando que a disparidade acontece por causa do fraco financiamento da banca nacional ao empresariado, facto que os coloca em condições de vulnerabilidade.

Mais trigo no mercado

Referiu ainda que, apesar da situação da matéria-prima (trigo) estar resolvida, graças aos esforços implementados pelo Executivo através do Entreposto Aduaneiro, adstrito ao Ministério do Comércio, a principal dificuldade agora está relacionada com a aquisição de equipamentos, tais como fornos, pás e não só. “Já temos o problema da matéria- prima resolvido. No entanto, persistem outros problemas, como os micro e pequenos fornos, manutenção e conservação dos mesmos”, explicou. Gilberto Simão contou ainda que os equipamentos para a fabricação do pão estão a ser comercializados a preços muito altos. A título de exemplo, sublinha que uma pá que serve para retirar o pão do forno, por exemplo, que nos outros países é comercializada ao preço de USD 20, em Angola custa o equivalente a USD 500. O presidente da AIPPA salientou também que dada essa dificuldade, os nacionais não conseguem manter o seu negócio e muitos acabam por encerrar ou mesmo vender aos estrangeiros.

“Os nacionais continuam em desvantagem porque não conseguem adquirir equipamentos tal como fazem os estrangeiros, que têm maior domínio do mercado. Os estrangeiros têm também maior facilidade de crédito a partir dos seus países”, lamentou, ressalvando não ter nada contra os estrangeiros. “O que pretendemos é que os angolanos tenham as mesmas condições que os estrangeiros. E isso só é possível com o apoio da banca nacional”, argumentou. Por isso, Gilberto Simão defende a “criação de um fundo de financiamento para os empresários”, que reúna agentes dos sectores do comércio, da banca e de outros sectores de modo a facilitar o empresariado nacional. “Pretendemos ter os estrangeiros a trabalhar connosco, mas em pé de igualdade com os angolanos, para que todos contribuam para o desenvolvimento do país”, reiterou.