Sindicato denuncia racismo na Sociedade Mineira do Cuango

Sindicato denuncia racismo na Sociedade Mineira do Cuango

Os trabalhadores angolanos queixam- se de actos de racismo, baixos salários, despedimentos anárquicos e falta de segurança no trabalho

Texto de: Ireneu Mujoco, enviado a Lunda-Norte

A comissão sindical dos trab a l h a d o r e s da Sociedade Mineira do Cuango(SMC), na Lunda-Norte, acusa o director das operações mineiras, o cidadão sul-africano Michael Wehr, de praticar actos de racismo contra os angolanos. A denúncia foi apresentada a um grupo de deputados da Assembleia Nacional que visitou recentemente a SMC para ouvir reclamações dos trabalhadores que se queixavam destas injustiças.

Contra Michael Wehr pendem acusações de, alegadamente, tratar os trabalhadores angolanos de “macacos e pretos, falta de respeito, atropelo à ética e deontologia profissionais”, bem como abuso de confiança. É também denunciado por humilhar os trabalhadores angolanos aos quais acusa de incompetentes e pouco profissionais para labutarem em áreas mineiras, apesar de haver entre os nacionais profissionais com créditos firmados, segundo Nelson Samuhanga, coordenador da comissão sindical.

Em declarações à imprensa, o responsável informou que a situação é do conhecimento da direcção da empresa, mas esta nunca se pronunciou sobre o caso. No seu entender, Michael Wehr goza de uma suposta protecção da direcção da Sociedade Mineira do Cuango, “pois, só isto justifica a sua impunidade junto da direcção da empresa”, desabafou o sindicalista.

Essa situação, atendo-se às declarações de Nelson Samuhanga, tem criado um sentimento de revolta e indignação no seio dos trabalhadores, pelo facto de a entidade patronal remeter-se a um silêncio sepulcral. “Já fizemos várias denúncias, mas a direcção nunca diz nada”, revelou o sindicalista, reforçando que já sofreu ameaças de despedimento por denunciar tais actos publicamente.

Assistência médica medíocre

No rol das acusações, o sindicalista queixou-se também da fraca assistência médica proporcionada aos trabalhadores e seus dependentes. Disse que o centro médico da SMC não dispõe de serviços competentes para atender às necessidades dos seus trabalhadores. Revelou que muitos trabalhadores que contraíram doenças profissionais foram abandonados, enquanto outros foram compulsivamente reformados, mas sem indemnização.

Avançou que a maioria destes trabalhadores vive na indigência e a situação poderá estender- se a outros funcionários caso não se coloque cobro a este quadro que a fonte considerou de “muito preocuopante”.

Disparidade salarial

Marcos Kitumba, também da comissão sindical, falando aos jornalistas, deplorou o salário que aufere um mineiro da SMC, se comparado com outras sociedades mineiras que trabalham nas zonas diamantíferas da província da Lunda-Norte.

Explicou que um trabalhador angolano operador de máquina aufere o módico salário de 57 mil kwanzas, contra 7 ou 10 mil dólares de um técnico estrangeiro da mesma categoria profissional e do mesmo nível académico. Segundo Marcos Kitumba, muitos trabalhadores expatriados que ganham esse dinheiro “entram no país como técnicos, mas na prática não sabem nada, e aprendem com os nacionais”, desabafou. Para se reverter esse quadro, o jovem sindicalista, de 34 anos, defende uma revisão salarial pela entidade patronal, para se evitar o fosso entre os trabalhadores nacionais e estrangeiros.

Segurança no trabalho

Outra situação denunciada aos deputados é a falta de segurança no trabalho, sobretudo no que se refere aos equipamentos de protecção individual, conhecidos genericamente por EPIS. Estes não são distribuídos regularmente, como determinam as normas, refere o sindicalista Marcos Kitumba. Segundo denunciaram os dois sindicalistas (Nelson Sadr muhanga e Marcos Kitumba) aos deputados Joaquim Nafoya, Domingos Oliveira, e ao assessor técnico, Figueiredo Mateus, durante o ano, os funcionários não trocam as botas. Consideraram essa situação como sendo confrangedora, sendo que há trabalhadores que labutam próximo do rio e que, regra geral, molham as botas e no dia seguinte voltam a calçá-las húmidas.

Máquinas “versus” homem Durante a denúncia, feita na presença de responsáveis da empresa, na sede da Sociedade Mineira do Cuango, os sindicalistas disseram que a entidade empregadora preocupase mais com meios de trabalho do que com o homem (trabalhador). Sustentaram as suas denúncias, exemplificando que, em caso de acidente, a direcção da mina “procura primeiro saber se a máquina ou o carro não danificou, e depois é que se preocupam com o trabalhador”.

Contaram que, sejam quais forem as circunstâncias, em caso de acidente, o operador ou o motorista do carro envolvido, é penalizado com um desconto de 20 por cento do seu salário. “Aqui só há acidente quando o trabalhador morre, o contrário não é considerado acidente”, desabafaram os sindicalistas.

Despedimentos Nas preocupações apresentadas, os dois responsáveis manifestaram também inquietação sobre alegados despedimentos anárquicos, e, em alguns casos, sem indemnização. Segundo disseram, um simples acidente pode provocar despedimento sem aviso prévio, e sem ser ouvido o trabalhador, concluíram. Entretanto, no final do encontro entre o deputados e a direcção da SMC, esta evitou falar à imprensa, alegando falta de autorização do Ministério de Geologia e Minas.