Lucas Chivukuvuku “morreu asfixiado”, diz Abel, o tio

Lucas Chivukuvuku “morreu asfixiado”, diz Abel, o tio

Lucas Chivukuvuku, de 32 anos, funcionário da PGR, que supostamente terá sido vítima de acidente de viação na zona da Unidade Operativa de Luanda, na última Quinta-feira, segundo os médicos legistas morreu asfixiado. A autópsia citada pelo seu tio, Abel Chivukuvuku, refere ainda que o cidadão sofreu traumatismo craniano e a fractura total das costelas

POR: Romão Brandão

Foi feita, ontem, a autópsia de Lucas Chivukuvuku para o esclarecimento das circunstâncias em que morreu o funcionário da PGR que, segundo a família, investigava casos de corrupção. Estas funções seriam depois esclarecidas pela PGR em comunicado. Segundo Abel Chivukuvuku, tio da vítima, os médicos legistas descartam a morte como resultado de um acidente de viação, indicando antes que “teria sido morto por asfixia e depois um veículo pesado passou por cima dele. Tem o crânio completamente rebentado, várias costelas partidas, mas não tem lesões nos membros superiores nem inferiores”. Ontem, “a família teve que insistir que se procedesse à autópsia, porque os médicos legistas recebiam instruções da Polícia”, segundo Abel Chivukuvuku.

“Os médicos legistas dependem da orientação superior da Polícia quando fazem o seu veredito”, reforçou o político à imprensa, à saída da morgue. Lucas Chivukuvuku trabalhava na PGR há 10 anos, “investigava casos de corrupção envolvendo altas figuras angolanas”, segundo o seu tio, e sofreria assédio “para adulterar processos”. Quinta-feira, Lucas levou processos para casa com a intenção de, Sexta-feira, bloquear algumas contas bancárias, como tinha sido orientado pela sua chefe. Quinta-feira, Lucas Chivukuvuku, filho de Américo Chivukuvuku, esteve a trabalhar com os colegas agentes do SIC. Foi neste dia que desapareceu e foi encontrado morto com sinais de espancamento, na morgue do Hospital Maria Pia.

Os dois médicos legistas, um russo e outro cubano, segundo Abel Chivukuvuku, teriam descartado a possibilidade avançada pela Polícia, de a vítima ter-se lançado de um táxi ante a iminência de um acidente de aviação. Abel mostrou-se triste com esta situação, bem como as circunstâncias em que o sobrinho foi morto, pois, como disse, se aqueles que têm de investigar os crimes são mortos, que país teremos? Questiona. Exige justiça, pois, se hoje é o seu sobrinho, amanhã poderá ser alguém que não tem parentes que possam exigir que se faça justiça. Da morgue, Abel Chivukuvuku dirigiu-se à Procuradoria- Geral da República para exigir esclarecimentos, porque o seu sobrinho foi quadro sénior da PGR trabalhou com o procurador- geral adjunto Kachaca.

PGR reage à morte do funcionário

Numa nota de condolências, a Procuradoria-Geral da República disse que Lucas exercia a função de oficial de diligência nos serviços da PGR junto do SICCrimes Económicos, em Luanda. A nota diz ainda que as funções que o malogrado exercia não incluíam responsabilidades específicas para investigar crimes ou capacidade para determinar restrições de movimentação financeira no âmbito da instrução processual que conduzam, sem mais elementos, à presunção de que a morte tenha como motivação uma eventual perseguição por razões profissionais. Para finalizar, a direcção da PGR e o colectivo de trabalhadores lamenta profundamente o ocorrido e apresentam à família enlutada os mais profundos sentimentos de pesar.

Polícia diz que foi acidente de viação

A Polícia Nacional, neste caso o Comando Provincial de Luanda, através de um comunicado emitido ontem, e a que o OPAÍS teve acesso, revelou que Lucas Chivukuvuku foi vítima de acidente de viação, às :00 de Sexta-feira, 05, resultante de um despiste e consequente tombo da viatura em que viajava. O comunicado refere que a vítima estava a bordo de um Toyota Hiace, de cor azul e branca (táxi), com a chapa de matrícula LD-41-01-FQ, conduzida pelo cidadão João Catarina Eduardo, 29 anos de idade, cuja taxa de álcool no sangue era de 1.05gls. O taxista, ao descrever a rotunda por baixo do viaduto da Unidade Operativa de Luanda – Avª Deolinda Rodrigues, no sentido poente, perdeu os travões e, ao tentar dominar o veículo, embateu no lancil e causou o tombo da viatura.

“Como consequência do acidente, um dos ocupantes (na altura da ocorrência não identificado por não se fazer acompanhar de qualquer tipo de identificação) acabou por perder a vida ainda no local da ocorrência”, lê-se no comunicado. Note-se que a vítima (que por precipitação), saltou do veículo, veio posteriormente a ser identificada como Lucas C. Chivukuvuku, solteiro de 32 anos de idade, filho de Américo Chivukuvuku e de Auria Chissolucombe. O comunicado salienta que o cadáver foi removido para a morgue central do Hospital Josina Machel e o veículo para Unidade de Trânsito (onde se encontra até à data presente). Quanto ao motorista, encontra-se detido e hoje, 09, deverá ser apresentado ao Ministério Público (para os devidos procedimentos legais).