O caenche do Multicaixa

O caenche do Multicaixa

Parou, mas apenas depois de os nossos olhares se terem cruzado, porque a sua primeira intenção era a de avançar por aí adiantei como se eu não existisse.

POR: José Kaliengue

Eu fiz um esforço para manter um olhar de pedra, silencioso, para que ele não soubesse o que diziam os meus pensamentos. Perguntou então se eu era o último na fila para o Multicaixa. Eu disse que sim e ele colocou-se atrás de mim. Mas antes tratou-me por papá. Sei que esta minha cara de velho não ajuda. Mas estou farto de ser chamado de papá por gente mais velha do que eu ou por tipos que apenas poderiam ser meus filhos, se os tivesse tido com seis anos. Bem. Em Angola dizem que isso é sinal de respeito, vamos respeitar só já… Então fiquei a observá-lo, um armário, músculos capazes de me desfazer sem qualquer esforço. Vai que se tratava de um fisiculturista. Mas tinha um senão, aquele caenche: barriga de cerveja. Portanto. Um fisiculturista cheio de barriga. Lembrei-me de ver futebolistas angolanos, supostamente com potencial, a beber cerveja que dava para encher um mar. Agora em dias de Copa, lembro-me que não singraram. Se calhar. Daqui a pouco ainda me lembrarei de um país que tem uma juventude cheia de potencial mas que também tem mais cerveja do que utilidades… quem souber de que país se trata que me ligue.