Os preços dos serviços de telecomunicações em Angola poderão ser rapidamente reduzidos com ajuda de dois factores: como a introdução de maior concorrência privada, colocando o Estado num papel menos interveniente, mais regulador e facilitador, defendeu nesta Sexta-feira, em Luanda, o director-geral do ITA, Jaime Ferreira
Entrevista e fotos de: Borges Figueira
De acordo com o director- geral do ITA, Jaime Ferreira, o sector das telecomunicações em Angola continua com uma participação significativa do Estado e essa situação deve ser alterada, de forma a acelerar os investimentos, criar de forma a racional um mercado mais amplo, eficiente e competitivo e facilitar a partilha de infra- estruturas ou parcerias efectivas e reais de modo a reduzir os custos operacionais de vários operadores do sector.
A infra-estrutura da ITA tem agora um carácter nacional, sendo constituída por uma rede “backbone” que se estende de Benguela ao Soyo & Cabinda através de uma tecnologia Micro-ondas, com caminhos redundantes em fibra, numa configuração de dois anéis Luanda- Benguela e Luanda – Soyo. Existe ainda uma rede de fibra óptica metropolitana na capital angolana com três anéis principais redundantes.
“Toda esta infra-estrutura de telecomunicações está configurada com tecnologias de transmissão mais avançadas que a tornam muito robusta e com extrema fiabilidade, quetem trazido à ITA a procura elevada dos nossos serviços por parte de grandes empresas nacionais e internacionais na região”, disse.
Que avaliação faz do estado de desenvolvimento das infra-estruturas de telecomunicações no País?
A avaliação é positiva face aos desenvolvimentos dos últimos anos, tendo as infra-estruturas de telecomunicações atingido um patamar de cobertura e de sofisticação que classificaria de boa. Existe ainda espaço para melhoria e optimização do ponto de vista tecnológico, dado que nos últimos 3 anos o investimento foi muito limitado em todos os operadores do mercado.
Qual é o alcance da infra-estrutura da ITA?
A infra-estrutura da ITA tem agora um carácter nacional, sendo constituída por uma rede “backbone” que se estende desde Benguela ao Soyo & Cabinda através de tecnologia Micro-ondas, com caminhos redundantes em fibra, numa configuração de 2 anéis Luanda-Benguela e Luanda – Soyo. Existe ainda uma rede de fibra óptica metropolitana em Luanda com 3 anéis principais redundantes. Toda esta infra- estrutura de telecomunicações está configurada com tecnologias de transmissão mais avançadas que a tornam muito robusta e com extrema fiabilidade.
Qual é a sua opinião sobre a partilha de infra-estrutura, tendo em conta as vantagens e desvantagens para as operadoras?
A partilha de infra-estrutura no contexto do mercado Angolano é de extrema importância. A dimensão do País e os constrangimentos de transporte e energia que subsistem, colocam os custos de operacionalidade num nível bastante elevado quando comparados com mercados maduros. Infelizmente, os operadores de telecomunicações existentes deram pouca importância ao benefício de partilha de infra- estruturas e só no momento actual acordaram para esta necessidade. Estamos no caminho certo, mas ainda existe espaço para significativos acordos de partilha.
Já é possível dispor de serviços de telecomunicações, independentemente da localização geográfica? Se sim, que soluções tecnológicas são adaptadas para essa realidade?
A dispersão geográfica é bem servida com tecnologia wireless, seja ela de alto débito via “links” dedicados ou tecnologias mais conhecidas de 3G, 4G e no futuro o 5G, cujas diferentes insígnias signi- Alguns operadores no mercado, no qual se encontra a ITA, começam a ter soluções muito robustas que permitem dar passos nessa digitalização” ficam a capacidade de largura de banda disponível para a mobilidade.
A pressão do consumidor, seja particular ou empresarial, continuará elevada para a internet em qualquer lugar, com alta disponibilidade e elevada largura de banda. Esta tendência irá manter-se em qualquer país do Mundo. No caso de locais extremamente remotos poderemos utilizar tecnologia satélite, que também teve desenvolvimentos significativos nos últimos anos com tecnologia banda Ka.
Qual é o impacto económico e social das infra-estruturas, produtos e serviços de telecomunicações?
O impacto económico e social é muito significativo, estando estimado em termos de PIB com impacto directo na ordem dos 5%, sendo um valor tangível considerável em todas as economias. No caso de economias em desenvolvimento o valor intangível é ainda mais importante. Pela primeira vez na Historia da humanidade, o acesso à informação através da internet é igual, quer esteja a pessoa em Luanda, Huambo, Lisboa, Nova Iorque ou Shangai. A formação, a educação e a aprendizagem mudou para as nossas próprias mãos, sendo esta mudança de proporções impensáveis há décadas atrás. Angola e a sua juventude tem que aproveitar esta oportunidade!
Até que ponto as empresas que operam no mercado angolano reconhecem a importância de adoptar as melhores práticas e estarem ligadas aos principais circuitos de telecomunicações, tirando assim proveito das vantagens proporcionadas pela tecnologia?
As empresas e os negócios em Angola continuam com procura crescente de largura de banda elevada, porque o País tem mais soluções robustas de telecomunicações, quepermitem significativas alterações nos seus negócios. Por exemplo, podem realizar reuniões em vide-oconferência com parceiros, podem fazer o “procurement” de matérias-primas ou formas de fazer negócio de custo muito reduzido e à distância dum clique.
Quais são os produtos e serviços de telecomunicações mais procurados no mercado angolano? Por quê?
A conectividade à internet, serviço de VPN ( Rede privadas virtuais configuradas sobre o acesso à internet) e, recentemente, serviços de utilização de Datacenter, continuam a crescer significativamente apesar do actual estado da economia.
A digitalização das economias, com aumentos de eficiência e rapidez dos processos e negócios continua a acelerar a nível global, mesmo se for feito a diferentes velocidades e, Angola, claramente acompanha essa tendência.
Perspectivas sobre o mercado As maiores economias estão a migrar para o digital, com processos de controlo remoto, cloud, automatização e robotização. Quando é que Angola terá condições de implementar estas soluções?
Alguns operadores no mercado, no qual se encontra a ITA, começam a ter soluções muito robustas que permitem dar passos nessa digitalização. Temos oferta de cloud services para os nossos clientes e iremos estender o número de funcionalidades em breve.
Existem já algumas empresas nacionais a utilizar algumas dessas soluções, passando por localização de viaturas a qualquer momento, ou intervenções remotas nacionais e internacionais em linhas de enchimento por exemplo.
A robotização e a automatização vão aparecer com o crescimento de alguma industrialização e transformação nacional. Nos novos projectos de investimento devemos sempre levar em conta a utilização das novas tecnologias, de modo a tornar o negócio mais eficiente e não num conceito de “shine and nice to have”.
No quadro da 4ª revolução industrial, a economia é essencialmente suportada pelas plataformas de telecomunicações. Angola está a construir infra-estruturas que vão permitir sustentar uma economia digital? Que futuro antevê?
Na realidade, a minha percepção é que o País necessita de uma 2ª vaga de investimentos de optimização das infra-estruturas de telecomunicações existentes, que possam colocar Angola num patamar de base bastante bom para acelerar a nossa economia digital. Os nossos jovens empreendedores necessitam disso para um futuro melhor.
Com o aumento de usuários dos produtos e serviços de telecomunicações, acredita que haverá uma redução substancial dos preços das telecomunicações em Angola?
Os preços de telecomunicações em Angola poderão ser rapidamente reduzidos com ajuda de dois factores: a introdução de maior concorrência privada, colocando o Estado num papel menos interveniente e mais regulador e facilitador.
O sector em Angola continua com uma participação significativa do Estado e essa situação deve ser alterada, de forma a acelerar os investimentos e criar um mercado mais eficiente e competitivo. Um segundo factor: deve ser realizada a partilha de infra-estruturas ou parcerias efectivas e reais, de modo a reduzir os custos operacionais de vários operadores de telecomunicações. Ter várias redes de cobertura nacional, do ponto vista económico, não faz sentido.
Quando teremos condições de criar aqui um importante mercado de comércio online e quais são os seus potenciais benefícios?
Na realidade, poderíamos realizar o comércio online desde já, havendo alguns exemplos nacionais disso. A questão até passa mais por uma condicionante financeira e não digital. Na minha opinião, as empresas de maior impacto em África serão de conceito misto (digital/ físico), ou seja, serão “Mini Amazon” locais. Neste caso, necessitaria de armazém e stock físico para a distribuição local (e porque não com drones via encomenda online?). Esta fórmula de sucesso necessita de investimento inicial significativo, mas com retorno rápido. Deixo aqui o desafio!
Para si, até que ponto é importante a inserção das micro e pequenas empresas tecnológicas em plataformas como a da ITA?
Muito importante, dado que o tecido empresarial em Angola é maioritariamente PME. Nesse contexto estamos a finalizar um programa em que iremos disponibilizar espaço nos nossos servidores para Startups Angolanas, acelerando a sua capacidade digital e consequentemente o seu negócio. Estamos ainda a estudar novas tecnologias wireless para as pequenas empresas com custos reduzidos e rápida adopção.
Questões de perfill
Quais são os seus principais desafios como DG de uma das maiores empresas angolanas de telecomunicações?
Os desafios são múltiplos, mas, antes de tudo, gostaria de ensinar e deixar a minha vasta experiência de gestão a todos aqueles com quem trabalho, muito assente no foco ao cliente, no trabalho em equipa e no aumento de elevada eficiência e agilidade da organização. Outra variável do meu desafio é fazer crescer a empresa não só em termos de valor, mas de adicionar serviços de valor acrescentado, que permitam acelerar muitas empresas Angolanas no caminho da transformação digital. Esta digitalização é uma realidade presente e em aceleração a nível mundial e consequentemente em Africa e Angola, particularmente.
Mesmo em momentos de euforia económica, devemos manter o foco na eficiência e muitas vezes na eficácia das soluções entregues ao cliente para que, no caso de baixa ou recessão económica (que acontecem regularmente e de forma mais acentuada em mercados como o Angolano), a empresa mantenha a agilidade para se adaptar e manter a sua sustentabilidade que, no fundo, é o garante dos seus colaboradores e suas famílias.
Como descreve o seu percurso profissional, sobretudo as experiências que vem fazendo em Angola?
O percurso tem sido rico em experiências positivas, outras menos, que têm enriquecido a minha experiência profissional e pessoal. Em resumo, muita aprendizagem, que é o mais importante de tudo! Acredito que a minha gestão e experiência têm sido muito interessantes para os jovens Angolanos e futuros líderes deste país, em termos de foco no cliente, rigor na gestão e resultados comprovados que não aparecem por acaso, mas devido a planeamento, boa execução, bom senso e trabalho em equipa. Acredito que esta partilha e contributo do meu conhecimento vai moldar muitos bons jovens Angolanos a terem sucesso no seu futuro!