Kuangana dá benefício da dúvida à governação de João Lourenço

Kuangana dá benefício da dúvida à governação de João Lourenço

O antigo líder do PRS , Eduardo Kuangana, reconhece sinais de mudança na nova governação mas, advoga medidas consistentes para uma verdadeira mudança em Angola.

O antigo presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Eduardo Kuangana, considera promissor o actual momento político prevalecente no país, embora manifeste algumas reservas sobre a eficácia das mudanças, sobretudo no combate à corrupção e no que toca à condição social dos angolanos. O político, que falava em exclusivo a este jornal, olha para as actuais reformas que ocorrem, quer na justiça, como ao nivel do aparelho do Estado, como sendo “um relâmpago” que pode vir a apagar- se. Kuangana diz que a actual situação do país inspira cuidados, pelo que deverão ser aprimoradas as políticas públicas viradas para as zonas rurais. “A situação real de Angola deve ser avaliada com base na realidade do campo”, disse o político, para quem as políticas públicas têm passado de lado ao desenvolvimento rural sustentável.

Questionado sobre a avaliação que faz do primeiro ano de governação de João Lourenço, o antigo dirigente da Oposição recusou pronunciar-se, justificando ser prematuro para os problemas deixados pelo consulado de Eduardo dos Santos durante os 39 anos de governação. “Não podemos dar ainda nota, pois a prova só começou agora”, afirmou, tendo reconhecido existirem boas perspectivas, embora esteja ainda cercado por aliados da antiga governação que, supostamente, impedem acções da sua vontade. “Ainda há apertos. Não estamos a trabalhar, mas sabemos que existem apertos, talvez com o tempo as coisas venham a melhorar”, referiu Kuangana. Para si, o combate à corrupção, marcado nos últimos dias pela detenção de antigos altos responsáveis do anterior Governo, não basta. “É necessário o retorno do alegado dinheiro desviado aos cofres do Estado”.

Kuangana admite problemas no PRS

Questionado sobre supostas divergências internas no PRS, marcadas por acusações de desvios de fundos do partido e de violações dos estatutos visando a manutenção da actual liderança de Benedito Daniel, o antigo dirigente admitiu existirem problemas, mas que sucedem em todas as organizações. Estas clivagens intensificaram- se aquando da corrida eleitoral nas últimas eleições de 23 de Agosto, onde um dos concorrentes, Sapalo António, acusava a actual direcção de violar, sistematicamente, os estatutos do partido. Entretanto, foi nesta senda que um dos membros fundadores do PRS, João Baptista Ngandajina, abandonou o partido, por suposta violação dos princípios democráticos, das normas estatutárias e do funcionamento dos órgãos e das estruturas da formação política, o que para Benedito Daniel foi normal, pois os membros eram livres de tomarem as suas decisões. O PRS é a terceira força política na Oposição e foi a quarta mais votada, com 98.233 votos (1,70%). Elegeu três deputados, dois pelo círculo nacional e um na Lunda- Sul, menos cinco em relação ao período legislativo de 2008.