Angola Combatente

Angola Combatente

Antigamente, em minha casa, de caxexe, ouvia-se o programa Angola Combatente. Recordo o meu pai, com o rádio colado ao ouvido, com o volume no mínimo, escutando as notícias da guerrilha.

POR: João Rosa Santos

Ouvia-se um pouco de tudo o que se passava nas matas, mensagens que despertavam o sentimento nacionalista e faziam crer que a independência estava chegando e a terra iria resplandecer. O programa radiofónico Angola Combatente, abria consciências, aglutinava sonhos, mobilizava jovens, velhos, mulheres e crianças a ingressar nas fileiras da revolução. Não foi por mero acaso, que muito boa gente abandonou as cidades, universidades e empregos para integrar o movimento guerrilheiro. Era uma verdadeira odisseia que tocava os corações, alimentava a alma, orgulhava a angolanidade, fazia acreditar, naquele então, que na continuidade da luta residia a certeza na victória. Esta convicção motivou sobremaneira. A independência nacional foi conquistada. Hoje já adulto, ainda sinto saudades do programa Angola Combatente, da sua força mobilizadora, da sua capacidade educativa, da sua veia inspiradora, dos valores inculcados, da moral em receita convindo a formação do homem novo. Apesar das muitas rádios e televisões, da globalização, da informação, hoje mais do que ontem precisamos de resgatar a mística da boa comunicação, dos bons conteúdos formativos e educativos, capazes de criar valores e fortalecer a nossa identidade. Faz falta mais programas à altura e dimensão da nossa realidade, evocar mais a nossa história, as nossas tradições, os bons hábitos, os bons costumes, valorizar e preservar sempre e cada vez mais a nossa cultura. Angola tem e deve unir-se no combate às más práticas e vícios que ainda enfermam a sociedade. É preciso priorizar a educação moral e cívica, massificar o desporto, fomentar hábitos de leitura, alavancar as indústrias de cultura, criar espaços de convívio ameno e fraterno. É tempo de combater sem tréguas a delinquência, o uso abusivo de bebidas alcoólicas, a prostituição, entre outros males, através de programas e iniciativas sustentáveis, em nome da existência humana e de um futuro bem mais airoso, tal como fazia e reconhecia o programa Angola Combatente. Afinal, a vida não tem preço!