Escola Rural de Cabíri bálsamo para crianças desfavorecidas

Escola Rural de Cabíri bálsamo para crianças desfavorecidas

Nos últimos oito anos, cerca de quatro mil adolescentes em estado de vulnerabilidade social foram recuperados, formados e reintegrados na sociedade no âmbito da assistencial social que a Escola Rural de Cabíri, de iniciativa pública, vem desenvolvendo com vista a acudir de órfãs, toxicodependentes e abandonados

Texto de: Domingos Bento

É uma rotina produtiva que Godinho Emiliano vem desenvolvendo nos últimos dois anos dentro da Escola Rural de Cabiri, onde está a estudar e a forma-se em serralharia civil. Actualmente, o seu diaa- dia é preenchido com uma série de actividades que têm como objectivo único prepará-lo para a vida. Antes de ir parar naquele projecto social do Governo, construído em 2010, cuja finalidade é assistir menores em situação de vulnerabilidade social como órfãos, dependentes de drogas, abandonados e carentes, Godinho tinha comportamentos desviantes.

No entanto, depois da morte dos pais, em 2016, na altura com apenas 12 anos de idade, Godinho Emiliano, natural da província do Cuanza-Sul, encontrou, nas drogas a via mais fácil para desaguar a dor e o desespero causado pela partida dos progenitores. Foi tudo muito rápido e sob influência dos amigos, o menor iniciou a sua ampla jornada pelo mundo da toxicodependência.

Por pouco não perdeu a vida. Tal como explicou, o primeiro contacto com as drogas começou com o uso de bebidas alcoólicas pesadas. Posteriormente seguiram- se o cigarro, a liamba e outras substâncias que lhe roubaram grande parte da adolescência que devia ser aproveitada com tarefas e actividades próprias da sua idade. Na altura, sem nenhuma fonte de rendimento, explicou, durante o tempo que esteve envolvido nas drogas varias vezes teve que fazer recurso a práticas erradas para sustentar o vício. “Às vezes tirava algumas coisas de casa para vender e os valores era tudo usado para a compra de drogas. Havia dias em que também roubava.

É que o vício era tanto que não conseguia ficar sequer um dia sem fazer o uso de drogas”, frisou. A força dos estupefacientes levou- o a abandonar a escola e a família, tendo de seguida decidido ir viver nas ruas.

Longe de tudo, Emiliano, hoje com 16 anos de idade, disse que nas ruas, para além de intensificar ainda mais o consumo de substâncias nocivas, alargou igualmente a rede de amigos de má-influência, e o caminho para a perdição era cada vez mais uma certeza. No entanto, ter a calçada como moradia impulsionou-o também a cometer, com maior regularidade, acções delituosas como roubos, lutas de gangs e outras situações que metiam em risco, não só a sua vida, como também as de terceiros.

“Só quando a situação já estava mesmo péssima é que os meus tios, que vivem cá em Luanda, decidiram ir à minha busca. Postos em casa, conversaram bastante comigo, levaram-me em vários sítios a fim de encontrarem a solução para a minha vida. É que estava mesmo mal”, notou. Actualmente, o adolescente encontra-se livre das drogas.

Foi por via de um trabalho multidisciplinar desenvolvido na Escola Rural de Capacitação que hoje o mesmo enxerga a vida por um outro ângulo. Todos os dias marca passos firmes em direcção ao recomeço, apreendendo uma série de artes e ofícios que no futuro vão poder garantir-lhe o futuro.