Patriotismo

Patriotismo

Se a vida merece ser vivida para jogar os mais belos jogos (…) e ganhar, dizia Platão, falar do patriotismo, para além de ser complexo e conter interpretações e pontos de vista difusos, obriga-nos a olhar para a beleza colateral que, por vezes, não conseguimos discernir porquanto a realidade dos factos face às assimetrias que conformam as sociedades, é mister perguntar não se o patriotismo é uma forma de ser mas sim de estar?

POR: Alberto Kizua

Socorrendo-me de alguns estudos e publicações que permitiu, julgo eu, uma simbiose entre Ser e Estar, possibilitando uma percepção mais abrangente de alguns conceitos que vão suportar o argumento de modo a permitir uma compreensão mais aprazível da abordagem, foi possível resumir e sublinhar que a complexidade da questão implica, portanto, uma abordagem que enfatize diversos ângulos. Ou seja, há do meu ponto de vista, duas dimensões complementares para lidar com a questão, porquanto o seu entendimento completo exige: a compreensão da heterogeneidade da sociedade angolana; a constatação da existência de várias contribuições de estudiosos na vertente dos antecedentes e conceitos. Como quase todos os conceitos políticos e filosóficos, também o patriotismo é alvo de inúmeras conceptualizações conflituantes que, segundo Alasdair MacIntyre, ocorrem num espectro que tem num extremo a ideia de que o patriotismo é uma virtude e, noutro, que é um vício. Resumidamente, pode-se definir o patriotismo como o amor pelo próprio país, identificação com este e preocupação com os nossos compatriotas. E nada mais do que certo para confirmar esta tese senão a vivencia dos angolanos que sempre esteve ligada ao instinto do associativismo, marcado pelos traços de identidade muito profundos e pela capacidade de discernimento, característica importante que permitiram várias reivindicações que desencadearam na luta de libertação que por sua vez culminou com a conquista da independência nacional. Falar de Patriotismo implica necessariamente termos em conta o percurso que Angola trilhou para a consolidação da paz, e tem mantido para a salvaguarda das instituições democráticas do país. Com a paz efectiva alcançada em 2002, os angolanos demonstraram a sua de escolha entre o bem e o mal, de corrigir os próprios erros, abrindo assim perspectivas para novos rumos de desenvolvimento económico e social. Mas este sentido de unidade, produzido pelas experiências em comum, tem que abrir-se também à unidade no conhecimento de outros aspectos culturais menos relacionados com a natureza. Tratar-se-á de explicar aspectos da história local, de seus heróis, de seus personagens famosos, e de ensinar-lhes costumes típicos, bailes, etc., de tal forma que se sintam parte de um trajecto histórico comum. Os valores que podem ser vividos a nível da pátria podem englobar-se no que poder-se-ia intitular “o bem comum”. E esse “bem comum” requer o trabalho bem feito, com responsabilidade de todos os seus membros, a luta para conseguir uma sociedade justa, a paz efectiva e o respeito pela própria terra, as instituições, costumes, histórias e acontecimentos que existam. Haveria que reconhecer que as crianças e os adultos- necessitam frequentes actos, simbólicos ou não, para sentirem-se membros de uma pátria. Neste sentido, pode ajudar: uma festa nacional, os acontecimentos de uma pessoa da própria nação no estrangeiro, programas na televisão sobre as regiões do país, desfiles militares, reuniões nacionais de profissionais, etc. Tampouco devemos desprezar os símbolos usados com frequência, como são o hino nacional escutado com respeito ou a bandeira nacional. Se os pais ensinam seus filhos a escutar o hino nacional com atenção, se falam de sua história com esperança, se informam sobre os distintos aspectos do país, se os colocam em contacto com o património comum, os filhos reconhecerão o que a pátria lhes deu e o que lhes dá. Respeitarão a pátria e poderão tentar lutar pessoalmente para que essa pátria seja a melhor possível- pois assim fizeram os meninos à volta da fogueira. Face ao enfoque resumido que precede, podemos dizer que a pergunta que nos colocamos à partida foi respondida – o patriotismo é uma forma de ser e de estar. Pois não se transforma a consciência do homem de um momento para o outro. E a transformação lenta de consciência advogada por Agostinho Neto, encontrou eco no Ivanoe Sanchez, ao afirmar: Somente pode-se conseguir uma situação económica estável num país, se cada pessoa trabalhar responsavelmente, pensando não só nos seus direitos legítimos, como também nos seus deveres e no bem comum. A justiça requer que cada um cumpra com as leis comuns -contando que sejam justas em si- e, portanto, o patriotismo significa cumprir essas leis, pagar os impostos, utilizar o direito ao voto, etc. A justiça necessita, também, que cada um aproveite os meios previstos para conseguir maior justiça em todos os níveis. Portanto, para que possa haver uma pátria unida e forte, o cidadão deve participar activamente nas associações de pais, governo local, etc., de acordo com suas capacidades. A paz é resultado da caridade vivida pelos membros de uma sociedade. Portanto, haverá que buscar o modo de viver a caridade com o vizinho e com todos os demais, respeitando a diversidade de opiniões, pondo-se de acordo para conseguir melhoras, e defendendo-se de qualquer tipo de acto violento que prejudique a paz. Pois, o patriota não é a pessoa que se queixa de seu país. O patriota criticará seu país, mas porá algum meio para corrigir o que criticou.