Mais de 150 mil empregos em risco na hotelaria e similares

Mais de 150 mil empregos em risco na hotelaria e similares

Qual é a situação actual do sector hoteleiro em plena crise de Covid- 19?

A situação no sector da hotelaria é grave, principalmente porque é o sector mais afectado por ter as portas fechadas na ordem dos 70% das unidades, sendo que algumas já estão com facturação zero. Se os hotéis já vinham de uma crise desde 2014, quando a crise se foi agudizando, permanentemente, por falta de turistas, significa dizer que os hotéis não tinham poupanças e mais do que isso a maior parte deles estavam já na linha vermelha, ou seja em prejuízo, sem capacidade para pagar salários, impostos, segurança social, IPU e etc..

O que acontece agora é que com as portas fechadas, com as taxas de ocupação bastante baixas, na ordem dos 10 a 20%, os hotéis neste momento com as portas fechadas, piorou a situação.

Mesmo fechadas têm gastos operacionais com segurança, luz, água, manutenção e limpeza, etc. É uma questão muito difícil que pode levar a que muitas empresas desapareçam completamente.

Contas feitas, ainda há alguma ocupação dos nossos hotéis. Esta franja mínima de ocupação de cerca de 20% quem são?

São maioritariamente aquelas pessoas que estão em quarentena e as companhias petrolíferas e ou empresas que sempre estiveram no mercado a prestaram consultoria e garantiam uma certa taxa de ocupação.

Quantas pessoas têm os empregos tremidos?

Estamos a falar em estimativa de cerca de 150 mil pessoas.

O que o sector está a propor ao governo diante das dificuldades em curso?

Primeiro não contávamos que o estado de emergência viesse a ser prorrogado e prorrogada cada vez mais. Mesmo assim, se calhar as nossas propostas devem ser revistas. Nesta altura, não sabemos quando é que voltamos a ter nova prorrogação. Agora estamos a entrar numa época em que sempre tivemos baixa, que é o período de frio altura em que as pessoas usam menos os nossos serviços, como deverá compreender as pessoas ocupam menos os hotéis, não vão as zonas balneares e etc., etc.. Como saberá, a nossa cadeia hoteleira, por exemplo, está concentrada na zona do litoral e tem a praia como uma das principais atracções.

Estão atentos aos exemplos que decorrem noutras latitudes, onde começaram a ser adotadas alternativas originais como são os casos do selo em Portugal ou os cubículos de vidro na holanda?

Sim, estamos. Nesta altura a AHRA e parceiros fizemos a proposta de adotarmos também um selo, à semelhança de Portugal, relativamente àqueles cubículos translúcidos como os da Holanda, na verdade são boas soluções técnicas, mas o que se passa é que em latitudes onde estão a ser implementadas, o estado acudiu o sector hoteleiro com dinheiro, em forma de apoio e financiamentos. Com o tipo de apoio que esta a ser dado naquelas paragens é possível mandar fazer aquilo e mais outras propostas originais com recurso a alumínio e vidro. Qualquer empresa com alguma capacidade técnica é capaz de fazer aquilo e não deve ficar muito caro, mas passa por ter dinheiro para mandar. Agora para quem já não tem para pagar salários imagine mandar fazer 10 cubículos daqueles que dariam apenas para 20 pessoas. Podes imaginar que fica duro no nosso contexto.

Podem ser encontradas muitas medidas para ajudar a mitigar a situação. O que precisamos é colaboração entre o Executivo e o sector.

Coloca-se também a questão da clientela, tendo em conta que há limitação de circulação de pessoas. Na verdade as pessoas são no fundo os clientes?

É complicado. A província que mais emite turistas que ocupam os hotéis é Luanda. O grosso de turistas para o interior parte de Luanda. Raramente as pessoas nas restantes províncias saem das suas casas para ocuparem camas de hotéis e similares na sua própria periferia. Chega a não fazer sentido. Portanto, temos uma situação muito difícil. O Estado tem de estudar uma situação, de implementação imediata que seguramente não deverá ser financiamento ao nosso sector.

O hotel pode dizer: vou buscar dinheiro para me financiar com taxa de juros que podem chegar aos 9%, mas depois é mais uma dívida que tem e diante da situação de falta de cliente retrai-se por não saber como vai pagar. Ora, entre manter a situação actual e ou atrair mais um problema a escolha é fácil.

Portanto, a solução vai para além disso. Podíamos aventar a possibilidade de perdoar as dívidas com a Segurança Social, ou aceitar as propostas que fizemos que são a retirada do Imposto Predial Urbano (IPU), porque achamos que este imposto é o instrumento de trabalho das unidades hoteleiras.

Temos de encontrar medidas originais, não apenas agora mas, também pensando no pós-Covid- 19, altura em que as unidades terão um elevadíssimo passivo.

Propostas de medidas pda AHRA – ara al+ivio da crise no sector

Tendo em conta as Medidas Imediatas de Alívio dos Efeitos Económicos e Financeiros Negativos Provocados pela Pandemia do COVID 19 aprovadas muito recentemente pelo Governo; Considerando que o impacto dessas medidas são manifestamente insuficientes face à dimensão da actual crise que provocou o encerramento da maior parte da rede hoteleira do país, em virtude do estado de emergência, face ao Corona Vírus;

Constatando-se que os hotéis já se encontravam em situação difícil face à agudizada crise no sector do turismo em Angola nos últimos 5 anos; A AHRA (Associação de Hotéis e Resorts de Angola), propõe ao Governo a adoção das seguintes medidas:

1. Isenção de pagamento de gasóleo, principalmente nas zonas onde as unidades hoteleiras e restaurantes funcionam apenas com Gerador, ou num máximo de 30% de energia alternativa, electricidade e água, durante dois meses.

2. Pagamento dos salários de dois meses, partindo do princípio que em Junho as empresas retomam a sua actividade.

3. Face aos pagamentos ao Estado, a AHRA propõe um período de carência de seis meses para obrigações relativas aos pagamentos do IVA, da Segurança Social e do IPU, e outros compromissos para com a Autoridade Tributária. consubstanciado também ao período de baixa sazonal da actividade do turismo nos meses de Junho a Setembro.

4. Isenção de pagamento das Comunicações de Voz e Dados durante dois meses.

5. Pagar, no mínimo, 70% do Preço de Alimentos e das Tarifas dos Quartos a serem disponibilizadas à Quarentena e às Equipas do Ministério da Saúde e das FAA.

6-Pagamento adiantado de 50% aos hotéis que mantenham relações com o Estado e que eventualmente hospedem clientes no âmbito da Covid-19, para fazerem face às despesas diárias e gastos operacionais.

7-Suspender por um período de seis meses o pagamento dos atrasados dos Impostos a AGT e ao INSS.

8-Pagamento da dívida interna do Estado aos hoteleiros para criar capacidade financeira face à crise.

9-Adequação do processo de “lay off” por um período de carência nos pagamentos ao Estado e à banca por parte dos hotéis e restaurantes, obrigados a fechar as portas para evitar a propagação do coronavírus.

10-Reforço financeiro à tesouraria das empresas, através de microcrédito, que não passe directamente pelo sistema bancário. Isto deve-se ao facto de haver, neste sector, muitas pequenas empresas, grande parte das quais de carácter familiar, pelo que é fundamental adequar as medidas a esta realidade.

11-A AHRA solicita a suspensão e prorrogação do calendário de responsabilidades das empresas de hotelaria e restauração que tenham compromissos bancários como forma do sistema financeiro angolano contribuir para a recuperação e manutenção de milhares de empresas e postos de trabalho.

12-Face à necessidade de evitar o contágio da Covid 19, houve uma redução substancial dos trabalhadores em cerca de 70% e têm-se sucedido o encerramento constante da rede hoteleira para proteger os trabalhadores e de contribuir para o esforço colectivo do país nas disposições decorrentes do Estado de Emergência.

A AHRA solidariza-se com a decisão dos que já encerraram os seus hotéis, sublinhando o esforço dos que ainda não o fizeram, que deverão estar sob a orientação das autoridades competentes, para acolher e alimentar a população, doentes, profissionais de saúde e todo o sistema de protecção civil, apoiando assim todos os que estão na primeira linha de combate à Covid-19”.