‘Angola deve preocupar-se com os sacos de plásticos’

‘Angola deve preocupar-se com os sacos de plásticos’

O ambientalista Marcelino Francisco considera o plástico como maior o vilão dos resíduos sólidos. Muitos animais marinhos como baleias, golfinhos, tartarugas e até aves marinhas são suas vítimas, um problema com o qual Angola já se deveria preocupar

Em entrevista ao OPAÍS, numa altura em que estava prevista para ontem, Sábado, uma marcha contra o uso de sacos de plástico leves em Angola, o ambientalista Marcelino Francisco falou das consequências ambientais deste tipo de material, que causa sérios problemas ao meio ambiente.

De acordo com o especialista, além de poluir o solo e a água, quando lançados ao mar, os sacos plásticos representam um perigo, principalmente para os animais marinhos, porque estes animais não conseguem distinguir este tipo material do seu alimento natural e acabam ingerindo-o pensando ser algas ou água viva.

Na sua opinião, as reivindicações são muitas e variam muito em função do local ou da região, mas para nosso país, e porque temos uma costa extensa, o plástico deve ser uma preocupação permanente, dada a poluição marinha.

“Como temos uma costa muita extensa, certamente nós temos uma fauna e uma flora que também devemos preservar, e os animais como os golfinhos, tartarugas e aves, que têm na sua alimentação algas, muitas vezes confundem este material com os sacos e ao ingeri-los acabam por morrer asfixiados”, disse.

Volta e meia, para além dos sacos de plástico, encontram animais mortos por terem ingerido tampas de garrafas e outros objectos plásticos. São objectos que durante a recreação o homem usa e acabam projetados no mar. Hoje, muitos destes resíduos plásticos e lixos ficam grudados perto dos embarcadouros, a título de exemplo.

O problema agrava-se tendo em conta que 80% dos sacos que se produz a nível mundial, mesmo os que são usados em Angola, são descartáveis – o que faz com que o consumo seja em grande escala, o que aumenta o nível de poluição ambiental.

Disse ainda que os resíduos plásticos têm um longo período de decomposição (pode fazer 100 ou mais anos), só para mostrar a gravidade do problema. A esperança de vida de decomposição deste tipo de resíduos tem muito a ver com a forma como usamos esses plásticos. “Hoje, devemos ver a questão dos plásticos, já que neste ano, nas comemorações do Dia Mundial do Ambiente, as atenções viraram-se para os resíduos plásticos que são o maior vilão dos nossos tempos para o meio ambiente”, disse.

Queimar sacos não é a solução

Segundo Marcelino Francisco toda combustão ou queima emite ou liberta dióxido de carbono e outros gases. Esses gases propiciam o aumento do efeito estufa, assim sendo, a queima também não é das melhores soluções. Para além de o processo de queima ser caro, já que se precisa de outros meios para garantir a incineração desses produtos. “Aliás, temos vários métodos de gestão de resíduos sólidos que podem ser utilizados.

O que se aconselha hoje é mesmo a eliminação dos plásticos, mas quando falam de eliminação não se trata de todos os plásticos, mas, principalmente daqueles que temos para uso domésticos”, alerta.

Os plásticos não abrangidos são as massas geotêxtis, que são produtos feitos de plásticos resistentes e que, para além de outros fins, são usados também para a impermeabilização de aterros sanitários, de formas a prevenir que o lixiviado tenha uma carga de proliferação muito grande.

Marcelino Francisco está a desenvolver um trabalho ambiental nas valas de drenagem de Luanda e disse que, neste momento, já fizeram todas as coletas para as mostras dos laboratórios, cujos resultados serão conhecidos nos próximos tempos.

Enquanto isso, a marcha contra o uso de sacos plásticos, que está a ser organizada pela Agência Nacional de Resíduos (ANR), órgão tutelado pelo Ministério do Ambiente, foi adiada para o próximo Sábado,04, a partir das 09 horas.

Com o ponto de partida do Largo do Porto de Luanda e indo até ao Largo do Ambiente, este evento tem por objectivo sensibilizar a população e apelar aos operadores sobre a necessidade da mudança de comportamento face aos problemas ambientais, bem como a promoção de uma cultura de gestão correcta dos resíduos.