União dos Escritores consternada com a morte do poeta Frederico Ningi

União dos Escritores consternada com a morte do poeta Frederico Ningi

A missiva a que OPAÍS teve acesso, Frederico Ningi é descrito como poeta, jornalista, fotógrafo e artista plástico angolano, nascido a 17 de Fevereiro de 1959, em Benguela. Concluídos os estudos liceais, tudo na cidade natal, Benguela, matriculou-se, na cidade de Lobito, no Instituto Médio de Educação. Mais tarde, foi viver para Luanda, onde deu continuidade à formação na área do Desporto, tendo-se matriculado no Instituto Médio de Educação Física.

Contudo, a paixão pelo jornalismo levou-o a frequentar o Instituto Médio Karl Marx/ Makarenko, cuja área de formação lhe abriu as portas para o cargo de assistente de comunicação e imagem da Sonangol Aeronáutica. Com uma actividade diversificada, colabora, não só como jornalista mas também como fotógrafo e mesmo como artista plástico, na página cultural do Jornal de Angola e nos programas lúdico/culturais da Televisão Pública de Angola (TPA), aqui aliás como redactor principal nesta área.

Oriundo de uma família que professava o tocoísmo (seita religiosa e política, fundada em 1949, por Simão Gonçalves Toco, conforme Dicionário de Regionalismos Angolanos de Óscar Ribas), reprimida nos anos 60 do início da guerra colonial, o autor, desde muito cedo, contactou com a Bíblia, em versões Umbundu e Português. Durante a adolescência procurou a literatura oriental que associada à prática do Yoga, ministrada pelos professores Hermógenes e George Stobbaerts, constituiu o seu mentor espiritual.

O poeta Poeta da geração de 80 (a novíssima geração e a das incertezas), a sua poesia, fruto de uma postura iconoclasta, é caracterizada por um permanente jogo de letras e de palavras desestruturador da norma do português, de que são exemplo, o uso de maiúsculas em determinados pontos da palavras e a presença de vocábulos das línguas nacionais. Através desta poesia, assim como de toda a sua actividade artística, Frederico Ningi procura denunciar a situação angustiante do seu país, onde não há lugar para sonhos e para a esperança, que morrem sufocados na fl or muda da laringe.

Como outros poetas desta geração, nomeadamente, Lopito Feijóo, o autor entra em ruptura com as estéticas tradicionais e através de um “eu lírico” “melancolérico”, assume a melancolia não como forma de se evadir da realidade quotidiana que o envolve, mas sim como forma de se indignar contra a ela. Artista plástico reconhecido, o seu nome integra o “Catálogo Internacional de Artistas Contemporâneos Africanos”, publicado em França, sendo membro da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP) e da International Writers and Artists Association (IWAA). É também Membro da União de Escritores Angolanos (UEA). São seus os seguintes livros: Os Címbalos dos Mudos (1994) – poesia; e Infi ndos nas Ondas (1998). De salientar que é o segundo poeta que deixa o mundo dos vivos neste mês, depois de já ter sido sepultado o também confrade da UEA, António Panguila.