Guerra da batata estala na Matala

Guerra da batata estala na Matala

O clima está cada vez mais tenso entre os camponeses associados do perímetro irrigado da Matala, na província da Huíla, e a sociedade de Desenvolvimento da Matala (SODMAT), encarregada de gerir as terras do referido perímetro. Para já, os dois lados trocam acusações sobre dívidas, com as sementes de batata no centro da discussão

Texto de: João Katombela, na Huíla

Quinhentos e dezoito agricultores organizados em sete cooperativas acusam a direção da SODMAT de não estar a realizar a sua real tarefa, consubstanciada na aquisição de sementes, fertilizantes e outros insumos agrícolas. Falando à imprensa, os responsáveis das cooperativas dizem que há muito que a SODMAT deixou de cumprir o seu papel, pelo que pedem que a empresa abandone a gestão do perímetro.

O presidente da cooperativa 1º de Dezembro, da localidade de Castanheira de Peras, e que explora 25 hectares de terra, Paulo Mukunda, diz que a Sociedade de Desenvolvimento da Matala faliu há muito tempo. “A SODMAT, no princípio apoiou-nos com algum material técnico, mas agora estão na falência, por isso os camponeses não querem a SODMAT, porque eles já não estão a fazer mais nada” disse.

Por seu lado, o presidente da Cooperativa 1º de Maio, Victor Fernandes, disse que a SODMAT despiu- se das suas responsabilidades, por isso defende a criação de uma federação de cooperativas para a gestão das terras.

A fonte falou igualmente em desvios de fundos destinados ao apoio à produção agrícola, facto que deu origem, segundo disse, a uma baixa na colheita de produtos do campo. “Todos estamos a ver que os perímetros não estão a funcionar, as empresas gestoras, que eram sociedades, não estão a cumprir o seu papel verdadeiro, há desvios de fundos, não há cumprimento daquilo que poderiam fazer, como apoiar os camponeses” afirmou.

Victor Fernandes acrescentou que o desvio de cerca de USD quatro milhões pela anterior gestão da SODMAT, teve repercussão negativa na vida dos camponeses que exploram o perímetro irrigado da Matala, tendo a empresa acumulado dívidas com os agricultores. “Este desvio trouxe muitos problemas, pois a empresa gestora (SODMAT) que estava aqui, só criou dividas aos agricultores. Digo estava, porque está fechada, não funciona!

Criou algumas políticas de ajuda aos agricultores, mas essas politicas só nos meteram na pobreza. Por exemplo, há uma empresa denominada A GROSHOP que forneceu sementes de batata-rena aos agricultores com o compromisso de no fim comercializar a produção” revelou. mas a referida empresa não honrou o que havia sido acordado com os agricultores, tendo desaparecido mais tarde.

“A SODMAT estava à frente da comercialização da batata-rena que foi toda para a FRESCANGOL em Luanda, e essa produção até hoje não foi paga aos agricultores” disse. O PCA da SODMAT Cipriano Ndulumba, ele, diz que os agricultores têm umadívida milionária e, ao mesmo tempo faz lembrar que todas as acções que a empresa realiza são orientadas pelo Estado.

Cipriano Ndulumba disse ainda que no passado a SODMAT prestou assistência técnica nos domínios de abastecimento de insumos agrícolas e da extensão agrícola aos produtores, e esclareceu, “Forams os próprios produtores que prescindiram do abastecimento técnico-material da SODMAT.

Primeiro, porque todas as cooperativas que estão no perímetro irrigado da Matala foram potenciadas através do BDA (Banco de Desenvolvimento de Angola), com uma brigada de mecanização agrícola e agora já não precisam da SODMAT nesse domínio; segundo, até 2015 a SODMAT procedeu ao abastecimento de insumos agrícolas, como sementes de batata e fertilizantes, mas nesse mesmo ano, um conjunto de agricultores reuniu-se e decidiu que a SODMAT já não deveria vender insumos agrícolas” explicou.

A fonte adiantou que os camponeses justificaram a sua decisão pelo elevado preço que na altura estava a ser praticado pela empresa que dirige. Em todo o caso, actualmente, Cipriano Ndulumba entende que a actitude dos agricultores demonstra a intenção de não querer pagar as dividas que têm, quer com a SODMAT, quer com o BDA.

Os camponeses Associados, segundo disse, devem à SODMAT cerca de Kz 196.111.838,67 (cento e noventa e seis milhões, cento e onze mil e oitocentos e trinta e oito Kwanzas e sessenta e sete cêntimos) referente aos anos de 2008, 2009,2010, 2011, 2012 e 2013.

E, para abrir mais a ferida, aponta como principal devedor o responsável da Cooperativa 1º de Maio, pelo facto de ter pedido à Sociedade deDesenvolvimento da Matala mais de Kz 4 milhões.

“Um dos coordenadores deste grupo, o senhor Victor Fernandes, é um dos grandes devedores do perímetro, nem sequer contrato com a SODMAT tem, em 201,1, no mês de Março, ludibriando o meu antecessor, foi pedir quatro milhões e quinhentos mil Kwanzas, com a promessa de devolver no prazo de trinta dias, o mesmo, como coordenador de uma cooperativa, apresentou uma série de produtores que precisavam de sementes e fomos nós quem os abasteceu” avançou.

Cipriano Ndulumba acrescentou que a “série” de produtores apresentados por Victor Fernandes, e composta maioritariamente pelos seus familiares, entre esposa, cunhados e sogras, recebeu sementes de batata avaliadas em Kz um milhão e setecentos mil. Na sequência, informou que, embora com alguns desaparecidos, os mesmos já foram intimados a proceder à liquidação das suas dívidas, e assim sendo, vai partir para a cobrança coerciva.

“Eles defendem a saída da SODMAT porque acham que com a saída da direcção a divida ficará esquecida, mas não! Quando nós partirmos para a cobrança coerciva existe um outro nível de tratamento que trata das cobranças coercivas, são os tribunais” assegurou.

Questionado sobre a dívida da SODMAT para com os produtores, Cipriano Ndulumba, respondeu que a empresa que dirige já não tem qualquer dívida com os homens do campo.

“A SODMAT, neste momento já não deve nada a ninguém, a verdade é que quando a nova direcção tomou posse, encontrou uma dívida da FRESCANGOL para com os produtores de cerca de USD quinhentos e sessenta mil. Na altura, os camponeses diziam que não conseguiam produzir porque a FRESCANGOL tinha levado a sua batata, por isso a SODMAT pagou toda a divida desta empresa aos produtores.

Matala produz 11 mil toneladas de batata-rena anualmente

Matala é um dos 14 municípios da província da Huíla. Potencialmente agropecuário, sobressai a produção da batatarena, porque existem condições para o seu cultivo (terrenos férteis e facilidade de acesso à água). No município da Matala a produção de batatarena ronda entre 10 e 11 mil toneladas por ano.

No referido município está em curso o trabalho de melhoria dos solos, o que vai permitir aumentar a colheita da batata rena para mais de 20.000 toneladas por cada época.

O processo de melhoria dos solos em curso na Matala vai permitir, nos próximos tempos, produzir, entre 20 e 30 toneladas de batata rena por hectar.

Por esse motivo, está na forja a preparação da próxima campanha agrícola com perspectivas de aumentar os níveis de produção em relação ao período 2016/2017.

O programa de melhoria dos solos vai permitir colher entre 28 a 30 toneladas de batata por hectar, contra as actuais 12 a 15 toneladas.