Doenças respiratórias “asfixiam” hospitais municipais

Doenças respiratórias “asfixiam” hospitais municipais

As bronquites e a asma são das doenças com maior número de casos nesta época de frio, com uma média de cinquenta casos diários nas urgências dos quatro principais hospitais municipais, em Cacuaco, Cazenga, Viana e Sambizanga

POR: Domingos Bento

Pessoas com tosse, com dificuldades de respirar, engripadas e com bastante calafrio é o cenário que se encontra nos corredores dos hospitais municipais de Cacuaco, Cazenga, Viana e Sambizanga que, desde a entrada do Cacimbo, têm registado um número elevado de doenças respiratórias. Tal como constatou o OPAÍS durante uma ronda efectuada por estas unidades sanitárias, são pessoas de todas as idades que, desde as primeiras horas do dia, lotam os bancos de urgências e as salas de consultas externas.

Do conjunto de doenças respiratórias, próprias da época fria, as bronquites, a asma, as tosses e as pneumonias são das patologias que mais dão entrada nestas unidades de saúde pública, que foram construídas em 2012, com vista a aproximar os serviços e os cuidados sanitários junto dos cidadãos e assim descongestionar as grandes unidades de referência como o Américo Boavida, o Josina Machel e o David Bernardino. Só no Hospital Municipal de Cacuaco, são cinquenta casos de doenças respiratórias atendidos diariamente, sendo as gripes, a asma e as bronquites as que lideram a lista das ocorrências. As crianças dos 0 aos 5 anos são as que mais dão entrada naquela unidade sanitária, conforme explicou a sua directora clínica, Felismina Santos.

Segundo a médica, devido à negligência da maioria das mães, grande parte dos casos aparece com quadro clínico preocupante, pelo que, para essas situações o tempo de tratamento é mais complexo. É o caso de Rebeca Azevedo, que, apesar de já conhecer o estado de saúde débil da Filha, de 7 anos, que convive com complicações de asma desde que nasceu, ainda assim procurou tardiamente a assistência médica. Segundo a funcionária pública, não procurou antes por causa do trabalho, que não tem contribuído para que tenha folgas para ir ao hospital. Mas, esta semana, ao ver a dificuldade da filha em respirar, teve que largar tudo para evitar o pior. “Como todos os anos, nesta fase, ela costuma ter recaídas, mas leves. Então, pensei que fosse apenas mais uma crise e por isso nem me preocupei.

Mas enganei-me, porque notava que cada vez mais ela piorava. Não tive outra opção senão acorrer ao hospital”, atestou a progenitora. De acordo com Felismina Santos, nesta época, as doenças oportunistas são cada vez mais frequentes, pelo que é importante que a procura por assistência médica seja cedo para facilitar o tratamento. Nestes casos, o paciente não precisa sequer de ser internado, tão pouco ter um acompanhamento complexo. Já os casos negligenciados podem, caso não sejam tratados com a urgência recomendada, evoluir para situações mais graves, passando mesmo de doenças respiratórias simples para agudas. “Para os casos simples não se precisa grandes fármacos. O tratamento é apenas com hidratação. Já os casos específicos, como a asma e as pneumonias, o tratamento é mais orientado“, frisou a responsável clínica.

Ao serviço de outras municipalidades

No entanto, devido à sua proximidade com outros municípios de Luanda, Felismina Santos fez saber que a sua instituição tem recebido casos provenientes de municípios circunvizinhos como Icolo e Bengo, Quiçama, Viana e Caxito, este último, da província do Bengo. “Embora estejamos alocados no município de Cacuaco, recebemos pessoas doutras partes de Luanda e do país. E o que temos feito é o redobrar de esforços no sentido de darmos respostas a todos, da mesma forma”.

Sambizanga com 40 ocorrências diária

Já no hospital municipal do Sambizanga, segundo a sua directora, Júlia Nascimento, recebem um total de quarenta casos de doenças respiratórias diariamente. Tal como em Cacuaco, o banco de urgência, de acordo com a responsável, é também o que apresenta maior número de casos com uma afluência de pacientes de várias idades. Nesta unidade, grande parte das vítimas são igualmente as crianças menores de cinco anos de idade, que, regra geral, apresentam febre. Para estes casos, o tratamento, conforme explicação da médica, é bastante cuidadoso, de forma a manter o estado de saúde equilibrado e assim evitar o agravamento dos casos.

Prevenir para não remediar

De acordo com Sérgio Manuel, médico, a ideia da construção dos hospitais municipais do Sambizanga, do Cazenga, de Cacuaco e de Viana foi no sentido de descongestionar as grandes unidades. Porém, passados seis anos, desde que estas unidades foram erguidas, ainda se verifica uma grande afluência nos bancos de urgência devido à inobservância dos factores de riscos por parte da população. Tal como esclareceu, muitos casos que vão parar a estas e outras unidades deviam ser evitados caso os factores de prevenção fossem levados em conta no seio das famílias. Segundo Sérgio Manuel, nesta época de Cacimbo os cuidados com a saúde devem ser redobrados, sobretudo com as crianças e pacientes com doenças crónicas, de forma a evitar e evolução para um quadro clínico grave. “O problema das nossas famílias é que negligenciam os primeiros sintomas. Só procuram por assistência médica quando os sinais, que até então eram mínimos, passam a ter interferência no seu dia-a-dia, apresentando dificuldades na respiração, acompanhado de tosses com intensidade. Portanto, as doenças respiratórias podem ser graves quando não se tem o acompanhamento devido. Precisamos prevenir para depois não remediar”, defende.

Época em que se reduz os casos de malária

Se, por um lado, as doenças respiratórias asfixiam os quatro hospitais municipais, por outro, a malária, que é a principal causa de mortes no país, teve uma redução significativa, desde a entrada da época de Cacimbo, na ordem dos cinquenta por centro. A ausência de chuvas é, no entender de Júlia Nascimento, do Hospital do Sambizanga, dos principais motivos que propiciam esta redução. Nos bancos de urgência destas unidades, tal como constatou a nossa reportagem, são poucos os casos de malária que dão entrada. Os hospitais que, em média, registavam entre 50 e 100 casos da doença, actualmente estão com uma diminuição na ordem dos 50 por cento, o que tem facilitado melhor assistência clínica, que se processa de forma eficiente e fluída. “É uma redução própria, nesta fase do ano. E é normal, mas nem com isso as pessoas devem deixar de observar os cuidados de saúde no que toca ao uso do mosquiteiro, sobretudo as crianças e mulheres grávidas. Os mesmos cuidados devem ser para outras doenças oportunistas”, atestou Júlia Nascimento.

Velhos problemas

A falta de recursos humanos, de materiais gastáveis e de equipamentos especializados são dos grandes problemas que os hospitais municipais enfrentam, desde que foram criados em 2012. Esta situação, segundo os responsáveis por estas unidades, tem vindo a criar grandes constrangimentos na melhoria da assistência e no tratamento dos cidadãos que diariamente acorrem à esses espaços de saúde. Neste período seco a situação é controlada devido à pouca afluência de pacientes. Já no tempo chuvoso, devido ao pico das doenças diarréicas e da malária, o quadro costuma a ser crítico. Segundo a população, que acorre a estas unidades, a falta de fármacos e de recursos humanos tem representado uma verdadeira frustração e, por isso, muitos preferem abdicar destes hospitais e percorrerem longas distâncias à procura das grandes unidades. “O atendimento, no Hospital Municipal do Cazenga, só é bom neste tempo seco porque há poucos doentes. No tempo de chuva a pessoa até nem põem os pés aqui porque já sabemos das dificuldades. Nunca tem nada. Tudo vem de fora. É triste! O Estado já nos construiu esse hospital grande, mas ainda temos de ir noutras zonas quando estamos doentes”, lamentou Tanísia Augusto, utente do Hospital Municipal do Cazenga.