Metade dos angolanos vive em pobreza multidimensional

Metade dos angolanos vive em pobreza multidimensional

Os deputados têm consciência de que o problema da saúde em Angola é transversal, pelo facto de estar ligado a situações de pobreza, desemprego, baixo nível de escolaridade e ao analfabetismo, segundo o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos

POR: Maria Teixeira

A directora-adjunta do Instituto Nacional de Estatística (INE), Ana Paula Machado, revelou, ontem, em Luanda, que 48% da população residente em Angola vive em pobreza multidimensional. Ao proceder à apresentação do “Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015/2016” aos deputados da 6ª Comissão da Assembleia Nacional, explicou que é essa a pobreza que muitos países e investigadores preferem referir em relação à pobreza monetária. “Podemos ver que no ano de 2008 a 2009 tínhamos a pobreza monetária e agora passamos para a pobreza multidimensional. Muitos países e investigadores preferem esta última, porque quando a pobreza é monetária tem como foco as despesas ou consumo”, frisou. Acrescentou de seguida que “quando a pobreza é multidimensional temos um conjunto de indicadores.

Tal como no índice de desenvolvimento humano, em que temos a saúde, educação e bem-estar, este indicador é similar”. Ana Paula Machado disse ainda que a taxa de fecundidade em Angola é altíssima, com uma média de seis filhos por mulher nas áreas urbanas e de oito por mulher na área rural. “Podemos ver que na adolescência essa taxa é muito alta”, explicou. “Cerca de 35% das adolescentes já tiveram um filho ou estavam grávidas na altura do inquérito. O uso do contraceptivo é baixo. 13% das mulheres actualmente casadas ou em união de facto usavam algum método moderno e 27% das não casadas ou sexualmente activas usam métodos modernos, o mais usado é o preservativo masculino, com 20%. É um desafio muito grande para nós”, detalhou.

Parlamentares consideram saúde problema transversal

O presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, disse que o Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde reflecte de forma clara a necessidade de se melhorar o índice de desenvolvimento humano da população angolana. “Temos consciência de que o problema da saúde em Angola é transversal. A pobreza, o desemprego, o baixo nível de escolaridade e o analfabetismo, associados aos poucos recursos disponibilizados ao sector social, têm contribuído para os resultados apresentados no relatório, que espelham a nossa realidade”, afirmou, ao presidir a abertura do seminário sobre “Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015/2016”. Segundo o responsável, o referido relatório faz uma análise da situação no país e do compromisso e desempenho das instituições do Estado. Reconheceu que, com base na análise destes indicadores, a situação social no país é preocupante e requer uma atenção especial. “Denota-se, por exemplo, disparidades evidentes entre o meio rural e o meio urbano, que devem ser reduzidas. Este relatório reflecte, de forma clara, a necessidade de se melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano da nossa população.

Por essa razão, constitui uma óptima ferramenta que nos pode ajudar a melhor definir as políticas públicas em áreas sensíveis e de grande importância, que dizem respeito a todos nós”, frisou. Ao dirigir-se aos participantes no evento promovido pelos deputados da 6ª Comissão, que trata da Saúde, Educação, Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, Fernando da Piedade Dias dos Santos afirmou que a responsabilidade de inverter este quadro é de todos. “Portanto, o desafio de melhorar os dados dos próximos relatórios deve ser prioridade da nossa agenda nesta legislatura. Sim, é possível alterar-se este quadro, através de uma cooperação positiva com o Executivo, com o objectivo de serem implementadas políticas e medidas capazes de reduzir a pobreza, o desemprego e as diferenças sociais”, afirmou. O evento, que serviu para dar a conhecer os dados estatísticos da real situação em que se encontra o sector da Saúde, bem como a situação sócio-ecónomica do país, contou com a participação de deputados, alguns dos quais presidentes das Comissões Especializadas de Trabalho da Assembleia Nacional, funcionários, agentes parlamentares, entre outros.