Gilberto Simão: “O pão produzido no país precisa de fiscalização”

Gilberto Simão: “O pão produzido no país precisa de fiscalização”

Comemora-se hoje, 16 de Outubro, o Dia Internacional do Pão. Em entrevista a OPAÍS, o presidente da Associação das Indústrias de Panificação e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, apontou a má qualidade do pão produzido por alguns nacionais e apela ao Governo para implementar políticas que incentivem a produção da farinha de trigo, de modo a diminuir os níveis de importação e as dificuldades na aquisição desta matéria- prima.

O Censo da Indústria de Angola (CIANG) registou cerca de 800 panificadoras, dentre as quais 400 estão localizadas em Luanda. O principal “calcanhar de Aquiles” das panificadoras tem a ver com a especulação do preço da farinha de trigo e dos equipamentos.

Que avaliação faz das indústrias panificadoras no país?

A indústria panificadora está mal e vai piorar. Estamos com falta de farinha trigo, a principal matéria-prima para a produção do pão. Há três anos vivemos um período grave da conjuntura económica e social no país, mas conseguimos resolver. O preço da farinha estava a kz 30 mil e conseguimos reduzir para kz 6.500, por intermedio de um acordo com o Entreposto Aduaneiro. Neste momento, deparamo- nos com a mesma situação, porque o Enterposto Aduaneiro não tem farinha de trigo e o preço do produto está muito alto. Embora não haja necessidade de especular o preço.

Como define a qualidade do pão produzido no país?

Muito má, principalmente o pão feito por nacionais. É preciso uma fiscalização. Cada individuo que é responsável por uma padaria deve ter uma carteira profissional, o que não acontece, porque os empresários não seguem. Quando se abre uma indústria de panificação deve existir requisitos para exercer a actividade, que podem ser acompanhados pela AIPPA para trabalhar e melhorar a qualidade do pão.

O que está a ser feito para mudar o quadro?

Estamos a trabalhar com o Ministério da Indústria para melhorar a qualidade do pão. As normas serão conhecidas nos próximos dias. Há um estudo para melhorar a qualidade do produto. No entanto, não é que os angolanos não saibam fazer pão, só que não é de boa qualidade, por causa da ganância de muitos industriais.

Cerca de 80% das indústrias de panificação está a ser dominado por estrangeiros. Isso preocupa- o?

Sim. Estamos muito preocupados e apelamos ao Governo para tomar medidas urgentes, por causa da concorrência desleal. Os estrangeiros têm uma fonte de abastecimento credível. A única fonte que os nacionais tem é o Enterposto Aduaneiro e quando não há farinha trigo o preço aumenta. Neste momento, existem duas classes, nomeadamente os estrangeiros e os nacionais. Não queremos que os estrangeiros deixem de produzir pão, mas que haja uma política salutar e ambiente de trabalho em parceria com os angolanos.

Que medidas estão a ser tomadas para uniformizar o preço do pão?

Quando estipulamos o preço do pão a 20 kwanzas está conectado ao preço da farinha de trigo. Agora, para vender o pão a este preço é preciso comprar o saco de farinha a kz 7 mil. Por essa razão, os importadores de farinha de trigo devem ter uma tabela única de preço do produto para evitar especulação.

A produção da Grandes Moagens não satisfaz as necessidades das panificadoras?

Infelizmente, a produção da Grandes Moagens não resolve o problema. Mas, na associação temos um plano para criar uma cooperativa a fim de complementar o Entreposto Aduaneiro, que sozinho não consegue resolver o problema a nível nacional, que passa por combater a especulação do preços da farinha de trigo importada. Com as condições criadas podemos vender a farinha de trigo a 7 mil kwanzas, mesmo com a flutuação do câmbio.

Quantos membros tem a AIPPA?

A associação conta com mais de mil associados em diferentes pontos do país. Em Luanda, temos identificadas mais de mil panificadoras licenciadas e 400 registadas, já no resto do país temos mais de 50 panificadoras associadas. O projecto da associação é recuperar as micro e pequenas moageiras para a produção de farinha de trigo. É preciso apostar nas pequenas moageiras, que é o futuro do desenvolvimento do país e apoiar a cultura de trigo.

O que encarece o aumento do preço do pão é somente a matéria- prima ou existem outras situações?

Não. O nosso principal constrangimento não é apenas a farinha trigo, mas, sim, os demais elementos que compõem a cadeia produtiva, nomeadamente máquinas, fornos, manutenção, formação profissional e outros itens.

Algumas províncias, como é o caso do Huambo e Bié, possuem condições para a produção de trigo em grande escala. O que acha que deveria ser feito para incentivar os produtores?

É preciso uma política de desenvolvimento económico para a cultura do trigo e, deste modo, diminuir os níveis de importação. Recentemente reuni-me com muitos agricultores que já produziram trigo e precisam de sementes e equipamentos para retomar a produção em grandes quantidades.

Em que pé está o programa de merenda escolar?

Já apresentamos ao Governo uma proposta através de um consórcio que iria beneficiar o próprio Governo e as indústrias panificadoras. Por outro lado, o industrial de panificação deve ser local e teríamos melhor aproveitamento escolar para crianças que não têm condições de tomar o pequeno-almoço. Nas comunas e municípios muitas crianças fogem da escola porque há muita fome.

Dia Mundial do Pão

A data foi instituída pela união Internacional de Padeiros e Afins em 2000 para celebrar este alimento essencial. O pão é o alimento mais popular do mundo, estando presente nas várias refeições, assim como é o alimento mais versátil, dando origem a inúmeras receitas.

História do pão

O primeiro registo do pão fermentado data de, aproximadamente, 4 mil anos a.C., quando os egípcios realizaram a fermentação de uma massa de trigo. O pão era o alimento do povo. Os egípcios amassavam o pão com os pés, utilizando espécies de trigo de qualidade inferior. O trigo de qualidade superior estava reservado para os ricos.