Supostos polícias baleiam e algemam cidadão em hospital

Supostos polícias baleiam e algemam cidadão em hospital

Solicitado a analisar o caso, o advogado Manuel Marinho considerou o facto de o cidadão se encontrar algemado na cama do referido hospital como uma violação aos direitos humanos, uma vez que está privado de satisfazer nas necessidades fisiológicas.

O cidadão Estevão Mala Vicente João António, de 30 anos, está há sete dias, a contar de Segunda- feira, 30, algemado a uma das camas do Hospital Geral de Luanda, para onde foi transportado por efectivos da Polícia Nacional destacados no Comando da Divisão do Kilamba Kiaxi após o alvejarem na perna direita. Em entrevista a OPAÍS, na cama do hospital, o cidadão contou que está impossibilitado de tratar da higiene pessoal e condicionado a satisfazer as necessidades fisiológicas, consideradas de vitais para todo o ser humano. “Também não consigo fazer as refeições devidamente. Tenho suportado terríveis dores no corpo por não conseguir mudar de posição.

Tem sido muito difícil”, frisou. O jovem foi baleado por dois supostos agentes da Polícia Nacional destacados neste comando, na Segunda- feira, 30, no momento em que se encontrava em casa da sua sogra, no bairro Calemba II, de visita à mulher e ao filho, que completou o primeiro mês de vida na Quinta-feira, segundo conta. Estevão António estava a desfrutar da sua companhia, diz, quando apareceu um moto-taxista, identificado apenas por Yuri, que ele contratara havia um mês para, em companhia de um amigo, comprarem blocos de construção civil para depositar na sua obra. Afirma que o moto-taxista estava acompanhado por dois presumíveis agentes da Polícia, à paisana, cujos nomes não conseguiu precisar, e que, sem lhe dirigirem qualquer palavra, o alvejaram na perna direita.

Alegada motivação do crime

Segundo conta, o facto de Yuri ter ficado indevidamente com os 100 mil kwanzas que serviriam para custear os blocos e o aluguer da motorizada de três rodas, também designada de “Avó Veio”, levou-o a reter temporariamente o meio rolante até que lhe fosse devolvido o dinheiro. Estevão António disse que, depois de várias tentativas fracassadas de o moto-taxista reaver a motoriza, por se ter manifestado indisponível para devolver o valore acima referido e assim não ter cumprido com o contrato, terá recorrido aos supostos agentes da Polícia para o auxiliarem. “Ele quis pagar apenas 30 mil Kwanzas em troca da motorizada, e eu não aceitei”, contou. O nosso interlocutor considera que a participação dos dois supostos polícias no acto de cobrança, tinha por fim exigir que ele devolvesse a motorizada. Diante da situação, os seus algozes abordaram um taxista que circulava por ali e exigiram que os levasse do Calemba II ao Hospital Geral de Luanda. Estevão alegou que, como os dois agentes estavam conscientes de que a acção deles não tinha respaldo legal, meteram-lhe um produto no bolso assim que caiu ao chão em consequência do disparo.

“Estão a dizer que é estupefaciente, do tipo cocaína. Eu nunca vi isso na minha vida”, declarou o jovem, que diz sustentar a sua família com parcos recursos que arrecada através da actividade de táxi. Os médicos, com alguma dificuldade se ajeitam no momento de fazerem os curativos, o mesmo acontece com as camareiras ao trocarem a roupa da cama. Somente na tarde de ontem o jovem conseguiu trocar parte da roupa do corpo. Solicitado a analisar o caso, o advogado Manuel Marinho considerou o facto de o cidadão se encontrar algemado na cama do referido hospital como sendo uma violação aos direitos humanos, uma vez que está privado de satisfazer as necessidades fisiológicas. No entender do causídico, se a intenção das autoridades policiais era evitar que o jovem fugisse, deveriam, pelo menos, deixar a chave das algemas com um dos agentes que ficam de prevenção na referida unidade hospitalar, a fim de que as pudesse abrir sempre que ele tivesse necessidade de ir à casa de banho. Já o director do Gabinete do Comunicação Institucional e Imprensa da Delegação Provincial de Luanda do Ministério do Interior, intendente Mateus Rodrigues, questionado sobre a normalidade de proceder-se desta maneira quando se está diante de presumíveis marginais, não se pronunciou.