Passados mais de dois anos desde que efectuaram os pagamentos, em função das dificuldades para concretizar as promessas, agravadas com a incapacidade de inserção dos mesmos no sector da Educação através do concurso público recentemente realizado, os jovens concluíram que foram burlados.
Noventa e cinco jovens que ambicionam ingressar na função pública no Huambo, por via dos ministérios da Educação e do Interior, foram burlados por uma cidadã que dizia ter possibilidade de concretizar este desejo, em troca de dinheiro, segundo a Rádio Mais Huambo. Algumas das vítimas, entre as quais Agostinho Domingos, deslocaram- se na Sexta-feira à residência da presumível burladora, identificada apenas por Florinda, localizada no bairro da PIR, município do Huambo, para exigirem a devolução dos valores monetários.
“Ela dizia ter possibilidade de empregar as pessoas no Ministério da Educação como professores, e no Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), afecto ao Ministério do Interior. Na ânsia de conseguir um emprego, aceitei”, frisou. Em declarações à Rádio Mais Huambo, o jovem contou que ele e mais três parentes desembolsaram 1 milhão e 600 mil Kwanzas em troca de quatro vagas, duas para professores do sub-sistema de ensino não universitário e duas para técnicos do SME. Disse que, apesar de estar consciente de que a admissão na função pública é feita com base num concurso público, optaram, há dois anos, por esse caminho ilícito por não terem sido realizados tais processos de recrutamento.
“Nós esperámos pela realização do concurso público nesses Ministérios durante muito tempo. Não se falava nada sobre isso. Conhecemos essa senhora, que dizia trabalhar directamente com o director provincial da Educação, e aderimos ao esquema”, frisou. Em 2015, Isabel, outra vítima, disse que acreditou que a acusada seria a pessoa que a ajudaria a deixar de fazer parte do leque de cidadãos angolanos que se encontram desempregados. “Como ela dizia ser mandatada pelo doutor Sampaio (Manuel Sampaio do Amaral, director da Educação) e exigia os documentos normalmente exigidos no concurso público, não imaginávamos que seríamos burladas”, frisou. Em seguida. contou que, quando se realizava o concurso público, orientava via telefónica as suas intermediárias afirmando que as pessoas que aderiram ao esquema não tinham necessidade de se candidatar, pois estavam garantidas as respectivas vagas e, caso contrário, complicariam o processo.
De intermediária a vítima
A jovem Ana Aurora Saihombe disse que serviu de intermediária da acusada diante de 35 pessoas que lhe são próximas, das cerca de 95, acreditando de que a mesma tinha possibilidade de empregá- las. “Na primeira fase, alguns pagaram 320 mil Kwanzas, mais tarde outros desembolsaram entre 400 a 500 mil Kwanzas. O somatório de todas as contribuições que recebi é de 10 milhões e 460 mil Kwanzas”, detalhou. Acrescentou ainda que “este montante foi pago por diversos membros da minha família, entre irmão, sobrinhos e primos, bem como alguns amigos meus e deles. Fiz isso no sentido de os ajudar”. Ana Saihombe contou que, em alguns momentos, chegou a desconfiar de que as coisas não dariam certo. Razão por que questionou a Florinda, a acusada, se estava em condições de cumprir tais promessas, tendo recebido garantias de que sim.
“Ela dizia-me assim: não se preocupe. Trabalho com um alto funcionário do Governo, no caso, o director provincial da Educação”. Para fazer crer às suas potenciais vítimas que reunia essa qualidade, a de funcionária pública, em alguns casos os negócios foram fechados debaixo do edifício das direcções provinciais, mas pediu sigilo, alegando ser também intermediária. Aparentemente arrependida, Ana Saihombe disse que, apesar de ter conhecimento de que o ingresso na função pública é feito por concurso publicitado nos diversos órgãos de comunicação social, aderiu ao “esquema” não só se candidatando a uma das vagas, como envolvendo mais pessoas por ouvir relatos de indivíduos que se deram bem por essa via.
“Agora é que entendi que é burla. Eu não sabia disso”, desabafou. Quanto à possibilidade de ser responsabilizada criminalmente por ter servido de intermediária, Ana Saihombe disse que acabava de se aperceber disso. “Não aconselho a quem quer que seja aceitar propostas do género”. De acordo com as entrevistadas, para sustentar a farsa, a acusada chegou a informar a alguns deles que trabalha também com o Tribunal de Contas e, quando solicitada pelas vítimas a marcar um encontro, afirmava que se encontrava em Luanda, em missão de serviço. “A minha irmã viu-a, hoje (Sexta-feira) de manhã a entrar nessa casa, por isso vimos pedir satisfações. No entanto, o seu marido disse que está em Luanda”.
Vários membros da mesma família entre as vítimas
O jovem Ramalho Saihiombe, que se deslocou ao local para acompanhar as suas irmãs e os seus sobrinhos, disse que o assunto é do domínio do Serviço Provincial de Investigação Criminal (SPIC) no Huambo e que só se reuniram em casa da acusada por notarem alguma morosidade no andamento do processo-crime. “Como as minhas irmãs estão a sofrer muita pressão por parte dos outros membros da família, primos, sobrinhos, entre outros, decidimos vir cobrar pessoalmente. Afinal, os concursos públicos passaram e nenhum deles foi admitido”, declarou. Para justificar a sua adesão ao esquema fraudulento, Moisés Jamba Kalepe, que pagou 600 mil kwanzas por duas vagas para os seus irmãos, faltavam 200 mil na segunda tranche, alegou que agiu “como um doente aflito em busca de cura”. Contactado por OPAÍS, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional no Huambo, Martinho Kavita, disse que o assunto já está sob a alçada da sua instituição e vai fornecer mais informações sobre o assunto nos próximos dias.