Habitantes de Onzo em Nambwangongo sem escolas públicas

Habitantes de Onzo em Nambwangongo sem escolas públicas

A tentativa de construção da primeira escola na localidade ficou pelo caminho, de acordo com os moradores, que tiveram de pedir a intervenção das igrejas locais

Texto de: Alberto Bambi

O s moradores do bairro Onzo, comuna de Gombe, município de Muaxiluando, em Nambwangongo, província do Bengo, estão preocupados com o sistema de ensino primário a que são obrigados a submeter os seus filhos para cobrir a falta de escolas por si tidas como legais na localidade. Falam de salas improvisadas, criadas por algumas igrejas destacadas nessa vila, onde, sob a orientação de um voluntário, se leccionam crianças da 1ª a 5ª classes, segundo contou o soba Bernardo Makongo, que se referiu aos constrangimentos que encontram quando pretendem dar seguimento à formação das crianças na comuna-sede de Gombe, que fica a sete quilómetros da pacata aldeia.

“Os nossos filhos podem estudar aqui até à quinta classe, mas, quando chega a altura de as matricular no Gombe, encontrámos muitas dificuldades, porque eles não possuem documentos legais confirmando que frequentaram as classes de base”, revelou o encarregado, tendo informado que não achava prudente considerar as unidades existentes no Onzo como escolas do ensino particular, porque não estão legalizadas. Importa referir que são a Igreja Evangélica Baptista em Angola e a do Espírito Santo, que prestam serviços voluntários de educação dos infantis de Onzo.

Realçou ainda que, ao pretenderem dar seguimento da formação das crianças na sede da comuna, os encarregados têm apenas duas alternativas, sendo a primeira entregar os filhos ao cuidado de um familiar ou conhecido que vive em Gombe, ao passo que a segunda consiste em submeter os mesmos (de 10 a 15 anos) a viajarem diariamente pelos sete quilómetros, em motorizadas que trilham por uma estrada de terraplanagem irregular, que não facilita a circulação no tempo chuvoso, tanto para os veículos, quanto para os transeuntes.

Alguns optam por colocar as crianças na aldeia vizinha de Kimwana- sala, a menos de um quilómetro do seu habitat, mas apenas para concluir a sexta classe, já que, depois disso, terão mesmo de seguir a dinâmica do êxodo já referenciado. Por causa disso, não são poucas as famílias da aldeia que preferem ter as crianças nas lavras ou a ajudar na venda de produtos, a custearem os encargos diários que a via impõe. Elas pedem ainda ao Governo para dar continuidade à construção e apetrechamento da escola.

“A construção da única escola de quatro salas de aula começou em 2014, até hoje não está acabada, os dirigentes dizem que é devido à crise”, detalharam, sob anonimato, alguns elementos afectos à coordenação do subúrbio, que falaram, igualmente, de uma tentativa de continuidade do projecto em Maio, Junho e Julho deste ano, mas com nova paralisação.

O que os moradores do Onzo não entendem são as razões que levam um projecto de necessidade urgente do Estado, conforme salientaram, a não encontrar conclusão, numa região que serve de trampolim para as sedes, comunal de Gombe e municipal de Muaxiluando, em relação às quais a aldeia fica, respectivamente, a sete e 17 quilómetros de estrada não asfaltada.

Médio a 17 ou mais quilómetros Se as crianças do bairro Onzo começam a ver complicada a sua vida estudantil a partir dos seis anos de idade, altura em que têm de entrar na escola, até terminarem o ensino primário e secundário do I Ciclo, os adolescentes e jovens da comuna inteira vêm-se obrigados a fixar residência, por via de aluguer (ou outras formas), no município- sede de Muaxiluando. De facto, apenas aí existe a Instituição do Ensino Secundário do II Ciclo mais próxima, para os habitantes dos 12 bairros pertencentes à comuna de Gombe.

Outra alternativa passa por superar os mais de 90 quilómetros que o separam Onzo de Caxito, para, na capital da província do Bengo darem sequência aos estudos. Esta opção de maneira alguma oferece aos visados qualquer possibilidade de enfrentar as viagens diárias, pois, apesar da distância que separa as duas localidades, o mau-estado da estrada e a falta de transportes públicos agrava ainda mais a vida dos estudantes da comuna do Gombe

. Soba de Gombe sentido pelas crianças A falta de escolas estatais na localidade vizinha do Onzo deixa o soba Carlos da sede comunal constrangido, por causa do futuro da nova geração dessa região de Nambwangongo. Entretanto, o líder tradicional informou que quadro do género é conjuntural nessas paragens.

“Só para verem, apesar de o Gombe ter uma escola de seis salas do ensino secundário do I Ciclo, onde se leccionam classes da 7ª à 9ª, este estabelecimento de ensino absorve todos alunos dos 12 bairros da comuna”, relatou o decano, tendo observado que ainda assim a procura é maior do que a oferta.

Relativamente às escolas do ensino primário existentes, um pouco por todos os lados da comuna, o soba Carlos classificou-as como as que é possível ter. Para justificar essa asserção, fez alusão à única unidade do mesmo nível, de três salas, instalada na sede, tendo adiantado que se tratava da herança de uma estrutura construída pelo colono em 1958.

Aos responsáveis da comuna preocupa ainda o facto de parte do tempo lectivo ser utilizado pelos professores para levantarem os seus salários em Caxito ou Luanda, já que em nenhuma localidade do município de Muaxiluando existe sequer uma agência bancária estatal ou privada.

Sacrifício antecipado

Os jovens estudantes que residem nas localidades limítrofes entre as comunas de Gombe e Canacasssala (Nambwangongo) e Kicabo (Caxito), como são os casos de Sebastião Gomes André, Eduardo Paulino Capita e César Capeta João, do bairro Caiengue e arredores, não precisam de chegar ao ensino médio para percorrerem muitos quilómetros em busca da continuidade dos estudos.

“Aqui em Caiengue só temos uma escola de duas salas, onde só se estuda até à quarta classe, porque de manhã há aulas da 1ª e 2ª e de tarde a 3ª e a 4ª. Então, quando nós aprovamos para a quinta temos de ir à comuna de Canacassala, onde existem as classes seguintes”, explicou Sebastião André, um dos peregrinos do saber.

Ele contou que, para poder suportar os custos das deslocações diárias, tem de recorrer aos lucros que ele e os seus familiares adquirem da venda de produtos agrícolas, como mandioca, batata, banana e ginguba, cultivados por si mesmos.

A Eduardo Paulino Capita preocupa o mau-estado da estrada que, segundo ele, encarece os custos das deslocações para as escolas e centros ou postos médicos localizados fora do bairro.

Além do comércio de horticulturas, o jovem optou pela venda de combustíveis. “Nós vendemos o litro de gasolina a 300 Kwanzas e isso já dá para reforçar as despesas dos estudos dos irmãos e sobrinhos mais novos”, assegurou Eduardo Capita, que adquire o combustível a partir do posto de abastecimento de Kicabo. César Capeta João revelou que ele e a sua família não têm possibilidade de custear diariamente a viagem de Caiengue a Canacassala, por via de táxi, por isso opta mesmo por ir e voltar a pé, a fim de não perder o ano lectivo.

“Não tenho mil Kwanzas, então faço caminho durante duas horas para chegar na escola e faço o mesmo percurso no regresso”, disse César João, que normalmente parte às 10 horas de Caiengue para não perder o primeiro tempo de aulas, que começa às 13 horas. Segundo ele, a caminhada é feita por muitos grupos de adolescentes e jovens do seu bairro, mas, alguns desistem ao meio do ano, por causa das doenças resultantes do sacrifício diário.