Grevistas dos Caminhos de Ferro sob ameaças de despedimentos

Grevistas dos Caminhos de Ferro sob ameaças de despedimentos

O responsável do gabinete jurídico do sindicato dos trabalhadores dos Caminhos de Ferro de Luanda (CFL), Ditoloca Kinkela, denunciou ontem, a OPAÍS, que a direcção daquela empresa pública tem levado a cabo uma série de ameaças de despedimentos a todos os funcionários que aderiram à greve que teve início na Segunda-feira. A greve, com paralisação parcial da frota que foi reduzida para dois comboios diários, continua sem tempo para terminar, numa altura em que a direcção da empresa diz não ter condições de satisfazer um importante ponto do Caderno Reivindicativo: o aumento salarial.

De acordo com Ditoloca Kinkela, à semelhança de outras ocasiões, desde que se instalou a greve na empresa a direcção do CFL tem estado mais preocupada em coagir, ameaçar e criar embaraços durante o processo de negociação, do que avançar com uma real concertação que possa resolver o diferendo. Tal como esclareceu, a greve foi a única saída que os trabalhadores encontraram para fazer ouvir a sua voz e chamar a atenção dos responsáveis do CFL para a necessidade de olhar às reais revindicações dos funcionários, como a melhoria das condições salarial na ordem dos 80 por cento, subsídio de transporte, igualdade no subsídio de alimentação, condições de trabalho, entre outras. Segundo o sindicalista, a greve em curso foi aderida por mais de 80  dois comboios diários, o por cento dos trabalhadores de vários escalões, e todos têm vindo a receber ameaças de despedimeto por terem alinhado na reivindicação.

Porém, apesar das ameaças, Ditoloca Kinkela assegurou que o grupo vai-se manter forte, coeso e não tenciona recuar sem que antes os pontos discordantes estejam acordados. “Estamos seguros do que queremos e não vamos baixar a guarda sem que antes a empresa nos possa assegurar que as nossas reivindicações serão atendidas. Ganhamos muito mal, temos um subsídio de alimentação que não serve para nada e nem temos transportes. Diante desse quadro é impossível continuarmos a trabalhar. Precisamos é de melhorias”, atestou. Para aquele sindicalista, com essas ameaças, a direcção do CFL pretende implantar um clima de medo no seio dos grevistas, de forma a pressioná-los a voltarem à actividade laboral, cuja suspensão está causar enormes prejuízos à vida financeira da empresa e dos cidadãos que dependem do comboio.

Serviços mínimos assegurados até amanha

De acordo ainda com Ditoloca Kinkela, os serviços básicos vão continuar a funcionar até amanhã, cumprindo assim com os cinco dias que a lei prevê. Durante este período, estarão em funcionamento dois comboios diários, o posto de saúde e o refeitório. No entanto, apesar de estar assim acordado, o sindicalista denunciou ainda que há, por parte da empresa, intenções de pôr em funcionamento mais uma unidade, sem a aprovação da comissão sindical. “Caso esta situação venha a acontecer, vamos paralisar todos os serviços. A empresa não pode agir à margem da lei. É preciso respeito e cumprimento da Lei da Greve. Se tivéssemos um conselho de administração sensível aos nossos problemas, não iríamos partir para greve.

A falta de consideração levou-nos a esse extremo”, lamentou. Por seu turno, o porta-voz do CFL, Augusto Osório, desmentiu o responsável do gabinete jurídico do sindicato dos trabalhadores, quanto à acusação de ameaças de despedimentos, acrescentando que não existe nenhuma norma oficial nesse sentido. Segundo o responsável, os trabalhadores em greve estão no seu direito de reclamar, mas não podem levantar falsos argumentos para ganharem notoriedade na imprensa e noutros espaços públicos. Actualmente, deu a conhecer Augusto Osório, decorre o processo de negociação entre a empresa e os grevistas, de forma a se ultrapassar esse momento crítico que o CFL enfrenta.