Áreas verdes de luanda entre privatizações e o betão

Áreas verdes de luanda entre privatizações e o betão

Numa altura em que o governador Adriano Mendes de Carvalho lançou uma campanha de plantação de árvores por considerar luanda a cidade menos arborizada da África Austral, a população mostra-se contra a transformação de espaços verdes em áreas de betão, enquanto especialistas dizem que a falta de plantas tem influenciado negativamente a saúde pública

Texto de: Milton Manaça

Quando chegou a Luanda, em 1986, vinda do interior do país, era no jardim do Mutu-Ya-Kevela que Muginga Bernardete passava os tempos livres para apanhar a fresquidão do ar da cidade em companhia do seu esposo. A moradora do Prédio dos Militares, no Maculusso, diz que este foi um espaço de referência. onde boa parte dos adolescentes e jovens se concentravam para a leitura, prática de ginástica e outras actividades lúdicas.

Actualmente, com 53 anos, Muginga mostra-se descontente ao ver o local transformado numa enorme estrutura de betão armado, afirmando que para a população a mudança feita não causou melhorias no espaço público. “Não gostamos nada desta alteração. As crianças ficaram sem espaço de lazer e isto descaraterizou completamente o largo”, disse a moradora.

Alfredo Leitão, de 47 anos de idade, que também frequentou o mesmo jardim, partilha a mesma opinião, acrescentando que a eliminação deste espaço verde foi um golpe duro para os moradores do Maculusso. Outrora, era neste local que Muginga e Alfredo iam à busca dos filhos, sempre que estes não estivessem em casa, mas hoje, o que vêem é os petizes a encher as varandas das casas e as ruas (asfalto) para brincar. “Às vezes vejo-me forçado a sair com as crianças do Maculusso até ao Jardim do Miramar, onde pagamos uma taxa para ter acesso”, lamenta Alfredo Leitão.

Parque de estacionamento

O jardim do Mutu ainda chegou a ser reabilitado depois dos anos 2000 onde o verde fazia uma perfeita combinação com as águas que caiam entre pedras em forma de cascata. Em 2013 vedou-se o espaço e as máquinas que foram colocadas no interior partiram tudo o que lá havia. A única informação disponível no local é que o espaço será transformado num parque de estacionamento e haverá revitalização do largo.

No dia desta reportagem (Quarta-feira, 12) não havia movimento de homens e máquinas e, segundo alguns moradores, há indícios que as obras paralisaram. Para quem está por baixo da estrutura de betão, não consegue vislumbrar a bela imagem arquitetónica da escola Mutu-Ya-Kevela, um dos monumentos histórico e culturais da cidade.

Privatizações

O rumo que foi dado à Zona Verde do Alvalade e outros par
ques públicos também preocupa os cidadãos, que se mostramdescontentes com a quase inexistência de de árvores na cidade de Luanda. O cidadão Joaquim Adriano, por exemplo, realça que desde que foi privatizado e encerrado para obras, já não sentem o efeito  do ar que a Zona Verde do Alvalade transmitia.

Para além da melhoria do jardim, foram arguidos quiosques e outras lojas comerciais e os funcionários envolvidos na sua reabilitação disseram a OPAÍS que a área será inaugurada a 11 de Novembro do corrente ano.
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