Jovens preparam manifestação a favor do porta-voz da Polícia na Huíla

Jovens preparam manifestação a favor do porta-voz da Polícia na Huíla

Os jovens alegam que não houve transparência no inquérito realizado pela PGR que atribui culpas ao oficial da Polícia. Está previsto um encontro com o Comandante Provincial que poderá ser decisivo para a pretensão dos manifestantes

Texto de Milton Manaça

Um grupo de jovens da Huíla pretendem manifestarse no dia 6 de Outubro a favor do antigo porta-voz da Polícia na província, Carlos Alberto, afastado do cargo no mês de Agosto por, alegadamente, ter cometido os crimes de injúria contra autoridade pública e difamação, tendo como visado o sub-procurador Hernâni Beira Grande.

O seu afastamento do cargo de porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional ocorre na sequência de uma entrevista prestada à TV Zimbo, em que o oficial esclareceu as denúncias de duas senhoras que diziam terem sido vítimas de agressão física alegadamente praticada por Hernâni Beira Grande.

Segundo Jaime Francisco, um dos organizadores da manifestação, a Comissão de Inquérito da Procuradoria-Geral da República (PGR) que trabalhou no caso, ocorrido na Peixaria Grande Mar, não foi transparente e faltou com a verdade.

Os organizadores da marcha entendem que a referida comissão deveria ser multissetorial, integrando quadros do Serviço de Investigação Criminal (SIC) central, do Comando Geral da Polícia Nacional, bem como alguns membros da sociedade civil, uma vez que o acusado é o mais alto funcionário da PGR nesta parcela do território nacional.

Para Jaime Francisco, faltou lisura por parte dos inspectores e assistiu-se a uma encenação teatral, em que “o javali veio avaliar o porco”. Na esperança de não serem importunados pelas forças da Ordem Pública, durante o acto de solidariedade para com o superintendente Carlos Alberto, os promotores vão reunir-se amanhã com os mais altos responsáveis do Comando Provincial da Polícia Nacional.

“Só estamos a depender da audiência que solicitamos ao Comandante Provincial. Caso não encontrarmos consenso ou o Comandante da Polícia não rever a sua posição, vamos partir para manifestação a 6 de Setembro”, garantiu.

As causas da manifestação De acordo com uma fonte de OPAÍS, o superintendente Carlos Alberto permanece, por enquanto, no mesmo gabinete, recebendo ordens do inspectorchefe Luís Filipe Zilungo.

Diariamente, a acção deste oficial superior está limitada a serviço interno. Entretanto, está proibido verbalmente de prestar qualquer declaração em nome da corporação, cabendo esta missão ao chefe Luís Filipe Zilungo. Beira Grande foi acusado publicamente por duas cidadãs de ter participado na agressão de que foram vítimas, ocorrida no dia 10 de Agosto do corrente ano, no interior da peixaria Grande Mar, no Lubango, pertença da esposa do sub-procurador.

As vítimas, que se faziam acompanhar das suas crianças, dirigiram-se ao estabelecimento comercial com o intuito de uma delas pedir a substituição ou devolução de 700 Kwanzas que pagara por um quilo de peixe seco fino, que alegavam estar estragado.

O magistrado do Ministério Público, de acordo com as queixosas, as reteve no interior do estabelecimento e solicitou a intervenção da Polícia, tendo esta feito deslocar ao local uma equipa de efectivos que as levou para a Esquadra Municipal do Lubango, sob pretexto de que estavam a perturbar a ordem e a tranquilidade públicas.

Já na esquadra, o procurador junto do Comando do Lubango, terá ordenado a libertação das senhoras, no entanto, alegadamente insatisfeito, Beira Grande terá ordenado que permanecessem durante 24horas nas celas.

No fim deste prazo, o procurador de serviço emitiu um mandado de soltura. Solicitado, pela imprensa a prestar esclarecimentos por altura dos factos, Carlos Alberto confirmou a permanência das supostas vítimas no Comando da Polícia e esclareceu existirem indícios do envolvimento de Beira Grande.

Beira Grande leva o caso à Procuradoria Militar

Hernani João Beira Grande apresentou uma queixa-crime contra o superintendente Carlos Alberto junto da Procuradoria Militar da Região Sul e do Comando da Polícia Judiciária Militar nesta região. No documento a que OPAÍS teve acesso, datado de 14 de Agosto, o sub-procurador acusa o então porta-voz dos crimes de abuso no exercício do cargo, conduta indecorosa, injúria contra autoridade pública e difamação.

Explicou que a peixaria da sua esposa foi alvo de um assalto e a empregada do estabelecimento foi vítima de agressão física, com sangramento na boca, em consequência de uma mordedura no membro superior direito, perpetrado pelas alegadas invasoras. Esta informação contraria o relatório da investigação levada acabo por um grupo de altos dirigentes da PGR que se deslocara à Huila com o propósito de averiguar o que se passara na realidade.

“Registou-se uma briga que envolveu uma trabalhadora do estabelecimento, em virtude de desentendimento pelo facto de horas antes uma cidadã ter aí adquirido um quilo de peixe seco fino”, lê-se no comunicado de imprensa da PGR de 21 de Agosto, a que OPAÍS teve acesso.

Os magistrados do Ministério Público dizem que as clientes da peixaria Grande Mar, inconformadas com o estado do peixe, regressaram ao local para pedir a substituição ou devolução do valor, “o que não mereceu a anuência da empregada”. “Dessa briga envolveram-se a vendedora, a compradora e a sua irmã de que se fez acompanhar no acto da reclamação, resultando da luta lesões de parte a parte”, diz o documento.

O sub-procurador Beira Grande disse, na queixa-crime, que diante daquela situação, apenas limitou-se a telefonar para o chefe do Serviço Municipal de Investigação Criminal, identificado por Tchamba, que fez deslocar uma viatura da Polícia, tendo os agentes que nela seguiam detido as senhoras em flagrante delito. Beira Grande diz na queixa que o então porta-voz da Polícia o acusou de má-fé e sem qualquer fundamento, com o objectivo de denegrir o seu bom nome em gesto de retaliação ao seu empenho no combate aos vários tipos de crime que alguns efectivos vêm cometendo.

O representante da PGR na Huila diz ainda que foi informado pelo Comandante Provincial e Delegado do Ministério do Interior na Huila (MININT ), Arnaldo Manuel Carlos, que se encontrava em gozo de férias no exterior do país, que o acusado seria suspenso de toda actividade.

Beira Grande escreveu ainda, no documento, que o delegado do MININT o teria garantido que seria aberto um processo disciplinar contra o efectivo da Polícia para reparar o dano e saída de um comunicado de imprensa a demarcar-se de qualquer responsabilidade.