7 velinhas

7 velinhas

Man Zé nem queria acreditar, já se tinham passado sete anos desde que se mudara para a centralidade, recordava saudoso como tinha sido o enamoramento.

POR: Kâmia Madeira

Fez uma primeira visita ao andar modelo acompanhado por um colega, na primeira viagem o caminho parecera-lhe distante da cidade, mas o aspecto e cheiro a novo fizeram-lhe brilhar os olhos, foram os dois dar o nome e o Nif num posto da SONIP e saíram cheios de esperança de que seriam chamados. Tempos depois viu na TV que havia um novo processo de candidaturas, após baixar a ordem de que se habitasse a cidade, pelo então presidente Eng. José Eduardo…. Man Zé ficou aflito e o processo anterior? Ligou para o colega que indicou quais os documentos a tratar e correu para fazer fila, num aglomerado de gente que dormia ao relento e pagava para passar à frente. Depois de vários dias a faltar ao serviço conseguiu o seu apartamento, sem ter que subornar nenhum funcionário…. Finalmente teria a sua casa e poderia acomodar a família, a mulher já tinha contado à toda a vizinhança do Marçal que se mudariam e com a irmã mais velha providenciado uma viagem à China para comprar a mobília… Se Man Zé soubesse… Tantas dívidas fi zeram, mas na altura era o sonho da casa própria a ser concretizado. Mudaram-se para um prédio de 12 andares, com dois elevadores e porteiro, criou-se uma Comissão de Moradores e tudo parecia perfeito, com a excepção da água que só vinha a determinados períodos do dia. Man Zé, estava satisfeito com a casa bonita decorada ao melhor estilo oriental, com luzes néon e incrustados, sofás em T e cinco quartos para acomodar todos, até conseguiu ter o seu escritório que à noite se transformava no quarto da avó Chica…. Só não gostava mesmo é de ter que acordar às 4.30 para sair uma hora depois e pôr-se a caminho do seu local de trabalho. Volvidos sete anos, Man Zé já não tem tantas ilusões, o fornecimento de energia continua estável, mas são cada vez mais as pessoas que ficam sem contadores e que a empresa por não ter equipamento tem que ir à casa carregar, a água depois de um período sem “mazelas” ficou intermitente sendo muitas das vezes os “cooperantes “ chineses a salvar a situação, pese embora o dinheiro que fazem por fora, por serem os únicos a perceber as engenharias das suas construções. O Lixo com três recolhas diárias foi substituída por uma, e nem a taxa de lixo evita que os catadores sobrevivam do que os citadinos deitam fora. Jardins verdejantes outrora dão lugar a ninhos de reptéis e a um ar de desolação onde para indignação dos cidadãos se cedem espaços para barracas de comercialização de bebidas e roupa. E o que dizer das constantes viagens dos reboques a mando da administração, esperando apanhar os incautos que estacionam os seus carros em sítios proibidos… para os reaver são 75.000kz de multa. 7 velinhas depois, falta iluminação, mais espaços para as crianças brincarem, e a necessidade de preservação de algo que é um bem comum. Man Zé já não está assim tão radiante, dos dois elevadores só um funciona, os vizinhos não pagam a taxa de condomínio e um dos porteiros foi embora por atraso nos salários. As contas só fazem é crescer e Man Zé pondera regressar ao Marçal, pelo menos lá ninguém o manda pagar IPU nem conta da recolha do lixo.