“Polícia assassina, Pol íci a assassina, Polícia assassina”, foram as palavras que mais se ouviram antes, durante e depois do funeral da ‘zungueira’ do Rocha Pinto, Juliana Cafrique, morta a tiro no passado dia 12 de Março por um agente na Praça da Padaria, em Luanda. No Velório da Tourada, pertencente à corporação, os agentes e oficiais da Polícia Nacional destacados para esta missão viramse obrigados a ceder a várias exigências dos familiares e amigos de Juliana para evitar outro tumulto.
Enquanto o corpo estava a ser velado, um jovem foi detido por supostamente filmar com o seu telefone os agentes, tendo sido solto minutos depois face aos gritos de protestos “liberta, liberta, liberta”. Sem nunca pararem de cantar, os familiares marcharam a pé, do local do velório até ao Rocha, em direcção à residência da malograda em gesto de protesto.
No túnel da FAPA, a Polícia desviou a rota para a Samba, tentando ‘fugir’ da Avenida 21 de Janeiro com receio de um eventual distúrbio no local do crime. Gerou-se outra confusão e mais uma vez a Polícia foi forçada a ceder, pois os familiares alegaram que, segundo a tradição africana a malograda tem de passar ao menos no bairro onde está localizada a sua residência.
Choros, gritos, desmaio da mãe da vítima foram outros dos momentos que marcaram o último adeus à zungueira do Rocha, que arrastou uma multidão pelas ruas até ao campo santo do Benfica. Entre os presentes estavam deputados da Assembleia Nacional, governantes e membros de organizações da sociedade civil. Para além de uma casa velório, Juliana teve direito a duas ambulâncias, quatro autocarros, mais de 20 hiaces de apoio da associação de taxistas Nova Aliança e dezenas de viaturas particulares de pessoas que se juntaram à causa.
Todavia, a família afirma que nenhuma dessas benesses é capaz de reparar a perda da sua ente querida e exige justiça.
Local do crime às moscas
As colegas vendedeiras da Praça da Padaria, local do crime, deixaram os seus negócios de lado e o local ficou completamente vazio para se juntarem ao funeral. Desde o dia da sua morte, na bancada de Juliana foi colocada uma arca estragada. Segundo as zungeiras pretendem fazer algo diferente no local e colocar uma fotografia da malograda para eternizá-la.
Dia da mulher angolana
Em pleno Março Mulher, os discursos de apreço e solidariedade a Juliana Cafrique foram no sentido de se acabar com a vio lência policial contra a mulher zungueira e dar dignidade à família angolana.
No cemitério do Benfica discursaram representantes da UNITA, MPLA, um representante das e dos zungueiros e a Associação dos Taxistas Nova Aliança.
Tanto as e os zungueiros como a Nova Aliança, defendem que o 12 de Março seja proclamado como o dia da zungueira e da Mulher Angolana. Juliana Cafrique nasceu aos 4 de Abril de 1990 no Libolo, província do Cuanza-Sul. Deixa viúvo e três filhos.