Research Atlantico: As contas externas de angola em 2017

Research Atlantico: As contas externas de angola em 2017

Os dados divulgados pelo Banco Nacional de Angola (BNA) relativos às contas externas de 2017 sugerem que a economia nacional continuou a experimentar desequilíbrios internos, que se reflectiram nos saldos das contas externas. Entretanto, na economia global, cada vez mais interligada e interdependente, os desequilíbrios internos dos países são, em muitos casos, compensados com a variação dos activos externos, alterações na competitividade ou pela variação da dívida do país.

POR: Atlantico

A Balança de Pagamento (BP), enquanto instrumento contabilístico, regista os fluxos reais, monetários e financeiros de um país com o resto mundo, que proporciona a perspectiva da posição de um país, num dado período de tempo, face ao resto do mundo. A caracterização da BP nas principais contas – corrente, de capital e financeira – é de particular importância para avaliação da dependência, competitividade e da posição na divisão internacional de trabalho de um país. E, para a actual conjuntura económica do país, também ganham particular relevância a conta global e as reservas oficias líquidas, que reflectem a capacidade do Estado em honrar com os seus compromisso externos e garantir a estabilidade cambial sem comprometer a sua posição externa.

A garantia de pagamentos do serviço da dívida externa, transferência de juros, dividendos de capitais privados, etc., são elementos fundamentais para a atracção e manutenção do Investimento Directo Estrangeiros (IDE) e da contratação de dívida, pública e privada, nos mercados internacionais a custos competitivos. Durante o período em análise, o défice da conta corrente externa registou uma redução de 69,3%, ao fixar-se em -942,73 mil milhões USD, como resultado de um aumento do superavit na conta de bens em 40,2%. Destaca-se que o peso das exportações petrolíferas, apesar de se manter estável, representa a maior parcela das exportações totais, com cerca de 96%, com a China a destacar-se, com uma quota de 58% sobre as exportações de petróleo.

Por outro lado, as importações de bens de consumo corrente, bens intermédios e de capitais, representam 65,5%, 9,9% e 24,5%, respectivamente, das importações totais de mercadorias. Relativamente à conta de serviços, a rúbrica assistência técnica continua a desempenhar um papel fundamental para o défice apurado na conta referenciada. Com um nível de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB), o défice da assistência técnica aumentou em 2017, em 10,7%, ao situar- se em 5.098,47 milhões USD. Os valores são elevados e sugerem a necessidade de uma maior aposta nos serviços produzidos internamente, sendo que a postergação de tal aposta poderá condicionar a eficiência do Programa de Substituição das Importações e Promoção das Exportações (PRODESI), retardar a alteração do padrão nas contas de serviços, e reduzir o potencial de criação de emprego e da capacitação do capital humano nacional. No período em análise, as contas de “capital + financeira” deterioraram- se, apresentando uma variação negativa de 191% face ao ano anterior, situando-se em -5.472,16 milhões USD, que equivale a 5% do PIB.

A conjugação da redução da entrada de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), em 36%, para 8.559,01 milhões USD, e o aumento da saída de IDE em 3,2%, para -12.455,26 milhões USD, influenciou o desempenho das contas. Assim sendo, a posição internacional registou reduções, com as Reservas Internacionais Líquidas a atingirem os mínimos dos dados históricos divulgados pelo BNA ao situarem- se em 13.458,04 milhões USD, abaixo do nível necessário para a cobertura de seis meses de importação, recomendados pelas metas de convergência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). O stock da dívida externa, incluindo os atrasados, registaram um desempenho positivo, fixando- se em 42.147,22 milhões USD, o que equivale a 38,2% do PIB, e a uma redução de 3% face ao nível apurado no ano de 2016. Destaca-se que durante o período em análise a dívida comercial e bilateral reduziram 3,1% em cada uma das categorias, enquanto a dívida multilateral e as comissões registaram aumentos de 1,0% e 5,3%, respectivamente.

O resultado da diferença entre as contas, capacidade ou necessidade financeira, tem reflexo directo sobre o Produto Interno Bruto e na capacidade de criação de emprego de um país, através dos mercados de produto, capital e monetário. Portanto, a consolidação fiscal através da redução do défice das contas públicas, aliada aos ajustamentos cambiais e a maior abertura ao investimento e comércio externo deverão ser determinantes para a melhoria das contas externas e a consequente redução das necessidades de financiamento e exposição da economia nacional, com efeitos nos níveis de preços na criação de emprego e no crescimento económico.