A última decisão do comité de política monetária

A última decisão do comité de política monetária

No seguimento da última reunião, realizada em Maio de 2020, o CPM decidiu manter as principais taxas de juro de referência, tendo a Taxa BNA se fixado em 15,5% o mesmo nível desde Maio de 2019, e o rácio de reservas obrigatórias mínimas se fixado em 22% para a moeda nacional e 15% para a moeda estrangeira, os mesmos níveis desde Outubro de 2019 e início da série histórica, respectivamente. 

O posicionamento do CPM foi sustentado pelo desempenho apurado nos níveis de preços, nas perspectivas de crescimento da economia e sobre o desempenho das contas externas. 

Para o primeiro indicador, a taxa de inflação, o CPM ressaltou que em Junho a inflação situou-se em 22,62%, na variação homóloga, um aumento de 5,68 p.p. face ao mesmo período de 2019, não obstante ter desacelerado 0,2 p.p. em termos mensais para 1,74%. 

Desta análise, o CPM concluiu que os preços dos produtos alimentares têm contribuído para a tendência ascendente do índice de preços globais, tendo se fixado em 27,87%, em termos homólogos, o nível mais elevado desde Fevereiro de 2018. Destaca-se que a taxa de inflação média prevista no Orçamento Geral do Estado Revisto 2020 foi fixada em 25%. 

Para o segundo indicador, a taxa de crescimento real da economia, o CPM revelou que a mesma apurou uma contracção de 1,8% em termos homólogos no Iº trimestre de 2020, segundos dados do Instituto Nacional de Estatística, sendo que das medidas disponibilizadas para dar suporte à economia, num esforço para atenuar os impactos da propagação da COVID-19 sobre a economia nacional, com realce para a linha de liquidez de 100 mil milhões Kz para o sector produtivo e a linha de liquidez para o sector financeiros de igual montante renovável trimestralmente, têm apresentado um desempenho positivo. 

Relativamente, às contas externas, o CPM, avançou que as Reservas Líquidas se fixarem em 10,41 mil milhões USD, enquanto as Reservas Brutas situaram-se em 15,58 mil milhões USD, em Junho, o que permite a cobertura de até 11,76 meses de importação. 

As medidas de liberalização do mercado cambial têm contribuído para a gestão das Reservas, através do processo de depreciação da moeda que até a fecho do segundo semestre tinha acumulado uma depreciação de 16,7% se comparado a taxa de câmbio do Kwanza face ao dólar no fecho de 2019. 

Paralelamente, o CPM decidiu introduzir a taxa de custódia sobre o excesso de liquidez, um instrumento que poderá contribuir numa melhor gestão da liquidez no sistema e na melhor redistribuição da mesma no Mercado Monetário Interbancário (MMI) e, por arrasto, numa melhor afectação do crédito à economia real. 

A decisão do CPM, poderá ter sido motivada pela evolução positiva que as Reservas Livres dos Bancos Comercias junto do Banco Central, que entre Dezembro de 2019 e Junho de 2020, aumentaram 136,3%, o maior incremento em termos semestrais na série histórica do BNA, apenas comparável com o aumento de 102,8% apurados entre Dezembro de 2016 e Junho de 2017, numa conjuntura em que a economia tivera contraído 2,6%, a taxa de inflação fixou- se em 41,95%, enquanto as taxas de câmbio estavam fixadas em 165,903 Kz/USD com altas expectativas de depreciação. 

O aumento nunca antes apurado poderá reflectir um posicionamento mais cauteloso dos bancos comerciais face ao actual contexto desafiante de contracção económica, reduzida poupança interna e a manutenção do processo de depreciação cambial. 

Assim, com a decisão, que terá uma regulamentação própria, poderá contribuir para uma maior distribuição da liquidez no MMI, redução da pressão sobre o mercado cambial e impulsionar o crédito à economia, com possíveis efeitos sobre o crescimento da economia. 

Por fim, o CPM reforçou o seu comprometido em continuar a avaliar e a monitorar todos os determinantes da inflação na economia e agir em conformidade para que as mesmas se mantenham em níveis compatíveis e o poder de compra seja preservado, sendo que remarcou a sua próxima reunião para o dia 28 de Setembro de 2020.