Research Atlântico: Deterioração das reservas internacionais

Research Atlântico: Deterioração das reservas internacionais

O cenário de redução significativa da cotação internacional do crude culminou com significativos impactos sobre a economia angolana, pelo facto do sector petrolífero representar mais de 90% das exportações nacionais, cerca de 23% do Produto Interno Bruto e aproximadamente 52% das receitas totais nacionais, em 2017

Entre 2013 e 2017, as receitas totais registaram uma diminuição acumulada de 33%, influenciadas pela queda acentuada das receitas petrolíferas, que registaram uma queda em torno de 53%, não tendo sido compensadas pelas receitas não petrolíferas, que terão aumentado 28% em termos nominais.

A queda do preço do crude, que constitui o principal produto exportado pelo país, contribuiu para a redução significativa das Reservas Internacionais, tanto Líquidas (RIL’s) quanto Brutas (RIB’s), em que se destaca que poderão ter reduzido 57% e 44%, fixando-se em 13,3 e 17,9 mil milhões USD, com os meses de importações a recuarem de 7,6 para 5,6 meses e de 7,8 para 7,6 meses, respectivamente, na análise de 2013 a 2017, de acordo com dados do prospecto sobre a emissão dos Eurobonds angolanos em Maio do ano corrente.

No período anterior, ou seja 2017, a redução da disponibilidade de Reservas Internacionais contribuiu para que se registasse instabilidade cambial e, consequentemente, incremento da inflação tendo-se em consideração as dificuldades no acesso às divisas para a importação de bens, que variam de matérias-primas a equipamentos. A taxa de inflação homóloga referente à cidade capital, Luanda, aumentou 18,57 p.p., para 26,26%, durante o mesmo período. A venda de divisas registou redução de 37%, fixando-se em 12,2 mil milhões USD, no período acima referenciado, tendo contribuído para que as importações de bens e serviços registassem uma redução de 43%, fixando-se em 28,25 mil milhões USD em 2017. Em Agosto de2018 as RIL’s atingiram 12,66 mil milhões USD e as RIB’s, 17,18 mil milhões USD, montantes que representam diminuições de 4% e 3%, respectivamente, em relação a Janeiro.

As RIB’s mantém-se acima dos 7 meses de importações, sendo que as Líquidas deverão fixar-se em aproximadamente 5,3 meses de importações, de acordo com cálculos próprios. O registo actual representa uma moderação significativa na deterioração das Reservas Internacionais, tendo-se em consideração que, de Janeiro a Agosto de 2017, as RIB’s reduziram 13% e as RIL’s diminuíram 20%.

A adopção do novo regime cambial, em Janeiro do ano corrente, que se caracteriza pela flutuação da taxa de câmbio com bandas, contribui para que o câmbio se ajuste ao cenário económico actual, ao invés de impactar de maneira desproporcional nas Reservas do país, como ocorria quando vigorava o câmbio fixo. Adicionalmente, o novo regime cambial permite uma maior participação das instituições financeiras na definição do preço adequado da moeda nacional em relação ao euro, com a cotação em relação às outras moedas a ser definido em função da taxa de câmbio das mesmas em relação ao euro.

A redução do gap cambial entre o mercado formal e informal representa uma trajectória de acordo com as expectativas do Executivo, considerando-se que se registou uma redução do diferencial entre as taxas de câmbio, de 150,62% em Janeiro para 44,76% em Junho do ano corrente, de acordo com dados divulgados pelo Banco Nacional de Angola. Perspectiva-se que se alcance o objectivo de 20% de gap cambial até o final de 2018, tal como descrito no Plano de Estabilização Macroeconómica (PEM), período em que se perspectiva que o câmbio volte a adoptar uma trajectória mais estável.

O aperto monetário contribuiu para que a redução da disponibilidade de liquidez reduzisse a procura por divisas no mercado informal, e consequentemente, para a apreciação da taxa de câmbio, variação que permite que o câmbio formal não tenha que apresentar uma desvalorização acentuada. A venda acumulada de divisas fixou- se em 7,97 mil milhões EUR de Janeiro a Agosto do ano corrente, uma redução de 8,21% em relação ao período homólogo de 2017.

Apesar da tendência decrescente dos volumes vendidos, a taxa de inflação tanto nacional quanto de Luanda tem registado trajectória no mesmo sentido, o que poderá reflectir além do impacto da política monetária contraccionista, a melhor alocação das divisas, com as vendas por intermédio de leilões a representarem 51% do total no segundo trimestre de 2018, quando no trimestre anterior representaram 40,83% e no quarto trimestre de 2017 correspondiam a apenas 4,8% das vendas de divisas.

A trajectória das Reservas Internacionais tem probabilidade significativa de se manter decrescente, apesar das medidas em curso para controlo da deterioração, mediante a adopção do câmbio flutuante e da redução da venda de divisas.

Apesar do incremento da cotação internacional do crude como consequência da entrada em vigor do acordo de corte da produção de crude em Janeiro de 2017, a incerteza em relação à capacidade de produção petrolífera nacional, associada ao compromisso das receitas com o crescente serviço da dívida, contribuem para que se mantenha o cenário de redução das Reservas de Moeda Estrangeira.