Research Atlantico: “Os indicadores do sector bancário no 1º semestre de 2018”

Research Atlantico: “Os indicadores do sector bancário no 1º semestre de 2018”

As alterações nos fundamentos CARLOS AUGU STO/arq uivo macroeconómicos, prudenciais e regulamentar, refletem-se na rentabilidade das instituições financeiras e na capacidade de absorção dos choques adversos do sector bancário. Com efeito, a execução do Plano de Estabilização Macroeconómica (PEM) do Executivo, através do ajustamento em baixa das despesas públicas, reafectação dos recursos, alteração do padrão do investimento e consumo, aliada a recuperação da confiança nas instituições públicas, estarão a contribuir para o desempenho positivo do sector bancário

POR: Atlantico

Nesta perspectiva, o Banco Nacional de Angola disponibilizou os indicadores de solidez financeira do sector referentes ao ano corrente, que sugerem um desempenho positivo de alguns indicadores como o de solvabilidade, rentabilidade e liquidez. Destaca-se que a rentabilidade do patrimônio líquido (ROE) atingiu 18,9% durante o mês de Junho, um aumento de 5,3 p.p. desde o início de 2018 e 14,7 p.p. face ao período homólogo. Paralelamente, o nível de lucratividade, medido pela rendibilidade do activo (ROA) que se situou em 3% durante o período acima referenciado, corresponde a um incremento de 1,2 e 2,4 p.p. face a Janeiro e ao período homólogo, respectivamente Semelhantemente, o indicador que mede a liquidez constituída pelos activos líquidos sobre o passivo de curto prazo seguiu a mesma tendência, situando-se em 55%, mais 1,7 p.p. em relação ao período homólogo.

O desempenho do indicador poderá reflecti a política monetária contraccionista do BNA, que tem como principal objectivo conter a liquidez de formas a reduzir a pressão sobre às taxas de câmbio e inflação. Por seu turno, o crédito vencido mal parado referente ao mês de Junho atingiu 33,2% do total do crédito bruto, um incremento de 5,6 p.p. face ao nível registado no período homólogo. O agravamento do indicador tem sido justificado pelos constrangimentos macroeconómicos, reflexos da contracção da actividade económica, aumento do nível geral de preços, redução do nível de emprego na economia e incremento dos défices públicos, com efeitos sobre as taxas de juro passivas e na execução de projectos públicos e privados. Neste sentido, o rácio de transformação mantém-se acima de 50%, o que sugere um aumento do crédito concedido superior aos depósitos captados, que poderá ser justificado pela redução do rendimento disponível das famílias, empresas e do sector público.

O peso do crédito ao sector público sobre o crédito total tem registado tendência ascendente situando- se em 11,6% em Junho do ano corrente, uma variação de 1,5 p.p. em relação ao período homólogo, o que poderá refletir o menor risco de concessão de crédito ao Estado – O binómio retorno e risco nas carteiras de crédito dos bancos comerciais numa conjuntura económica adversa e incerta, penalizada pela fraca rentabilidade dos projectos de investimento alternativos na economia e elevados custos de intermediação financeira, estarão a condicionar a oferta de crédito na economia -. Por outro lado, o peso do crédito ao sector privado tem seguido tendência contrária ao reduzir 1,5 p.p., situando-se em 88,4% no período acima referenciado, o que poderá demonstrar uma maior preocupação dos bancos comerciais na concessão do crédito em virtude dos elevados riscos de incumprimento por parte dos devedores. Neste sentido, o spread bancário, a diferença entre as taxas de juro activas e as passivas, registou um aumento considerável nos últimos meses, justificado, fundamentalmente, pela evolução das taxas de incumprimento na economia e o desvio do crédito do sector privado para o público.

Os dados disponibilizados pelo BNA demonstram que o spread variou de 25,3% em Junho de 2017, para 22,9% em Janeiro e fixou-se em 25,6% no mês de Abril (os dados referentes aos últimos dois meses estão indisponíveis). No entanto, as recentes decisões do Comité de Política Monetária (CPM) poderão corrigir o hiato verificado entre as taxas activas e passivas, ao impulsionar a liquidez no mercado através do aumento da massa monetária em circulação na economia, com efeitos sobre as taxas de juro. Importa ressaltar, que as últimas medidas adoptadas são claras indicações do abrandamento da política monetária contraccionista, por parte do regulador.

A garantia de um sistema bancário estável, robusto e solvente é determinante para o normal funcionamento da economia e para a promoção do desenvolvimento do país. Assim sendo, a melhoria contínua dos indicadores de rentabilidade, solvabilidade e liquidez é primordial para a manutenção e aprofundamento da confiança das famílias e empresas no sector. Diante dos constrangimentos macro e micro-económicos apurados nos últimos quatro anos, a introdução de mecanismos fiscais, monetários, cambiais e prudenciais deverão contribuir para a melhoria da concessão de crédito, realização das operações de tesouraria e cambial e para a prestação de serviços com segurança e qualidade às famílias, empresas e Estado.