Medicação caseira para abortar gravidez mata jovem de 20 anos

Medicação caseira para abortar gravidez mata jovem de 20 anos

O namorado orientou Madalena Moreira a tomar uma mistura de jornal fervido, folhas do vulgo “cura-tudo” e de santa-maria para abortar a gravidez de quatro meses. Esta “porção” trouxe consequências nefastas ao organismo até que veio a falecer meses depois. A família da vítima pede que se faça justiça, pois desconfia que o jovem esteja em liberdade.

O facto desenrola-se no bairro Ângelo, município de Cacuaco, nas imediações da conhecida paragem do Kikolo. A vítima nos autos chama-se Madalena Moreira José Mateus, de 20 anos, e mantinha uma relação amorosa com o jovem, de 23 anos, que responde pelo nome de Filipe Viegas Paulino. Filipe era praticamente filho de casa, conhecido pela família da namorada, até porque tanto a residência dos familiares de Madalena, quanto a dos familiares deste partilhavam o mesmo muro; eram praticamente vizinhos de porta-a- porta, como nos contam os tios da vítima, Manuel Cassopa e António Agostinho. O namorado disse à jovem que não tinha condições de sustentar o filho, pelo que deviam abortar a gravidez. Assim, sugeriu à jovem que não contasse nada a ninguém e, porque também não tinham condições para se dirigirem a uma clínica para fazer o aborto, começou a planear uma forma caseira de conseguir tal procedimento.

“Trouxe a primeira e a segunda mistura de ervas, ela tomou e não houve sucesso. Foi a terceira tentativa que resultou, tendo decidido misturar o cura-tudo, a santa-maria e ferver um jornal em água, dando-lhe depois a tomar a mistura”. Ela não tomou o copo todo, apenas um pouco. Aquilo queimou- lhe o esófago todo”, conta o tio, Manuel Cassopa. Depois de ter tomado, ainda na casa de Filipe, Madalena começou a transpirar, a vomitar sangue e desmaiou. O namorado, aflito, foi chamar a mãe da jovem. Levaram-na ao Hospital Municipal de Cacuaco, onde foi assistida e descobriram a gravidez. Foi então que o namorado decidiu contar a verdade.

Agostinho António, outro tio da vítima, disse que daí começou o problema da família. Um mês depois, receberam a informação do que tinha acontecido com a sobrinha. Ela perdeu muito peso, porque a medicação caseira trouxelhe muitos problemas ao ponto de vomitar toda a comida que ingerisse. “Fizeram-lhe uma operação e aplicaram-lhe uma sonda, via pela qual se alimentava, o que foi apenas para retardar a sua morte. No dia 2 de Setembro, com a Polícia, o jovem foi preso e colocado na esquadra do Belo Monte, para depois vir a ser transferido para a Divisão Municipal. Depois de um tempo, a 16 de Outubro, a menina morreu, em casa, onde tentava recuperar”, lamenta.

“Sentiu-se mal na cela e aproveitou fugir”

A família cumpriu os trâmites normais para a realização do óbito e do funeral da jovem Madalena, cuja autópsia ditou que teve morte por choque séptico e esofagite aguda, causada por uma substância natural estranha. Depois de algum tempo, dirigiram-se à Divisão de Cacuaco para acompanhar o processo, número 4339/18. “Disseram-nos que o rapaz estava a sentir-se mal e puseram-no fora da cela. Posto fora, o rapaz fugiu, até hoje. Entretanto, mesmo sabendo que está foragido, na sua conta do facebook tem publicações de horas depois do funeral, o que deixa irritada a família”, denuncia Manuel Cassopa. Numa das publicações, Filipe diz que, por causa de uma simples gravidez, ficou famoso no bairro, pelo que só falam dele. “Fomos na esquadra, a Polícia disse que ia investigar, e até hoje estamos à espera”, disse António Agostinho. Tudo o que os tios e outros familiares da vítima pedem é que o jovem Filipe seja detido e julgado pelo crime que cometeu, pois só assim verão que foi feita justiça. E questionam: “como é que um indivíduo que estava sob a custódia da Polícia foge da Divisão de Cacuaco”.

Sem paradeiro possível

OPAÍS contactou uma das tias de Filipe (o acusado), que mantinha contacto com a família da vítima, para saber do paradeiro do sobrinho e, pelo telefone, esta disse desconhecer. Após conversa insistente, a senhora identificada por Dona Feia, reforçou que ele não estava preso, pelo que não sabia onde o sobrinho se encontrava, por não ter contacto com ele há bastante tempo. O contacto seguinte foi com o pai de Filipe, Sr. Oliveira, mas sem sucesso. Por fim, a equipa de reportagem de OPAÍS contactou o director de informação do Gabinete de Comunicação e Imagem do MININT, Mateus Rodrigues, que, sem muitas palavras, disse apenas que se o jovem foi solto, o assunto deve ser tratado junto do Ministério Público do referido Comando de Polícia. Desde que morreu a jovem, os familiares com quem mantinham contacto desapareceram. Madalena era a primeira quatro irmãos, vivia no Cuanza-Norte e veio a Luanda para dar continuidade aos estudos.