Agostinho Neto recebe finalmente “Honoris Causa”, a título póstumo

Agostinho Neto recebe finalmente “Honoris Causa”, a título póstumo

A universidade Agostinho Neto(UAN) outorgou ontem, em Luanda, a título póstumo, o grau de “Doutor Honoris Causa” ao seu primeiro reitor e patrono

Texto de: Maria Custódia

Maria Eugénia Neto, viúva do patrono da UAN, chamada a intervir no acto, sublinhou que com a atribuição do grau, a figura de Agostinho Neto ganha uma nova dimensão no momento em que o país desperta para a necessidade de retornar às suas várias e sábias orientações.

Dessas orientações, a viúva destacou dois famosos “slogans”, segundo os quais a “agricultura é a base e a indústria o factor decisivo”, e “ O mais importante é resolver os problemas do povo”.

A também escritora e companheira de Agostinho Neto recordou que o primeiro Presidente de Angola considerava o seu país como parte integrante do concerto das nações e que devia ter voz igual e participar no progresso da humanidade.

“É com profunda emoção que, em meu nome pessoal e da minha família, agradeço a decisão e o gesto da Universidade Agostinho Neto de outorgar, postumamente, a honraria e o grau de Doutor Honoris Causa a António Agostinho Neto, meu esposo e companheiro de uma vida sem tréguas”, sublinhou. Realçou que quando Agostinho Neto orientou para a solução dos problemas do povo, o seu objectivo era nortear a governação para o bem do povo e não de uma elite.

Apontou que a ideia era destinar os recursos para a saúde, educação, habitação, transportes, para a água, a electricidade, a justiça e outros sectores vitais e “não para serem desperdiçados numa gestão danosa e ruinosa que levou o país a uma profunda recessão”. Durante o seu pronunciamento, Maria Eugénia Neto reiterou que Agostinho Neto, enquanto Presidente de Angola, “dedicou a sua vida e o saber seguindo uma tradição iluminista da geração do seu pai que buscava a luz”.

Essa luz, segundo ela, consistiu na luta de libertação nacional que culminou com a conquista da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975. Maria Eugénia Neto almeja que os próximos doutoramentos da UAN signifiquem o atingir de um patamar académico sonhado pelos lutadores pela Independência Nacional, e que contribua com novas soluções para os modernos desafios da sociedade.

Conclusão do campus universitário Durante a sua intervenção, defendeu a necessidade de se unir esforços para a conclusão faseada do Campus Universitário da UAN, por forma a dotar a universidade de imóveis e infra-estruturas para o ensino, oficinas, laboratórios para o hospital universitário e as residências dos professores e dos alunos.

“O ensino universitário deve ser repensado à luz de uma nova economia agro-mineral e de serviços”, disse. Considerou que a universidade deve acertar o passo com a modernidade e desenvolver o ensino a par da investigação e das diversas áreas de extensão para que a ciência e a tecnologia em Angola ajudem o crescimento de todas as regiões do país.

Por seu turno, o reitor da Universidade Agostinho Neto, Pedro Magalhães, assegurou que o primeiro reitor da UAN empenhou-se e criou as bases necessárias para que a pátria angolana tivesse alicerçado um sistema de ensino ao nível mais elevado do ensino superior.

“Teve que tomar decisões difíceis para permitir o acesso à formação técnica e cientifica, meta que cada um deve seguir com as suas acções”, destacou. Já o ex-presidente da Assembleia Nacional, Roberto de Almeida, também presente no acto, declarou que a homenagem foi mais do que merecida, mas peca por chegar tarde, pelo papel que Agostinho Neto desempenhou.

Recordou que Neto foi preso político, orientador teórico do movimento de libertação, Presidente da República, diplomata, um político estadista e bom defensor da libertação dos povos.

Agricultura: novo desafio

A ex-primeira dama da República Popular de Angola, na altura, referiu que Angola tem inúmeros desafios que obrigam a uma estratégia global e a um empenho que mobilizará o esforço de muitas gerações.

Esses desafios, na sua visão, passam pela agricultura alimentar e pela indústria agroalimentar, em vez “de se gastar divisas para importar alimentos”, mas deve-se priorizar os tractores, as sementes, os adubos e outros elementos para a agricultura produtiva e sustentada.