Yuri Quixina: Se quisermos tirar a economia da crise temos de tirar o Governo da economia”

Yuri Quixina: Se quisermos tirar a economia da crise temos de tirar o Governo da economia”

O professor de Macroeconomia Yuri Quixina afirma que o fim da crise passa pela redução do Governo e menos Estado na economia. Aponta a vinda do fMI como principal desafio de joão Lourenço, tendo em conta as autarquias de 2020

O ponto prévio de hoje recai para a sucessão na liderança do MPLA, passados 39 anos. José Eduardo dos Santos ‘entrega’ o partido a João Lourenço. Qual é a sua expectativa?

O congresso superou as expectativas, com destaque para o discurso de despedida do presidente José Eduardo dos Santos, que foi muito curto. Penso que perdeu a oportunidade de fazer o discurso da sua vida, embora tenha reconhecido os erros. Acho que devia contar, por exemplo, um pouco sobre os momentos altos e baixos vividos na família por conta da sua função. Já o presidente João Lourenço tem um grande desafio, teve um discurso bem elaborado e com um conteúdo interessante.

Quais são os desafios de João Lourenço?

Um dos seus grandes desafi os é o OGE/2019, porque o MPLA vai entrar numa curva muito apertada com o Fundo Monetário Internacional. Sabemos que terá de fazer uma consolidação fiscal muito mais agressiva, que vai obrigá-lo a uma inteligência muito apurada, na medida em que em 2020 teremos eleições autárqicas.

Que impacto essa renovação no MPLA tem sobre a atracção de investimento directo estrangeiro, dado que o risco político está sempre presente na análise do ambiente de negócios das economias africanas?

Os investidores estrangeiros precisam deste alerta, mas é importante dizer que o Presidente João Lourenço já nos habitou com discursos musculados com pedagogia. Penso que agora deve pôr em prática aquilo que sempre pregou. Houve um avanço no discurso, reconhecendo ser importante colocar no centro as opiniões antagónicas às visões do partido e do Governo. Isso só será um chek-mate quando começar a concretizar, porque é isso que o investidor estrangeiro está à espera, até a China. Os chineses colocaram muito dinheiro em Angola e o resultado foi mínimo.

Acredita que João Lourenço venha a reduzir o Governo?

Espero que isso aconteça. Sempre preguei que o maior problema da economia angolana era o Governo na economia. Se quisermos tirar a economia da crise, temos de tirar o Governo da economia. O Estado tem que ser mínimo, é a única forma de ser mais eficiente, ágil e menos gastador.

O Governo usou a linha de crédito da China, de 700 milhões de dólares, para pagar salários e dívidas. Quer comentar?

Num super-Estado quando há limitações de impostos e de receitas utiliza- se dívidas de longo prazo para cobrir despesas de curto prazo, como salários e outras necessidades. Isso é resultado de um Governo grande, que ocupa o lugar das empresas e das famílias. É importante referir que acabou o período de graça que a China deu a Angola.

O Governo da China vai acompanhar agora cada centávo que o país vai gastar da linha de crédito.

Terão sido essas as razões do adiamento das negociações entre Angola e China para uma nova linha de crédito de cerca de 12 mil milhões?

O adiamento decorre de duas razões fundamentais: a realização do congresso e um novo quadro de cooperação que a China quer definir. A China está a dar sinal de que a Angola não está a combater ainda a corrupção, a China quer ver na cadeia alguns corruptos grandes, como eles fazem e até pena de morte.

Está a defender pena de morte?

Não defendo isso, naturalmente, embora haja países onde deu resultados. Acho que esse foi um dos recados que o Presidente João Lourenço enviou a China, para tranquiliza-los no sentido de que a próxima linha de crédito será implementada de forma mais racional. BNA informa que cinco bancos concentram 95% do crédito malparado.

Que consequências para a banca?

Primeiro, a concessão de crédito poder cair mais, porque representa um peso na carteira dos bancos. O mais preocupante é o facto de 81,49% desse malparado ser dos bancos públicos. E isso consequência do modelo económico do populismo, onde o crédito sai sem garantia. E enquanto isso, surge mais um banco para o sistema bancário…

Na economia liberal clássica é fácil entrar bancos. Tem de entrar bancos. Mas ao mesmo tempo que entram podem sair por falência, fruto da gestão danosa. Mas Angola, modelo económico do intervencionismo, o Estado salva bancos. Penso que devíamos sair da lógica de salvar bancos. Quem geriu mal o banco que aguente as suas responsabilidades.

Sugestão de leitura

  • título da obra: ‘economia Popular mito e Realidade’
  • Autor: ezra J. mishan, economista inglês.
  • Ano de publicação: 1976