Posto médico de Caiengue limita-se a passar receitas

Posto médico de Caiengue limita-se a passar receitas

já lhe chamam de “hospital de receitas”, pelo facto de os técnicos do único estabelecimento de saúde instalado na localidade de limitarem a conceder receitas aos pacientes e familiares, alegadamente por falta de medicamentos

Texto de: Alberto Bambi

Bernardo Daniel Lopes, de 32 anos de idade, um dos muitos moradores do bairro que se mostraram agastados com os serviços prestados nessas paragens da comuna de Gombe, município de Muaxiluando, no Bengo, revelou que, quando o posto começou a funcionar, se deu a garantia para terem, pelo menos, medicamentos básicos, como paracetamol, coartem, soro fisiológico e multi-vitaminas.

“Além disso se falou também da distribuição gratuita de mosquiteiros, principalmente para as mulheres grávidas, assim como da disponibilidade de remédios que podiam cobrir parcialmente um curativo, como água oxigenada, mercúrio, álcool e algodão”, detalhou Bernardo Lopes, tendo informado que a equipa que esteve na ocasião do arranque só se manifestou preocupada com a dificuldade de fazer chegar aí adesivo, ligadura e alguns antibióticos que não foram especificados.

Segundo o entrevistado, os moradores da zona estavam cansados de receber receitas médicas, pois, estas recomendações os obrigavam a deslocar-se para as sedes comunais de Canacassala e Gombe, onde havia farmácias. Tanto um como outro destino cobra esforço e custo desses populares que se veem forçados a desembolsarem mil Kwanzas ou mais um valor que, acrescido aos que deviam gastar na aquisição dos fármacos, criava ruptura nas despesas familiares.

“As farmácias de Canacassala ou Gombe não são do Estado, são particulares e praticam os preços que quiserem, por serem as únicas”, informou Dona Teresa, que acabava de chegar do campo.

A senhora expôs a situação das mulheres grávidas que têm de se deslocar para fora da aldeia quando chega o tempo das consultas pré-natais.

“O mais preocupante é quando as grávidas estão mesmo no dia de dar à luz, é preciso arranjar ou esperar um carro para levá-la no centro médico e, se não haver sorte, tudo acaba por ser feito aqui mesmo”, contou Helena, tendo assegurado que as parteiras tradicionais residentes têm dado uma grande ajuda em situações do género.

Para ela, o Governo devia rever o actual quadro, começando por abastecer o posto médico de medicamentos e disponibilizar serviços médicos específicos, tal como fez questão de referir os que têm a ver com maternidade e infância.

“Porque nós, os mais velhos, ainda podemos aguentar e esforçar-nos a viajar para encontrar cura longe da vila, mas as crianças não”, observou.

A equipa desta reportagem envidou esforços para contactar os técnicos de saúde do único posto médico de Caiengue, mas estes não se encontravam no estabelecimento, segundo os moradores, por ser Sábado e para lá das 17 horas.

Entretanto, alguns membros da coordenação do bairro, que falaram sob anonimato, admitiram a situação, adiantando que os dirigentes locais dependem de seus superiores hierárquicos.

“A saúde aqui também é problema”

O soba Carlos de Gombe minimizou a informação segundo a qual a sede da comuna costuma a ser a salvação dos habitantes de outras localidades. “Eu não considero o que temos aqui como um centro, mas, sim, um posto, porque não tem nenhum médico, só há técnicos médios que aí trabalham e são considerados de enfermeiros”, declarou o soba, tendo adiantado que eles compõem uma equipa composta por oito funcionários.

Ao líder tradicional preocupa ainda o facto de a metade desse elenco de enfermeiros viver em Luanda, o que, para si, tem comprometido o regime de turnos, pautado numa escala alternativa de uma semana de trabalho com folga de sete dias consecutivos.

Quanto à oferta de medicamentos, o soba Carlos revelou que a unidade hospitalar também não possui medicamentos, mas existem, em Gombe, algumas farmácias que não praticam preços que beneficiem o bolso do pacato cidadão.

Finalmente, o decano referiu-se à dificuldade de transporte dos pacientes, tendo informado que, quando há casos de emergência, a ambulância tem de vir da sede do município, que dista 17 quilómetros de estrada de terraplanagem irregular.